O dia inteiro penso em números. De manhã um número no meu despertador me avisa que eu tenho que parar de dormir, no trabalho os números no relógio do meu chefe me fazem sentir culpado pelo ônibus que demorou para passar, em frente ao computador uma série de números me lembram de ficar nervoso com os resultados da empresa e a situação do País, ao longo do dia conto os números que faltam para eu poder voltar para casa. Os números na balança garantem que não posso aparecer na capa da revista, os do R.G me mandam agir de acordo com a minha idade e os números da conta bancária me dizem que não sou bem sucedido naquilo que eu faço. Tudo é mensurado, analisado, ponderado, comparado e comprovado por uma série de números que existem para definir quem eu sou e o que eu faço.
Certa vez, no vestiário do clube, um colega de piscina me perguntou quantos metros eu costumo nadar e ficou muito surpreso com a minha resposta, porque eu não tinha um número para lhe informar. Não conto a distância que nadei, não meço o tempo de cada chegada e, quando a vida me deixa, não me preocupo com horário que passei na piscina. Nado porque gosto, porque isso me deixa feliz. Meu corpo não precisa de nenhum número para saber que nadar faz bem para ele.
A gente às vezes esquece que o corpo também sabe o que é melhor para ele. Estamos muito acostumados a ouvir somente o que a cabeça nos diz. E nos preocupamos com quantos pesos foram levantados, quantos quilômetros percorridos, calorias ingeridas, quilos perdidos. Nós queremos otimizar o corpo como se ele fosse uma máquina, como se ele fosse somente mais um dos objetos cheios de números que encontramos no nosso dia a dia. A gente, às vezes, ao invés de ouvir o nosso corpo, escutamos a nossa cabeça e o que ela acha que é certo, padrões que ela quer impor, metas que ela acha que são certas. O corpo deve correr tanto, pesar assim e ter essa forma, porque é isso que a mente pensou e é o que ela acha que é certo. Ou, até pior do que isso, a gente faz o que a cabeça dos outros acham que é certo. E aí resolvemos fazer crossfit, porque a modelo na capa da revista falou que é bom para emagrecer, caminhada porque a apresentadora do programa matinal disse que faz bem para o coração e pilates porque o médico do jornal garantiu que melhora a postura. E esquecemos de perguntar o que o nosso corpo quer fazer, e então tornamos a atividade física uma obrigação e a academia uma extensão do expediente. E diante de tantas imposições ao corpo, nossa cabeça, que gosta de analisar tudo, chega a brilhante conclusão de que nosso corpo não gosta de fazer exercícios físicos.
Mas isso simplesmente não é verdade, assim como todas as crianças gostam de brincar, correr, pular, porque ainda não dão muita importância para o que a cabeça está falando, nosso corpo também gosta de se mexer, se isso não depender muito do que a cabeça pensa. O problema é que não damos espaço para o corpo escolher o que quer. Tentamos impor a ele os mesmo padrões e limites e metas que encontramos no trabalho.
Precisamos de um momento longe disso tudo, um momento para desligar a cabeça e deixar o corpo assumir o controle. Atividade física é bom para você por diversos motivos, inclusive aqueles que aparecem no programa matinal, mas na hora de escolher algum exercício físico, tente não pensar muito no que os outros acham que é certo e não procure muitos outros resultados, além de se sentir bem e se divertir como se você fosse uma criança. Ninguém é naturalmente sedentário, você só não encontrou a atividade ideal para o seu corpo. O primeiro passo para viver uma vida mais feliz e saudável é aprender a escutar mais o seu corpo e deixar a cabeça um pouco de lado. Encontre algum exercício físico que você goste de fazer e pratique o como se fosse a hora do recreio. E enquanto você estiver se divertindo, não se preocupe muito com o momento que você vai ter que voltar a usar a cabeça, porque com certeza em algum lugar tem um número que vai vir te avisar que a brincadeira acabou.
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