Sentei-me num café elegante na periferia de São Paulo, num belo domingo à tarde, com uma colega dos tempos de escola. Ela é jornalista, e qual não foi a minha surpresa quando descobri que é especialista em analisar livros para publicação. Isso porque, meio que intuitivamente (aliás, meu modus operandi), tinha mandado para ela o meu livro para que ela desse uma opinião. Ela leu, teceu vários elogios bacanas e apontou coisas que poderiam ser mudadas. Eu, grata, prestei atenção em cada detalhe e concordei com todos.
Quarta-feira. Recebo um e-mail de um amigo sobre um post de um escritor (ou alguma coisa assim) falando da importância dos textos em primeira pessoa e de mostrar a sua experiência pessoal como um exemplo. Li e me identifiquei na hora (se tem alguma dúvida disso, continue a ler este texto).
Sexta-feira, final de tarde. Aquele dia em que a lista de tarefas do consultório é imensa e a vontade de fazê-las nem tanto. Encontrei na minha timeline um link para uma matéria da revista Glamour americana: “As 10 palestras do TED que você não pode deixar de ver”. Entrei e comecei um longo processo de assistir a essas palestras. Lá pelas tantas, encontrei a pesquisadora americana Brené Brown falando sobre vulnerabilidade.
Ela é uma mulher grande, um pouco mais velha e bastante engraçada. Tinha um sorriso natural nos lábios e isso me deixou intrigada. Achei aquilo fascinante e continuei assistindo atônita. Ela fala sobre como somos uma sociedade de adultos vulneráveis. Como temos medo e vergonha da nossa vulnerabilidade (que é diferente para cada pessoa) e como nos escondemos em vícios (comida, álcool, drogas etc.) para que ela não apareça. Não queremos estar em contato com ela, ela dói. Nos empanturramos com qualquer coisa a fim de não olhar para ela. Nosso medo, nossa vulnerabilidade. Nossa dor mais profunda.
Sentei aqui e abri o Word. Ela fala na palestra que soltou no Twitter a pergunta: “Qual é a sua vulnerabilidade?” Eu quis responder a pergunta dela, mesmo que tardiamente, para mim mesma. E, de novo, qual não foi a minha surpresa quando ela ocupou quase uma lauda.
Somos todos vulneráveis. Somos todos assustados, temos medo de sermos humilhados, enganados. Temos medo de que as pessoas riam de nós. As pessoas que ainda conseguem entrar um pouco mais em contato com isso, sem conseguir trabalhar, desenvolvem a fobia social (que tem aumentado muito nos últimos anos). Temos uma película protetora, algo que nos tire desse estado desconfortável, o tempo todo. Não podem me ver assim. Não podem ver quem eu sou de verdade.
Quando comecei a escrever alguns textos, ainda num blog antigo, eu era extremamente autoral num mundo que não conhecia ainda essa linguagem. E, várias vezes, de várias pessoas diferentes, eu escutava: “Como você consegue se expor tanto?” Naquela época, ainda muito jovem, me parecia natural. Expor meus medos e minhas raivas parecia uma maneira legal de me sentir melhor. Sim, eu me sentia bem melhor. E a pergunta que me fiz é: “Por que eu mudei isso?”
Naquela conversa com a jornalista da primeira parte do texto, percebi que estamos sedentos disso e por isso os textos em primeira pessoa fazem tanto sucesso. As pessoas precisam e querem se identificar. Precisam perceber que outras pessoas também têm problemas e frustrações e que elas podem estar em paz com isso dentro delas mesmas. Que você vai cair, levantar, vai ficar exposto (como no caso do meu livro e dos meus textos em primeira pessoa), mas tudo bem. Estar vulnerável é estar no mundo. É correr o risco, é estar presente em si mesmo vivenciando (e não só testemunhando) a própria história. Por isso ser vulnerável é, no fundo, legal.
Vou continuar em primeira pessoa. Vou continuar sendo quem eu sou e escrevendo o que eu escrevo só porque é legal. Só porque isso sou eu. E se alguém não curtir ou precisar ser hater de internet, tudo bem, eu aguento. Mas não vou me proteger do mal. Ele que se cuide! E, você, faça uma lista agora do que te faz sentir vulnerável? Tenho certeza de que vai se surpreender.
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