Quem já ouviu esse começo de frase, sabe que vem uma história, um mundo encantado, cheio de mistérios, magias, aventuras, mas o quanto esse contato entre o mundo da fantasia é real?
Como Terapeuta Holística e Psicóloga Analítica Junguiana, posso afirmar que esse mundo simbólico é de extrema importância tanto para os pequeninos (as crianças), quanto para nós adultos.
Ler e reler essas histórias faz com que entremos em contato com a nossa própria jornada, faz com que olhemos para nossas frustrações e conquistas; isso também acontece com as crianças.
Para Dieckmann (1986), é por meio dessas figuras dos contos de fadas, que a criança aprende a corresponder às exigências e necessidades dos outros e do meio no qual está inserida, a se proteger e a combater as investidas contra sua própria personalidade. Aprende também a agir, resistir e superar forças como os adultos, assim como entender como eles são através da ideia que faz de si.
Posso afirmar que os contos para as crianças auxiliam tanto no desenvolvimento da personalidade dela, quanto para que ela possa internalizar, compreender o processo que está passando, referente a isso, Bettelheim (2004) diz que:
“Enquanto diverte a criança, o conto de fadas a esclarece sobre si mesma, e favorece o desenvolvimento de sua personalidade. Oferece significado em tantos níveis diferentes, e enriquece a existência da criança de tantos modos que nenhum livro pode fazer justiça à multidão e diversidade de contribuições que esses contos dão à vida da criança”.
Se prestarmos atenção quando uma criança pede para repetir diversas vezes a mesma estória ou assistir ao filme encantado por muitas vezes, provavelmente é porque algo ali precisa ser internalizado, precisa ser compreendido por ela, e quando isso acontece, ela simplesmente se "desencanta", pois já foi aprendido e internalizado por ela aquela determinada situação, porém, o que irá mover dentro de cada um será diferente para cada pessoa e diferente para a mesma pessoa em vários momentos de sua vida. A criança absorve significados diferentes da mesma estória, dependendo de seus interesses e necessidades do momento. Tendo oportunidade, voltará ao mesmo conto quando estiver pronta para ampliar os velhos significados ou substituí-los por novos.
Muitas vezes, um adulto irá contar uma estória para seu filho (ou para uma criança), que ele, quando tinha essa mesma idade adorava (ou ainda gosta), que fazia todo o sentido para ele, mas se essa criança não se ligar neste conto, segundo Bettelheim (1980), isto significa que os motivos ou temas aí apresentados falharam em despertar uma resposta significativa neste momento da sua vida, então o melhor a fazer é contar outra estória, até que a resposta seja positiva e confirmada através do “conte outra vez”, quando ela obtiver a resposta do que necessitava ou quando seus problemas forem outros, ela poderá perder o prazer nesta e escolher outra, no que deverá ser atendida.
Os motivos apresentados até aqui podem responder ao meu questionamento feito no início deste artigo, acredito que são os contos que copiam a vida real, ou seja, todas essas estórias nos trazem para o nosso cotidiano, os desafios que tanto nós quanto as crianças passamos, são as mesmas que os nossos heróis, príncipes e princesas superam, que as florestas que precisam percorrer e desbravar antes de encontrarem seus tesouros é simplesmente a nossa própria internalização e o reconhecimento de nossas competências para alcançar os objetivos que colocamos a nós mesmos e que o final feliz, o casamento entre príncipe e princesa, são simplesmente a nossa própria integração, o objetivo alcançado.
Essa é a grande importância do contato da criança com esse mundo de fantasias e sentir que nós adultos compartilhamos suas emoções, divertindo-se com o mesmo conto de fadas e sentindo que seus pensamentos internos não são conhecidos por nós até que ela decida revelá-los. Se por algum momento a criança perceber que já conhecemos, ela fica impedida de fazer o presente mais precioso, o de compartilhar o que até então era secreto e privado para ela (BETTELHEIM, 1980, p. 26 - 27).
Então, assim deixo o convite de se envolverem sempre que puderem com o “Era uma vez...”.
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