Desde que a situação do novo coronavírus no mundo foi classificada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma pandemia, temos ouvido quase que diariamente uma expressão que faz parte de diálogos que vão de piadas a discursos sérios sobre o futuro: o novo normal. Afinal, o que é e como é o novo normal?
Pandemia
Antes de falarmos sobre o tal do novo normal, é preciso explicar por que ele é necessário. Em meados de março de 2020, o novo coronavírus, causador da Covid-19, já havia chegado a quase todos os países do globo, o que fez com que a OMS classificasse a situação como uma pandemia. Para que o surto de uma doença possa ser classificado dessa maneira, a OMS exige quatro pré-requisitos: 1. O aparecimento de uma doença inédita na população; 2. O agente infecta humanos, causando uma doença séria; 3. O agente espalha-se fácil e sustentavelmente entre humanos; 4. O agente está infectando pessoas no planeta todo.
A Covid-19 é, definitivamente, uma doença inédita, visto que não temos vacina ou sequer medicamentos para combatê-la. É, obviamente, um agente que infecta humanos e causa, sim, uma doença séria, visto que já matou mais de 1 milhão de pessoas em menos de um ano de circulação. E sim, o agente se espalha de maneira fácil e escalada – são mais de 36 milhões de casos da doença no mundo. Por fim, casos de Covid foram identificados em todos os países, e a situação foi ou está crítica em diversas nações, da América Latina, com Equador, Brasil e Argentina tendo cenários assustadores, passando pela América do Norte, onde estão os Estados Unidos, recordistas em números de casos e de mortes, e culminando na Europa, onde países como Itália e França viram seus sistema de saúde colapsarem devido ao grande número de casos.
Estamos, enfim, diante de uma situação excepcional e de uma doença que pode, sem exagero nenhum, mudar o curso da humanidade – e até mesmo acabar com ela, caso não tenhamos o cuidado necessário. E quando falamos sobre cuidado necessário para prevenir e evitar que o vírus se espalhe, estamos falando sobre o novo normal.
O que é o novo normal?
Entre as principais habilidades e capacidades do ser humano, está uma muito importante, que garantiu nossa sobrevivência até aqui e permitiu que o mundo continuasse evoluindo a largos passos: a capacidade de se adaptar. O ser humano é um animal resiliente, isto é, que consegue superar adversidades ao mudar o seu comportamento. Ainda que boa parte dos animais das mais diversas espécies tenha capacidades de adaptação impressionantes, eles agem com base em seus instintos, sem considerar o quadro geral, por isso é que são chamados de irracionais. Os seres humanos, por sua vez, são animais racionais, então, além de seu instinto, conseguem pensar logicamente e encontrar soluções racionais para os problemas que se apresentam, tudo isso com uma única finalidade: sobreviver.
Como ainda não temos vacinas ou medicamentos eficazes para combater a Covid-19 e evitar o espalhamento do novo coronavírus, só nos resta a prevenção para evitar que ele continue se espalhando. E é aí que entra um dos maiores símbolos do novo normal, o chamado kit Covid: máscara, álcool em gel, distanciamento entre as pessoas... Enfim, são muitas as medidas, e falaremos mais sobre elas nos tópicos abaixo. O ponto aqui é: ainda que esteja sendo feito um grande alarde sobre o tal do novo normal, ele não é nada diferente do que o ser humano faz diariamente em sua vida. Exemplo: você vai sair de casa e o céu se apresenta nublado, então você veste uma roupa de frio e leva um guarda-chuva para se prevenir, porque você não quer se molhar, né? Se começa a chover, você abre seu guarda-chuva e se previne de se molhar. Isso garante que você definitivamente não vai se molhar? Não, mas reduz suas chances de se molhar ou, pelo menos, faz com que você se molhe menos.
Isso é o novo normal: nada além de adaptar-se às condições atuais. Usar máscara, mesmo depois de tantos meses de hábito, continua sendo uma novidade para muitos, mas isso acontece apenas porque não tínhamos esse hábito por aqui. Em países asiáticos, como Japão e Coréia do Sul, o uso de máscara em transporte público já era algo corriqueiro, porque eles se adaptaram depois de alguns surtos e epidemias de doenças respiratórias. Enfim, tudo é adaptação, e este é o novo normal: entender que não dá para voltar a agir como antes, porque o mundo não nos dá essa possibilidade atualmente.
Outro grande exemplo de novo normal é o uso de preservativos sexuais, em especial a camisinha. Antes da epidemia de aids, que começou nos anos 1980, pouquíssimas pessoas usavam camisinha como método contraceptivo; menos pessoas ainda usavam o preservativo para efetivamente prevenir doenças transmitidas no sexo. Quarenta anos depois, ainda não temos uma vacina que combata o vírus HIV ou medicamentos que curem a aids (ainda que tenhamos tratamentos bastante eficazes para dar qualidade de vida aos portadores da doença), então o que nos resta é o novo normal: relações sexuais usando preservativos para evitar o vírus e, consequentemente, a doença. É claro que a camisinha tem muitas outras funções, como a contraceptiva, e protege contra outras inúmeras doenças, então a cura ou uma vacina para a aids não representaria o fim do uso da camisinha, mas serve de exemplo para um novo normal ao qual já estamos habituados.
O novo normal nos aspectos sociais
A pandemia do novo coronavírus mudou a maneira como as pessoas se relacionam. Além do uso de máscara, álcool em gel e redução do uso de transporte público, as pessoas foram incentivadas a fazer um isolamento social, saindo de suas casas somente para realizar tarefas estritamente necessárias, evitando o contato com outras pessoas e eventos e situações que causassem aglomerações. Dessa forma, casais deixaram de se encontrar, amigos não se encontraram mais, pais, mães e filhos deixaram de se ver, aulas foram suspensas, casas de show, bares e outros ambientes que causavam aglomerações foram suspensos... Com a queda no número de contágios, essas medidas restritivas de isolamento, muitas impostas por governos, estão sendo gradualmente afrouxadas. Outras, impostas pelas próprias pessoas, como o isolamento social e a redução de encontros e reuniões, estão gradualmente voltando a acontecer... Mas será que poderão acontecer com a frequência e a intensidade de antes enquanto o vírus estiver à solta? Será mesmo que teremos shows de mil pessoas num ambiente fechado, ou será que é seguro estar numa balada com centenas de pessoas, correndo risco de contágio? Talvez o novo normal dure mais alguns meses, mais alguns anos, talvez seja permanente, se uma vacina não for bem-sucedida, então só nos restará a adaptação.
O novo normal na economia
A pandemia do coronavírus mudou, provavelmente definitivamente, a relação das pessoas com seus trabalhos e, de quebra, com suas casas. Muitas pessoas foram colocadas por suas empresas em regime de home office, isto é, exercendo suas funções em suas casas. Muitas empresas, neste período, relataram aumento de produtividade entre os funcionários, então é possível que esse novo normal seja definitivo e muita gente permaneça trabalhando em casa após um eventual fim da pandemia.
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Outra consequência triste da pandemia foi o aumento do desemprego, de dificuldades econômicas entre pessoas que trabalhavam como autônomas e a falência de muitos negócios, especialmente negócios locais, que dependiam de reuniões sociais, como bares, restaurantes etc. Estima-se que serão necessários anos, talvez uma década, para que a economia volte a funcionar adequadamente, nos níveis do "velho normal", mas para que isso seja possível é preciso que estejamos vivos, não é? Então é consenso que a saúde deve estar em primeiro lugar e que os governos precisam ajudar os mais necessitados, para que superem as dificuldades durante este período difícil, não se exponham a riscos desnecessários e estejam vivos para ver o mundo conhecer uma nova normalidade após o fim da pandemia.
O novo normal na política
É impossível dizer como a pandemia afetou e afetará a política, especialmente porque cada governo (até mesmo dentro de um país, nas esferas municipal, estadual e federal) lida com a situação de uma forma, mas o que vemos é que estão sendo bem avaliados os governos que adotaram a medida impopular de impor restrições no início da pandemia, mas que hoje colhem frutos positivos disso, com poucos casos da doença e de mortes causadas por ela, e também os governos que estão contribuindo financeiramente para a situação das pessoas mais vulneráveis neste momento de dificuldade e desemprego.
Não podemos prever o futuro e saber se o novo normal veio para ficar ou se um dia voltaremos ao "velho normal" ou, ainda, a um normal inédito, que descobriremos pouco a pouco. Fato é que, para que sobrevivamos como espécie, precisamos seguir as adaptações necessárias e tomar todos os cuidados preventivos para que a doença não espalhe ainda mais e cause mais estragos. Ninguém gosta do isolamento social e todos sentem falta de mais contato com as pessoas que ama, mas é um sacrifício que fazemos hoje para sorrir amanhã.
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