Compaixão, no significado do dicionário, é o “sentimento piedoso de simpatia para com a tragédia pessoal de outrem, acompanhado do desejo de minorá-la; participação espiritual na infelicidade alheia que suscita um impulso altruísta de ternura para com o sofredor”. Podemos pensar que esse sentimento só é expressado quando é por outra pessoa, mas também podemos (e devemos) expressar por nós mesmos.
Em minha experiência na clínica, vejo muitas pessoas que não se tratam com compaixão. Criticam-se e julgam-se de maneira severa, diminuindo sua autoestima e confiança em si mesmas. Esse tipo de crítica normalmente tem argumentos, os quais quero, nesse texto, desconstruir. Também desejo mostrar os problemas gerados por uma crítica excessiva em si mesmo e o que pode acontecer se formos compassivos com nossos erros e problemas.
A necessidade de se criticar
Muitos podem ser os motivos de nossa autocrítica e avaliações negativas, mas quero falar sobre o ponto principal, que é o que mais aparece nos atendimentos que realizo.
A crítica me melhora
Podemos achar que apontar nossos erros e dizer o quanto falhamos ou o quanto fomos tolos ao não percebermos algo pode nos melhorar. Muitas vezes, nós nos zangamos conosco e até mesmo somos duros em pensamentos e palavras com nós mesmos. Esse tipo de comportamento não nos melhora, muito pelo contrário.
Se acreditamos que a crítica nos melhora, nosso foco passa a ser os nossos erros. Olhamos o que erramos e onde falhamos, tentando consertar algo que está errado: nós mesmos. Então a tendência é que passemos a nos tratar com cada vez mais rispidez e violência. Assim, vamos diminuindo nossa autoestima e nossa confiança em nós mesmos. Focados em nossos erros, esquecemos nossos acertos, virtudes e qualidades. Deixamos de lado nossos pontos fortes para dar atenção aos erros cometidos. Perdemos nossa potencialidade ao focarmos apenas nossas dificuldades.
Sociedade da crítica
Claro que isso é algo que todos nós fazemos a todo momento, pois, afinal, vivemos em uma sociedade que crítica, avalia e nos julga constantemente. Esse julgamento acontece pela norma de que se precisa ter de um corpo saudável, uma aparência agradável, uma forma de ser e de existir. Assim, somos sempre julgados e também julgamos. Vivemos em uma sociedade em que temos provas, temos que ser sempre melhores, e a crítica serve para isso. Não olhamos que temos outras formas de melhoria, como, por exemplo, olhar nossas potências, ver que cada pessoa é singular, única e que sua expressão tem algo que nunca se repete.
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Esse tipo de julgamento e avaliação nos faz julgar as pessoas a nossa volta, a criticar cada escolha do outro e a nossa. Desse modo, não desenvolvemos compaixão por nossa tristeza quando acontecem os reveses em nossa vida.
Além de gerarmos baixa autoestima, podemos também ampliar essa crítica para as pessoas de nosso convívio, afetando nossas relações. Tudo que temos em demasia dentro de nós acaba por transbordar até o outro. Então, se somos severos com nossa própria expressão, seremos duramente críticos com os outros, pois é isso que estamos alimentando dentro de nós. Assim vamos diminuindo nosso grau de contato com o outro.
Autocompaixão
Mas podemos ir no caminho contrário disso. A autocompaixão é quando entendemos que temos limitações, que não precisamos ser perfeitos, que os erros também fazem parte da vida e que problemas sempre acontecem. Não, não seremos bons em tudo. Isso porque não somos robôs, somos seres humanos, e a falha nos mostra que o aprendizado é possível.
Podemos aprender sem a crítica, mas com a compaixão e empatia por nossas escolhas. Podemos olhar para nós mesmos e saber que erramos, mas que não precisamos nos punir por isso. A culpa jamais ajudou em nada. Não precisamos nos culpar, mas sim nos apoiar e ajudar na mudança que queremos promover em nossa vida.
Pense em como trataria um amigo querido que cometeu um erro e hoje se culpa. Ou um filho muito amado que errou, que está se criticando duramente. Como você o trataria? É provável que sua resposta seja que o trataria com compreensão e que diria a ele que não precisa se culpar por isso. Você ouviria com carinho e entenderia o porquê do erro, quais as causas, o que ele pensou, agiria com compaixão. Então, por que não agir com compaixão com você mesmo?
Comece a olhar para você sem críticas ou julgamentos, mas com empatia e compaixão, como uma mãe que olha para um filho que precisa de ajuda e compreensão. É um caminho muito mais positivo e que gera mais abertura para um olhar mais amplo e sem culpa.
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