Cemitérios e Jardins!
Nota da autora – A inspiração vem em raros momentos de distração, a mente se faz distraída, mas os olhos do coração não. Foi assim que distraidamente esse pensamento de um querido amigo me inspirou a este texto.
“Não fique remoendo muito as tumbas e cemitérios que há em você... Mas também não os perca de vista, plante flores ao redor deles... Tumbas sem flores são tão feias, são estéreis... Tumbas floridas... essas sim... são capazes de gerar vida!” Angelo Siqueira
Eu não gosto de cemitérios, eles me remetem ao final de tudo, sem nenhuma perspectiva de segunda chance, não nessa vida pelo menos. Além do mais, são cheios de estátuas vazias, vidros e azulejos sem nenhuma combinação, composto da dureza do cimento e cal. Não há perfume, apenas o cheiro ácido e azedo da morte.
No entanto há aqueles em que se aboliram a imagem descrita acima – graças a Deus - e em seu lugar, agora apenas a lápide cercada de grama verde, onde a natureza vai criando meios de se tornar mais viva e cheia de cor.
Nesses eu consigo entrar, observar com olhos internos, que apesar da morte que representa aquele lugar, a vida continua de outra maneira, arrebentando o solo e inspirando novos ares, dando um sentido todo novo ao que virá. Nesse tipo de solo, há que se retirar as sandálias, porque ali o mistério se faz, dando a reverência do que se tornou sagrado.
Então eu fiquei pensando no que escreveu meu amigo e resolvi visitar meus cemitérios para ver como andavam. Descobri algumas tumbas abandonadas por terem me causado mais dor do que eu suportava, então resolvi esquecê-las, esquecendo que quando uma ferida é aberta, é preciso muito tempo e cuidado para a restauração, para a cicatrização. Tive medo de antigos fantasmas virem me assombrar. Andei por entre corredores estreitos de minhas lembranças, sempre espreitando por cima do ombro, atenta a qualquer barulho ou movimento estranho. Para minha sorte eles não estavam por lá.
Minhas tumbas estavam cobertas de sujeira e ervas daninhas, estragando o solo que poderia ser gerador de vida. Fazia muito tempo que eu as havia deixado, a visão era triste. Me ajoelhei e aceitei colocar minhas mãos naquela terra dura, ressecada pelo tempo. Revirei tudo deixando que o ar entrasse nas entranhas do marrom, retirando tudo que pudesse impedir o ciclo da vida, cortando de uma vez por todas as escolhas erradas que eu fiz, ou que ainda poderiam vir a existir, tudo que me impedia de ver novos horizontes, tudo que atrancava o meu caminho, todas as bagagens desnecessárias que enchiam a minha mochila de ressentimentos e decepções. Retirei toda a terra que acumulava em mim o meu próprio túmulo onde enterrado estava todo o meu poder criativo para fazer daquele solo um lugar fértil outra vez.
Hoje, não há mais cemitérios frios e sem vida. Hoje existe a lápide com o meu nome, e em torno dela grama verde onde florescem jardins, nele piso com pés descalços porque todo ele é sagrado para mim.
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