Por um instante, deixemos de lado nossas preocupações com a degradação do meio ambiente, com as guerras geopolíticas, a violência urbana, as desigualdades sociais, os problemas financeiros, e tudo o mais que está ao nosso redor e nas pautas diárias da sociedade em que vivemos, e nos voltemos ao nosso interior. Num mundo tecnológico dominado por imagens, cada vez mais olhamos para fora, e por isso é tão urgente olharmos para dentro, se não quisermos perder a melhor referência e única realmente segura que temos: a consciência interior.
A razão humana criou o mundo tal como ele é hoje. Não podemos atribuir a responsabilidade da destruição da natureza, a nenhuma outra espécie vivente no planeta, senão a dominante espécie humana. O ambiente degradado atualmente é resultado e reflexo da degradação de uma espécie que terá de despertar para sobreviver. Existe uma vasta arqueologia interior que nos reconecta à natureza. São imagens reintegrantes e estruturantes, capazes de nos fazer uma espécie colaborativa, digna de co-habitar um ambiente sem destruí-lo ou às outras espécies.
Este é o desafio atual da humanidade: tornar-se ser humano, ser-em-comum, capaz de vinculação, colaboração e amor. Leonardo Boff fala de um novo paradigma de coexistência na Terra, em que todo conhecer é uma experiência do sentir. Segundo BOFF, “a dinâmica básica do ser humano é o pathos, é o sentimento, é o cuidado, é a lógica do coração”. Esta forma de conhecer passa pelo sentir, é capaz de trazer imagens estruturantes e sentidos de uma fonte profunda e interior, e de dar conta de uma realidade que tem um fundamento relacional.
O biólogo chileno Humberto Maturana, fala de uma biologia do amor, que seria esta a própria natureza das relações bióticas. Segundo ele, “é possível explicar a grande dificuldade de poder atingir um desenvolvimento social harmônico e estável (aqui e em qualquer parte do mundo) através do vazio de conhecimentos do ser humano sobre a sua própria natureza”.
É sobre essa natureza que a Ecologia Interior se foca, buscando através da sensibilização, despertar a consciência que conecta. A natureza vive dentro de nós, como símbolos e virtualidades. Composta pelo mineral, o vegetal, o animal, os mundos de baixo, do meio e do alto, como chamam os povos originários. Nas culturas indígenas, quando alguém adoece, é feito um rito de cura que consiste numa harmonização com a Pachamama. Sendo esta uma medicina do cuidado integral, que preserva o conhecimento ancestral sobre a constituição do ser humano, originado de barro e de sopro.
- O que é um jardineiro? Uma pessoa cujo pensamento está cheio de jardins. O que faz o jardim são os pensamentos do jardineiro -, dizia Rubem Alves. Se queremos um belo jardim, precisamos cultivar pensamentos de beleza. Se desejamos mudar o mundo, devemos começar por nós mesmos. Com a inteligência do coração, fazemos pontes onde antes havia fronteiras, polinizamos o espírito do cuidado em nossas ações no mundo, e refazemos o laço essencial entre todas as coisas.
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