Confie. Simplesmente aceite e confie na vida e quando sentir medo de alguma coisa mergulhe nele. Nade em suas águas escuras, sinta, cheire o medo. O medo nem sempre representa o perigo. Às vezes o medo é justamente o contrário.
Medo foi feito para se nadar.
Às vezes o medo é justamente a felicidade e a completude que aquele caminho representa. Tememos o feio, mas também tememos o belo. De repente olhei no espelho e vi dois olhos me olhando. Olhavam curiosos como se me vissem algo que nunca haviam enxergado. Viram fogo. Viram vida, ar, peito e chamas.
E no meio dessa visão de se ver, viram um imenso vazio. Um oco, um eco, um tufo. Um mar negro e denso onde se escondiam bruxas, prostitutas, camponesas, guerreiros e fadas. E tudo que era sangue e morte rodopiava em navios mercantes, embarcações fúnebres, como bandeiras de piratas. Mas não eram piratas.
Eram sábios. E atrás de cada novo par de olhos escondia-se o mesmo mar negro e escuro. Era o mesmo mar em diferentes olhos? Moças voadeiras pairavam por sobre este mar. Tiravam de dentro dele seus peixes impossíveis. Com diferentes rostos. Mas todos voltavam para o mar. Alguns completamente mortos se desfaziam como neve no vulcão. Outros, ainda vivos, mais ilustres, ocupavam o lugar de Netuno. E se revelavam como uma dança infinita. E bela.
Olhei atrás daqueles olhos e vi o que eu era. Um turbilhão imenso de personagens disformes. Há alguns faltava um pé, um braço ou um olho. Para outros se davam nomes bonitos.
A doçura, a imensidão, o sufoco, a dúvida e a vida habitavam meus olhos. Os dois, pequenas pérolas negras, carregando a alma.
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