Estava deitada na areia, tomando um sol quentinho, mas não escaldante do inverno brasileiro – sem neve, graças a Deus. Olhava para a praia, o mar, cada onda que quebrava. Milhares delas, há milhares de anos. Sabia que aquilo era um momento único. Jamais aquelas ondas quebrariam novamente daquele jeito. Jamais a espuma se formaria assim, exatamente igual. Jamais estaria a mesma temperatura, o mesmo céu, as mesmas crianças brincando ao redor. Aquele era um momento no tempo e no espaço completamente únicos. Assim como são todos os momentos do tempo e do espaço.
Eu sempre fui bem distraída. Não do tipo que dá pinta, claro. Com o meu trabalho como terapeuta eu aprendi a ser mais presente, prestar atenção. Mas ouvir pessoas é algo que eu amo fazer, então é mais fácil se concentrar. Comecei a perceber que não era tão presente em outras situações ou momentos da minha vida. Às vezes estava falando com um amigo, mas pensando no jantar. Ouvindo alguma música, mas pensando na lista de afazeres. Isso não é estar presente, não é o tal estar em si. Então, comecei um exercício de um livro “esteja presente”. Preste atenção em alguma coisa por um minuto: os sons, sua respiração ou os dedos dos seus pés. E é incrível como funciona, na hora eu já tinha voltado.
Deitada na areia tive uma percepção maior de tudo, só por estar presente. Estou de férias, não tenho uma lista de afazeres na cabeça, não sei se isso facilita. Mas sei que isso é possível sempre, basta que a gente consiga estar presente.
Na verdade, aquele velho clichê de que o presente é tudo o que existe é a mais pura verdade. E andamos por aí perdendo coisas belas e pequenas, ou até mesmo coisas grandes. Queremos ganhar o mundo, mas não sentimos. Estamos em Paris pensando que queremos conhecer a Turquia. Estamos no shopping pensando que devemos ir embora para lavar os banheiros. Estamos no carro pensando em milhares de outras coisas. Perdemos o pôr-do-sol porque precisamos fotografá-lo. Aliás, essa coisa se fotografarmos tudo é um sinal dos tempos. Como não estamos presente, vivendo aquilo, não memorizamos. Aí queremos a foto para nos lembrar daquele lugar, daquele momento. Não me entenda mal, eu amor fotografar. Mas amo mais ainda perceber aquilo ao redor.
Então, tente esse exercício do estar presente. Esteja em cada pedaço da sua vida, completamente imerso nela. Você vai perceber que não precisa mais de tantas coisas ou situações. Você só precisa estar lá, precisa sentir e presenciar. Seja então, uma testemunha da sua própria vida. Tudo é sempre um único recorte de um momento da eternidade.
Confira também: