Medicina Tradicional Chinesa: um guia prático

O que você encontrará neste artigo:

História e filosofia

Imagine a seguinte cena: você deitado em uma maca com o corpo cheio de agulhas aguardando pacientemente por alguém que as retire e te libere para suas atividades do dia a dia. Parece cena de um filme de terror, certo? Errado. Você está adentrando ao mundo da Medicina Tradicional Chinesa (MTC) e sua vertente mais conhecida, a Acupuntura.

Aos poucos, essa prática chinesa milenar vem se consolidando por todo o mundo como uma das terapias mais procuradas por inúmeras pessoas para os mais diversos males. Com eficácia assegurada nos dias de hoje, não se sabe ao certo quando a Medicina Tradicional Chinesa surgiu, mas acredita-se que tenha surgido há mais de 2500 anos. Uma das menções à MTC mais antigas remetem ao "Livro do Imperador Amarelo - Nei Jing" de cerca de 300 a.C., na qual pode-se encontrar citações a vários agravos à saúde e tratamentos com pontos de Acupuntura. Tal livro ainda é estudado nos dias de hoje por Acupunturistas do mundo inteiro, sendo considerado um clássico da prática milenar. Mas mesmo assim, ainda hoje não se sabe como enfim descobriram que certos locais do corpo podem ser estimulados para produzir efeitos desejados. E isso ainda vai permanecer um grande mistério.

"As raízes da filosofia empregada estão fincadas no Taoísmo e na relação harmônica do homem com a natureza"

Para se entender um pouco sobre a MTC e Acupuntura é necessário expandir um pouco a mente e encarar a vida de outra forma. As raízes da filosofia empregada estão fincadas no Taoísmo e na relação harmônica do homem com a natureza. Essa interação se dá graças a uma força invisível aos olhos físicos, mas que permeia o meio ambiente e o corpo humano: a Energia.

A energia é conhecida em várias culturas orientais (na China, denominada de Ch'i; na Índia de Prana) e a sua influência em nosso corpo é o que determina o aspecto saudável de se viver. Olhando para a natureza, os antigos médicos chineses notaram padrões de harmonia semelhantes em constante relação com o corpo humano, diversificando aspectos diferentes da energia (aqui a partir de agora chamada de Qi), denominados Yin e Yang, os opostos que interagem e se transformam entre si.

A variação do equilíbrio do Yin e Yang, pertinente ao Qi, que se observa na natureza e no ser humano é a base da Medicina Tradicional Chinesa e os métodos terapêuticos empregados visam estabelecer essa harmonia entre esses elementos primordiais da filosofia de tal prática médica. Logo, quando um acupunturista insere uma agulha no seu corpo, ou quando você faz uma massagem específica, toma um chá direcionado, pratica uma arte marcial ou medita, você está estimulando a circulação adequada de Qi no seu organismo. E isso pode ser feito por outra pessoa (Acupuntura, moxa, auriculo,etc.) ou por você mesmo (meditação e práticas corporais). Meio difícil de acreditar, não? Mas essa é a "filosofia" por trás da Medicina Chinesa, um conceito que vai de acordo com um modo específico de ver a vida.

Sabendo disso, pode-se presumir que a Medicina Chinesa deve ser usada no seu aspecto terapêutico curativo e preventivo? Claro! O Qi deverá circular em nosso corpo em harmonia para que não adoecemos e as práticas da MTC propiciam isso. De uma certa forma o conceito energético empregado aqui nada mais é que uma ênfase à vida saudável, isto é, mais um argumento de que a saúde plena depende de atividades físicas e mentais, além de auxílio para atingir tal satisfação. Viu só que interessante?

A acunputura 

Mulher fazendo acupuntura

Se alguém pensa em Medicina Chinesa, a vertente mais popular é a Acupuntura. Tão antiga quanto os conceitos da filosofia chinesa, a acupuntura emprega a estimulação de pontos específicos e pré determinados no corpo para que ocorra um efeito desejado através de uma melhor circulação da energia (Qi).

Técnica milenar que, segundo estudo, em seus primórdios utilizava varas de bambu ou fragmentos de madeira para estimulação, na era moderna emprega agulhas finas de metal, dos mais variados tamanhos, cuidadosamente colocadas sobre os acupontos, ou seja, pontos localizados nos Meridianos que permeiam o corpo.

"Acupuntura e suas agulhas devidamente inseridas, servem para o tratamento de qualquer problema de saúde, físico, mental ou emocional, e não somente par dores"

O conceito dos Meridianos é amplamente discutido frente às pesquisas contemporâneas sobre Acupuntura, pois os mesmos nunca foram provados cientificamente sobre a sua existência. Segundo a teoria clássica, o corpo humano é forrado em sua superfície por canais que correspondem em grande parte, a órgãos internos e podem ter trajetos internos associados. Tais canais, os denominados meridianos, possuem pontos conhecidos com efeitos específicos. Tais ações levam ao efeito desejado pelo terapeuta, que pode variar desde um alívio doloroso até uma paz interior (sim, é possível). Logo, a Acupuntura e suas agulhas devidamente inseridas, servem para o tratamento de qualquer problema de saúde, físico, mental ou emocional e não somente para dores, como a maioria das pessoas pensa de imediato.

Conheça os 10 benefícios da acupuntura

A sessão de acupuntura, baseia-se nessa teoria do Qi, amplamente discutida por aqui, e por isso deve durar cerca de trinta minutos, pois na teoria chinesa, esse tempo seria o necessário para a circulação completa da energia pelo corpo. Durante a sessão, o paciente fica com as agulhas devidamente colocadas e após o término da sessão, as mesmas são retiradas e o paciente é liberado. A periodicidade da sessão varia de acordo com o problema do paciente e a modalidade terapêutica exercida pelo acupunturista, mas geralmente é semanal. O tamanho das agulhas e a reutilização das mesmas depende de cada profissional. Os locais de inserção das agulhas também podem variar de acordo com o problema em questão e a forma de tratamento pensada para o caso (se você tiver uma dor nas costas, por exemplo, nem sempre as agulhas vão ser inseridas onde dói, pois o conceito é permitir uma melhor circulação do Qi no meridiano acometido e cada um deles tem vários pontos que podem ser utilizados, certo?).

A acupuntura não tem restrição de idade (porém vamos pensar: nem toda criança consegue ficar espetada com um monte de agulhas por 30 min, logo, em crianças e pacientes que tenham fobia de agulha, usa-se a Auriculoterapia, que será discutida em outro tópico). Também não há restrições específicas de modo de vida após uma sessão de acupuntura. Em gestantes, dependendo do problema a ser tratado, evita-se certos pontos de acupuntura que podem ocasionar problemas gestacionais, mas de uma maneira geral também pode-se tratar e em alguns casos, a acupuntura vira um arsenal terapêutico primordial nas pacientes que não podem tomar medicamentos. A acupuntura pode ser dolorosa? Sim. Alguns pontos (como mãos e pés) podem ser mais dolorosos, mas nada fora do comum e plenamente suportável. Em geral a acupuntura é bem tolerada em relação a dor.

Níveis da MTC

A Medicina Tradicional Chinesa oferece uma ampla gama de modalidades terapêuticas que são indicadas pelo profissional específico de acordo com a natureza do problema do paciente ou mesmo desejo terapêutico.

Basicamente, são denominados níveis terapêuticos da MTC as mais diversas modalidades de tratamento, sendo que os níveis vão das práticas mais "físicas", até as mais "sutis". Como assim? Vamos explicar:

No primeiro nível terapêutico estão as práticas corporais na qual o terapeuta utiliza suas mãos para melhorar a circulação energética. Neste nível encontramos a Tui Ná, Acupressura.

No segundo nível, usam-se ervas e produtos animais e minerais para tratar o paciente. Como exemplo, temos a fitoterapia chinesa.

O terceiro nível, é o da acupuntura. Aqui incluimos moxabustão, acupuntura com agulhas, auriculoterapia, acupuntura a laser e eletroacupuntura (os 3 últimos bem mais modernos e "ocidentalizados").

No quarto nível, existe a projeção de energia Qi dentro das agulhas, meridianos e órgãos internos. Este é o nível mais alto de habilidade de cura e que requer anos adicionais de treinamento e prática na China antiga. Nesse nível, também existem práticas não creditadas exclusivamente da Medicina Tradicional Chinesa, mas que também abordam o conceito da circulação do Qi que valem menções, como o Reiki, a Terapia Prânica, dentre outros.

Todas as informações contidas neste tópico são ensinamentos decorrentes de anos de estudo do pai da Terapia Prânica moderna, Grand Master Choa Kok Sui, um profundo conhecedor e desbravador na Ciência Chinesa e práticas de manipulação do Qi, na qual eu gostaria de agradecer aqui.

Auriculoterapia

Há séculos a Acupuntura auricular já vinha sendo utilizada como estratégia terapêutica para inúmeros problemas de saúde, estimulando regiões específicas da orelha junto a observações de alterações cutâneas visuais locais do pavilhão auditivo, correspondentes a doenças do indivíduo. A identificação das alterações de órgãos e víceras (Zang Fu) é uma das principais bases da Auriculoterapia, na qual há a estimulação de pontos específicos na orelha (com sementes ou até mesmo agulhas específicas) para obtenção de melhor circulação de Qi nos Zang Fu, representados por toda a sua superfície.

Popularizada no Ocidente graças à escola francesa, a auriculoterapia hoje é uma prática muito adotada por vários terapeutas por ser menos dolorosa (no caso da estimulação com sementes) e muito utilizada em crianças e pacientes que não suportam o tratamento convencional com agulhas pelo corpo.

Alguns acupunturistas utilizam a auriculoterapia como uma terapêutica coadjuvante à acupuntura sistêmica, devido ao fato da estimulação do pavilhão auditivo lidar em grande parte somente com o conceito dos Zang Fu e não tanto com a alteração do Yin, Yang e os 5 elementos (que serão discutidos em artigos a parte, ok?), porém outros terapeutas a utilizam exclusivamente como terapia principal. Há controvérsias e essa escolha e definição depende muito do profissional capacitado, mas em geral é uma excelente técnica com grande utilidade.

Quando realizada com sementes, as mesmas são colocadas em locais pré-determinados nas orelhas, grudadas com adesivos e estimuladas diariamente pelos pacientes através de uma leve pressão sobre o local. Após a queda, normalmente espontânea, as sementes são recolocadas pelo acupunturista.

Acupuntura a Laser

A medicina ocidental considera que nos pontos de acupuntura existe uma maior quantidade de tecido nervoso (nervos, transmissões nervosas, plexos nervosos, sensores espiralados tendinomusculares), e isso justificaria o efeito da inserção da agulha em tais locais. Logo, qualquer forma de estímulo em tais pontos poderia surtir um efeito, mesmo não colocando as agulhas. E esse é o preceito por trás da Laserterapia em Acupuntura.

O Laser foi desenvolvido a partir das teorias de Albert Einstein. O primeiro aparelho colocado em ação foi o de Bastão de Rubi, construído por Maiman, no laboratório da Hughes, em 1960. Desde então, a sua utilização vêm aumentando em várias esferas da medicina, tanto em procedimentos cirúrgicos como em terapias.

O Laser utilizado em questão é de baixa intensidade, isto é, baixo efeito térmico, logo não produz queimaduras ou cortes (como os lasers utilizados em cirurgias). São lasers de comprimento de onda de 660mm (vermelho) que geram um mínimo de calor na pele, sensação esta semelhante ao procedimento de Moxabustão. Não há contato com a pele. Somente uma leve sensação, tornando o método bem aceitado por grande parte dos pacientes, inclusive crianças, porém não muito utilizado por grande parte dos acupunturistas devido ao custo do aparelho.

A ação do laser no corpo também envolve efeitos analgésicos e anti-inflamatórios, além dos efeitos pregados pela Medicina Tradicional Chinesa clássica de estimulação dos pontos de acupuntura (acupontos). É muito utilizado em casos de dores osteomusculares, além de alterações emocionais. Pode ser vermelho ou verde, dependendo da intensidade do feixe utilizado.

Moxabustão

Pessoa fazendo moxabustão

Mais uma técnica empregada pelos terapeutas da milenar medicina tradicional chinesa, a moxabustão ou simplesmente moxa, tem como princípio a melhora da circulação da energia (Qi) pelo corpo através da estimulação, via calor, dos pontos de acupuntura tradicionais.

A sua origem é do norte da China, e o termo na linguagem tradicional é Jiu (pinyin), cujo significado é “fogo contínuo”. A moxa pode ser utilizada sob a forma de carvão mineral ou mesmo ervas específicas, como a Artemísia sinensis e Artemísia vulgaris.

"A indicação deve ser bem criteriosa e realizada por acupunturista experiente"

Pelo fato da queima dessas ervas ou até do carvão produzir um calor, considera-se a moxabustão uma técnica na qual a energia Yang é amplamente utilizada para fortalecer o Qi do indivíduo e prover melhor circulação, logo deve ser restrita a casos de deficiência da energia Yang e outros estados deficitários energéticos (não incluso a deficiência de Yin, que por tabela leva a um falso aumento do Yang, o que agravaria o quadro com tal técnica), pois seu uso indiscriminado e mal diagnosticado pelo acupunturista, pode não ser tão benéfico ao paciente. Portanto não pense que a moxa pode ser utilizada em todos os casos. A indicação deve ser bem criteriosa e realizada por acupunturista experiente.

A moxabustão pode ser Direta, quando é utilizada diretamente sobre a pele, na qual é colocada no formato de pequenos cones com a erva triturada e amassada ou mesmo indireta, quando não encosta na pele e o estímulo se dá graças a bastões de erva prensada (semelhante a charutos) ou mesmo o próprio carvão mineral (este inodoro, indicado para pacientes que também possuem problemas respiratórios, já que a erva produz um odor específico). Normalmente, na aplicação indireta, o próprio dedo do acupunturista serve de referência para saber se o local está bem aquecido ou não, com o intuito de não causar dor aos pacientes.

A moxabustão também pode ser realizada com as agulhas de acupuntura já inseridas (nesse caso, pode-se utilizar sobre a agulha) ou mesmo associada a ventosas.

Qi Gong e Tai Chi

As Práticas corporais dentro da Medicina Tradicional Chinesa são amplamente utilizadas para tratamento e prevenção dos mais diversos agravos à saúde. Baseiam-se assim, como toda a medicina chinesa, na circulação do Qi (energia) pelo corpo e na relação desta com a natureza e o mundo a nossa volta. Quando se utiliza o Qi por meio da prática corporal específica, automaticamente acessa-se a energia que está em volta de nós e a circula de modo intenso, aproveitando ao máximo tais recursos naturais.

Acredita-se na influência direta da cultura indiana na origem das práticas corporais da Medicina Tradicional Chinesa. A Yoga milenar e suas mais variadas vertentes físicas, respiratórias e mentais influenciaram os antigos chineses por volta do século V na qual iniciaram a prática do Kung Fu Shaolin e daí derivam o Tai-Chi, o Wu-Chu, o Qi-Gong (China).

Saiba qual é o processo do adoecimento

As práticas corporais na China antiga, sofreram interferências de vários movimentos. Os taoístas e confucionistas, a empregaram com o objetivo de equilibrar a saúde, relaxando e centralizando seus pensamentos e emoções, que de modo desordenado, poderiam gerar doenças. Era portanto uma atividade mental por excelência. O conceito da prática física foi empregado pelos antigos médicos chineses, que entenderam que não somente as práticas meditativas poderiam oferecer o bem estar necessário à saúde do indivíduo.

A movimentação do corpo ajudaria a promover uma melhor circulação do Qi, e esse conceito médico é um dos pilares da medicina chinesa, surgindo o Qi Gong, Liam Gong, Lien Chi, dentre outros. Logo, os exercícios complementariam as outras estruturas básicas da Medicina Chinesa (Acupuntura, fitoterapia). A partir dessa escola médica, as práticas corporais foram implantadas no sistema de saúde vigente há milênios. Por outro lado, os monges praticantes de artes marciais da escola Shaolin, perceberam que esses conceitos tornariam as práticas físicas melhores e mais efetivas, e surgem, dentro das artes marciais, movimentos de Qi Gong para aumentar sua efetividade. Logo, as práticas corporais passaram por várias vertentes e com isso misturaram-se à cultura oriental, vigente até os dias de hoje.

Qi gong
O Qi gong (ou Chi kung e quer dizer, "cultivar ou circular a energia") é a prática corporal clássica da medicina chinesa, e dele surgiram várias outras técnicas (Liam Gong, Lien Chi, etc) que visam justamente esse aproveitamento do Qi, logo ele não é somente um exercício físico, mas sim uma maneira de Transcender o ser, em uma visão mais holística da vida.

O conceito da circulação do Qi pode ser até mais amplo, sendo que o praticante pode até direcionar a energia para partes do corpo que ele deseja tratar ou simplesmente promover um melhor fluxo. Esse conceito é o que está por trás das artes marciais orientais, como por exemplo o Tai Chi.

Tai Chi
Tai Chi ("fim supremo"), originalmente foi desenvolvido no século XIII e é muito mais do que uma arte marcial. Através de seus movimentos específicos e lentos, o praticante consegue se conectar à sua energia superior, aliando-se a grande força que permeia o universo.

O Qigong, o Tai Chi, as artes marciais (Aikido, kung fu e etc) permitem ao praticante alterar positivamente o fluxo energético, promovendo uma harmonia do corpo, bem como de sua saúde e, indo mais longe, propiciando uma melhor relação do indivíduo com o universo além do cultivo da paz interior.

O foco principal das práticas corporais é melhorar o espírito, o ser, graças à atividade física específica. O movimento, aliado a respiração, promove uma maior absorção do Qi e circulação do mesmo, junto com uma concentração adequada, poderia expandir o nível de consciência e tal processo leva ao bem estar físico e mental. Podem ser praticadas por qualquer indivíduo, não havendo restrições, porém devem ser orientadas e praticadas.

Fitoterapia Chinesa

Vamos pensar da seguinte maneira:

Segundo a filosofia que rege as práticas da Medicina Tradicional Chinesa, o corpo humano, assim como o ambiente que nos cerca, é tomado de energia, denominada Qi, certo? Essa energia está em todo o lugar e interage com o nosso corpo, tanto é que podemos controlá-la com movimentos (Qi Gong e Tai chi, por exemplo), com inserção de agulhas e estimulações de pontos específicos e também com a alimentação.

A alimentação é um dos principais provedores de Qi para o organismo e dessa forma, os alimentos sólidos ou líquidos, possuem propriedades energéticas que podem interferir no nosso corpo. Tais propriedades seguem a regra básica do Yin e do Yang, isto é, existem componentes na natureza, que em determinados momentos possuem propriedades mais Yin do que Yang e vice-versa, lembrando sempre que tanto Yin como Yang podem transmutar e se transformam um no outro. Logo, o que a gente ingere interfere no nosso Qi e também nos níveis de Yin e Yang, que, como já vimos antes, em níveis desequilibrados podem ocasionar problemas de saúde, tanto na esfera energética quanto na física.

Com esse adendo, já fica mais fácil entender a fitoterapia chinesa. Ela busca sempre o equilibrio do indivíduo e não tanto em cura , pois o organismo busca a auto cura. O importante é suprir o que falta naquele momento, através de ervas e plantas medicinais (daí o nome Fitoterapia).

"[...] Bem semelhante à alquimia, isto é, precisa-se conhecer cada planta, cada erva [...]"

De origem antiquíssima, a fitoterapia é bem semelhante à alquimia, isto é, precisa-se conhecer cada planta, cada erva, sua propriedade energética e os efeitos na administração conjunta entre elas, para que possamos suprir algum déficit energético do paciente ou mesmo promover a prevenção dos agravos. Esse conhecimento se dá graças às propriedades energéticas que cada erva possui frente à circulação do Qi e do sangue (Xue) no corpo.

Na Fitoterapia Chinesa existe uma erva Imperador, que vai determinar a ação da fórmula, as ervas Ministros, que ajudam a potencializar a ação do Imperador, as ervas Assistentes que atuam promovendo o bem-estar da pessoa e cuidam do estômago para que este receba a substância, e as ervas Mensageiras que levam as demais para o local a ser tratado.

Graças aos conhecimentos sobre o Yin e o Yang, pode-se subdividir as plantas em quentes, frias, mornas e frescas, ou mesmo ácidas, amargas, doces, salgadas e picantes (estes sabores relacionados aos 5 movimentos, que compõem a teoria clássica da medicina chinesa). Cada um desses sabores e propriedades térmicas tem um efeito sobre a circulação do Qi e Sangue no corpo. Por exemplo, o gengibre é considerado uma erva quente (que junto com o morno tem propriedade mais Yang) e serviria para aumentar a energia Yang do corpo (tonificar o Yang) e eliminar o frio, possuindo ação estimuladora e fortalecedora. Já ervas frias (ou fresca ), possuiriam propriedade mais Yin, com ação sedativa, acalmando, aliviando a febre, isto é, dispersando o calor que um possível desequilíbrio entre o Yin e o Yang no organismo possa causar. Como exemplo desse último, temos o hortelã e a gardênia. É lógico que isso é somente uma parte da fitoterapia chinesa. As ervas ainda possuem outras propriedades, além destas citadas que auxiliariam a manutenção do equilíbrio energético do corpo, devidamente estudadas pelos fitoterapeutas.

As propriedades dos alimentos podem ter relação com a própria origem dos mesmos, e isto torna a teoria chinesa mais abrangente ainda. Vamos exemplificar: Todos sabemos que a batata nasce dentro da terra. Isso a torna um alimento Yin por natureza (mais próximo do chão, dentro da terra, sólido), diferente de uma laranja, que nasce no topo de uma árvore e tem propriedade mais Yang (alto, longe do chão). Agora, se você cozinhar a batata, você pode transformar essa característica inerente Yin dela em Yang, e isso é um exemplo clássico da tranformação do Yin para o Yang em uma única estrutura. Tudo isso rege a fitoterapia e a dietoterapia chinesa.

Tui Na

A Medicina Tradicional Chinesa não se baseia somente em aplicação de agulhas ou outros aparatos. Ela também pode utilizar as próprias mãos do terapeuta. Como vimos no tópico sobre os níveis da MTC, a Tui Na (Tui significa “deslizar” e Na significa “segurar com força“) corresponde ao primeiro nível, em que o Acupunturista utiliza as mãos ou outras partes do corpo para obter o efeito da circulação do Qi, mantendo os conceitos referentes aos meridianos e pontos de acupuntura (acupontos) em mente.

Através de manobras específicas de manipulação, pode-se estimular os acupontos e os famosos trigger points (pontos gatilhos, muito utilizados em Reumatologia para definir a fibromialgia, por exemplo), liberando aderências musculares e tendinosas, promovendo um melhor fluxo de Qi. A Tui Na tem importante papel nas dores musculoesqueléticas e no controle das alterações emocionais, como o stress e a ansiedade, através de seu efeito relaxante promovido pela circulação mais eficaz de Qi e sangue.

Yin e Yang: entenda a relação com o zodíaco

Esse conceito de apertar, esquentar e esfregar é até um certo ponto instintivo. Inconscientemente quando sentimos uma dor, pós trauma local ou não, temos o hábito de massagear o local. Tal ato promoveria uma melhor circulação de Qi em um local comprometido por estagnação do mesmo, como logo após uma pancada. A Tui Na alia esse instinto com o conhecimento da Medicina Chinesa sobre o Qi, os meridianos e os acupontos para estabelecer uma técnica, na qual tanto o próprio paciente quanto um terapeuta capacitado, podem utilizar. É isso mesmo! Você pode fazer uma " auto Tui Na", basta saber um pouco sobre a Acupuntura ou ser orientado por um acupunturista. Com devida informação recebida, você pode fazer uma estimulação de uma região ou meridiano em questão para promover a circulação do Qi. Mas já que estamos falando em energia, empregando a filosofia holística de ver a vida, nada melhor do que a "troca energética" entre paciente e terapeuta e isso justificaria a afirmação de alguns pacientes que preferem a atuação de outra pessoa junto à técnica. Puramente aceitável! É o Qi que está envolvido, e não somente o relaxamento muscular, não é?

A técnica consiste na estimulação com as mãos ou até mesmo outras partes do corpo (cotovelos, joelhos, punhos) e o tempo de sessão depende do terapeuta. Você não precisa estar doente para usufruir dos benefícios da Tui Na, pois ela atua na prevenção também, seguindo os conceitos da Medicina Tradicional Chinesa de circulação do Qi.

Por ser em certos momentos vigorosa, a prática é desaconselhada para gestantes, pacientes com problemas de pele e doenças do sistema linfático.

Ventosaterapia

Pessoa fazendo Ventosaterapia

Uma das práticas mais antigas médicas, a ventosaterapia não tem um período conhecido de surgimento, mas sabe-se que no Egito e na Grécia antigos, os terapeutas já tinham o hábito de promover uma sucção ou até mesmo sangria de seus pacientes, utilizando cabaças de barro ou até chifres de animais.

"[...] ajudar na circulação do Qi [...]"

Não se sabe ao certo como essa técnica chegou à China antiga, porém ela foi amplamente associada ao pensamento filosófico antigo e à Medicina Tradicional Chinesa (MTC). Os sábios médicos chineses, perceberam que as ventosas tinham a propriedade de limpar o sangue (Xue) e ajudar na circulação do Qi quando associadas aos respectivos meridianos acometidos. Segundo a MTC, a ventosa ajuda a liberar a estagnação de sangue e Qi localizada em alguns grupos musculares, aliviando a dor. Tais estagnações também podem provocar hipertensão arterial e dores abdominais.

Eventualmente o Acupunturista pode associar a ventosa com a sangria, porém nem sempre tal prática é utilizada, dependendo muito do quadro clínico do paciente e do diagnóstico segundo os preceitos científico-filosóficos da MTC.

Constituídas de vidro ou até mesmo acrílico, as ventosas podem ser colocadas juntamente com as agulhas nos pontos de acupuntura ou organizadas em fileiras, nos casos em que uma grande área dolorosa apresenta problemas (como por exemplo algumas lombalgias). Podem ainda ser aplicadas juntamente com óleos na pele, proporcionando um efeito deslizante e relaxante.

Normalmente esse tipo de tratamento, como consiste em uma sucção da pele, pode deixar marcas, algumas delas até bem salientes, o que faz o acupunturista levar em consideração o aspecto estético e o tipo do paciente a ser tratado. Na China, existem histórias de acupunturistas que prezam por tais marcas e pacientes que só saem satisfeitos com uma boa presença delas, denotando critérios de indicação diferentes nas mais variadas culturas.

A sucção das ventosas originalmente era feita com o aquecimento das mesmas através de acendedores ou lamparinas. O ar quente, em contato com a pele, dentro da ventosa, leva a formação de um vácuo que traciona a pele para dentro do aparato. Tal tração é o efeito desejado do tratamento, pois causaria a liberação da estagnação supracitada. Existem ventosas que não necessitam desse pré aquecimento e se utilizam de pistões e bombeamento de ar, para realizar a pressão necessária. O tempo de permanência da ventosa no corpo é em media de 5 a 15 minutos, tempo necessário para haver a congestão local. Após esse tempo, a pele pode danificar e produzir bolhas, que até podem infeccionar. A presença do acupunturista é sempre necessária para esse tipo de tratamento.

Nem todos os pacientes podem se beneficiar dessa prática. Em geral ela é bem tolerada, mas pessoas com pele ressecada e fina podem sentir dor durante a sessão. A ventosaterapia é contraindicada para casos de febre alta, convulsões ou cólicas, alergias na pele ou inflamações ulceradas além de locais onde a pele não é tão plana. Deve-se evitar a colocação das ventosas no abdome e região lombar de gestantes.

Eletroacupuntura

Técnica contemporânea, a eletroacupuntura utiliza de preceitos científicos ocidentais para a justificativa de seu uso e efeitos. Logo, o papo aqui é outro, por um momento vamos deixar de lado a energia, o taoísmo e o Yin e Yang. A eletroacupuntura lida com estimulação elétrica, liberação de opióides endógenos e neurotransmissores para alívio da dor. É lógico que um acupunturista tradicional, que lida com a circulação do Qi vai assimilar essa técnica e encará-la como uma integração dos preceitos holísticos energéticos e da ciência contemporânea ocidental. Isso é o que vale, e ela funciona muito bem!

Criada na década de 70 na França, a eletroacupuntura beneficia-se dos conceitos prévios utilizados na área de reabilitação física sobre a estimulação elétrica. Seus efeitos estão associados a aceleração dos processos de trocas iônicas no nível celular, influenciados pela amplitude da onda e duração do pulso elétrico, isto é, a base da eletroterapia (Cameron, 2003).

O princípio básico da eletroacupuntura está intimamente associado à analgesia, mas também tem excelentes resultados no tratamento de traumatismos na pele, tendões, músculos, nervos e cartilagens, como tratamento coadjuvante em casos de doenças oncológicas, na nevralgia e paralisia além dos potenciais anestésicos que ela provoca, sendo utilizada em cirurgias, de modo associado ou isolado. Colocando-se a agulha (ou mesmo eletrodos) no ponto específico de acupuntura relacionado à dor do paciente e aplicando-se uma corrente elétrica pré-estabelecida (em geral uma frequência em torno de 2, 100 ou até acima de 500 Hertz), através de um aparelho específico e de um acupunturista bem treinado, obtém-se um efeito analgésico ou anestésico maior pelo disparo mais rápido de despolarização das células, via Sistema Nervoso Central, liberando de maneira intensa e veloz, substâncias endógenas que promovem o alívio da dor. Parece complicado, não é?

"[...] tem excelentes resultados no tratamento de traumatismo na pele, tendões, músculos, nervos e cartilagens [...]"

Na verdade a estimulação elétrica das agulhas de acupuntura faz o seu corpo resolver os problemas dele por conta própria, já que naturalmente temos substâncias que nós mesmos produzimos, cuja atuação em relação à dor é bem satisfatória. Tal técnica faz essas substâncias agirem melhor e mais rápido.

Nada que a Acupuntura tradicional chinesa também não faça, pois a explicação científica ocidental para as agulinhas inseridas pelo corpo é a liberação de substâncias internas do próprio indivíduo. A diferença da associação com a estimulação elétrica é a intensidade e o tempo.

Por usar corrente elétrica, a eletroacupuntura deve ser evitada em pacientes que usam marca-passos, gestantes, portadores de próteses metálicas (na parte do corpo a ser estimulada), doenças com perda de sensibilidade dos membros (como do diabetes) e epilépticos. O tempo de sessão é normalmente o mesmo de uma acupuntura tradicional, ou seja, em média 30 minutos e eventualmente durante a sessão, o acupunturista pode alterar a intensidade do estímulo elétrico efetuado.

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