Saí do apartamento da minha amiga com uma dor estranha do lado direito do abdômen, embaixo das costelas. Era uma dor fraca, mas persistente, que ativou cada centímetro do meu sistema hipocondríaco, como eu costumo chamá-lo carinhosamente. Pensei, como toda boa hipocondríaca, que se tratava de algo muito, muito grave, mas decidi esperar essa gravidade toda aparecer naturalmente. E ela não apareceu, claro. Era só um tipo de intoxicação do fígado pelo vinho que tomei na casa da tal amiga. Normal, faz parte!
Mas nos outros dias o incomodo continuou. O interessante é que não era uma dor, propriamente dita, para eu ir a um médico e ele me dar um remédio. Era mais um incômodo, uma coisa chata, que me tirava o apetite, me deu alguma náusea. Decidi, como sempre, investigar as causas disso.
Sentei-me bem quietinha comigo mesma. Respirei fundo, algumas vezes, e perguntei ao meu corpo qual era o problema. Ele demorou um pouco, mas logo disse você está intoxicada!. Lembrei logo do vinho e perguntei a ele se era isso. Ele me respondeu com um sonoro não seguido de um se formos falar do que você anda comendo, poderia ser qualquer coisa. Ok, primeiro puxão de orelha do meu corpo para mim. Continuamos a conversa mais amigavelmente. Ele me perguntou se eu não sabia mesmo o que era. Eu retruquei que, se soubesse, não estaria perguntando ( ponto pra mim!) e ele disse, na cara dura, Você está intoxicada de inveja.
Invejosa? Eu? O que é isso, você só pode estar louco. Eu sou uma pessoa feliz, espiritualizada, terapeutizada e mais todos os adas que você conhecer, eu não estou com inveja de nada e nem de ninguém. E ele, mais uma vez na minha orelha e tem mais, são inveja e ciúmes, juntos.
E a conversa continuou nesse nível, até que ele me dissesse direitinho, tudo pelo qual eu estava sofrendo. Falou-me de sentimentos profundos e enraizados, em como eu estava só focando nas minhas faltas, naquilo que eu não tinha, e não naquilo que eu tenho que bom. No final da conversa, a dor já havia aliviado bastante.
E não tem jeito. Ser humano tem inveja e ciúmes. No meu caso, a inveja estava mesmo falando mais alto. Estava invejando uma situação na minha vida completamente sem sentido. Eu estava focando a minha lista de imensas faltas, e esquecendo a minha lista de imensas presenças. Esqueci que tenho um trabalho maravilhoso, que eu amo. Esqueci que sou perfeita, alegre, forte. Esqueci que sou respeitada, por mim e pelos outros. Esqueci que, se o Universo não está me dando determinada situação, é porque ele tem outra coisa melhor pra me dar.
Na verdade, a inveja é um sintoma. Sim, um sintoma. Não um sintoma de que algo está errado com você. Mas que você está olhando uma situação pelo lado errado. É natural ter inveja. É muito natural olhar aquela mulher com 50 anos e um corpão e dizer um caramba bem do fundo da alma pensando em como ela consegue. É natural porque sempre queremos o melhor pra gente. Sempre querermos ser as “mais tudo”: mais bonitas, mais inteligentes e, principalmente, as mais queridas. Algumas vezes nos sacrificamos muito em nome disso tudo. Em nome dos outros nos jogarem confetes enquanto passamos sendo ovacionadas pelo nosso publico. E não estou falando de um público real, mas aquele imaginado. Nossos amigos, nosso maridos, nossos filhos, nossos pais. Queremos que todos nos achem maravilhosas e perfeitas e, se estão dando isso pro seu vizinho e não pra você, ah, dá uma raiva.
A parte boa da inveja é fazermos dela nossa amiga e não fazer com que, como a mim, ela intoxique. Olhar para a nossa inveja com carinho. Analisar o que nós achamos que está nos faltando e, eventualmente, ir atrás daquilo. Se achar que precisamos perder uns quilinhos, dieta e exercícios funcionam. Se acharmos que querermos sim, um novo e grande amor, vamos nos abrir para isso. O que não vale é fica remoendo a inveja e fazer com que ela te coloque cada vez mais para baixo.
Assim, meu corpo já me contou a solução do meu problema. Preciso fazer uma lista de todas as coisas boas e maravilhosas que eu tenho e tive até hoje. E uma lista das coisas que, de maneira real (e não ideal) eu ainda tenho a oportunidade de mudar. Quando nos sentimos fazendo algo por nós, não precisamos invejar o outro. Precisamos sim, arregaçar as mangas e fazer o que o nosso coração está nos pedindo há muito, muito tempo.
Então, de olho nas suas invejas daqui por diante, ok? E nada de vinho barato, por um bom tempo!
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