Hera é a grande deusa da Mitologia Grega. A rainha dos deuses é irmã e esposa de Zeus. Em Roma é conhecida como Juno. Preside o casamento e a fidelidade conjugal.
O nome Hera significa a protetora, a guardiã. Sua ave favorita é o pavão por possuir muitos olhos, com os quais podem vigiar o esposo. O lírio, símbolo da pureza e a romã, símbolo da fecundidade, também lhe eram consagrados. A vaca também lhe está associada, sendo um símbolo da Grande Mãe, mas no caso de Hera, daquela que derrama o leite dos céus, da via láctea.
Junto com Zeus, ela exerce uma ação poderosa sobre os fenômenos celestes. Hera pode desencadear tempestades e comandar os astros que adornam a abóbada celeste. O casal celeste controla o sol e a chuva que promovem a fecundação da terra.
Geralmente retratada como ciumenta, agressiva e vingativa. Vive se vingando das traições do marido, perseguindo as amantes e os filhos do adultério. Uma de suas vitimas foi Heracles (Hercules), o qual impôs os célebres 12 trabalhos.
Apesar da mitologia grega enfatizar a humilhação e a índole vingativa de Hera, ela era por contraste grandemente honrada e venerada.
A despeito da infidelidade de Zeus, a relação dos dois nunca foi muito normal. A raiva e a vingança pontuam sua relação em outros aspectos, mostrando que elas se originam de outro motivo.
Dificilmente podemos citar uma história mítica onde Hera não tenha uma participação mais ou menos importante.
Hera é uma deusa obstinada e com uma disposição a brigas, que às vezes fazia seu próprio marido tremer. Tanto que um dos poucos filhos que ambos tiveram foi Ares, o deus da guerra. Simbolizando os conflitos conjugais do casal, mas também a discórdia e a rixa entre o patriarcado e o matriarcado que havia perdido a sua força.
Ela se consolidou como deusa do casamento na época em que as regras, normas e leis do patriarcado entravam em vigência e nesse caso eles necessitavam de um representante da monogamia.
Hera pode ser considerada uma deusa ferida, em sua feminilidade, pois como uma poderosa deusa da fecundidade e que precedeu Zeus em veneração, ela assume um papel secundário que lhe foi dado ao lado do marido com o advento do patriarcado. Zeus é o macho fecundador e ela apenas a sua consorte. Seus aspectos de fecundidade foram relegados e suprimidos.
Enquanto feminino desprezado e humilhado, ela então passa a perseguir e se vingar justamente das mulheres isentando seu esposo do adultério. No plano pessoal, vemos Hera em muitas mulheres que em nome da instituição do casamento suportam agressões e infidelidade. Anulando seus desejos em prol da imagem de esposa perfeita.
O arquétipo de Hera proporciona capacidade de estabelecer elo, de ser leal e fiel, de suportar e passar pelas dificuldades com o companheiro. Em termos psicológicos, ela simboliza um amadurecimento da psique, onde homens e mulheres assumem um compromisso de lealdade com seus processos psíquicos e suportam as provações em nome de algo maior, que não se sabe explicar nem nomear. Esse compromisso pode ser projetado no outro, entretanto, é um compromisso consigo mesmo.
Seu amor é um amor amadurecido, em oposição ao amor erótico e passional de Afrodite, e por isso Hera tinha nessa deusa sua maior rival. Ela representa o amor onde a fase da paixão acaba e as projeções começam a serem retiradas e passamos a ver o cônjuge como ele é.
E nesse momento, em que vemos o outro como ele é, podemos nos sentir traídos, pois aquele homem ou mulher com quem nos casamos não é mais o mesmo. Na verdade vemos a pessoa sem as máscaras e nossas ilusões caem trazendo uma carga de sofrimento. Mas é nessa hora que a personalidade pode dar um salto de desenvolvimento com a assimilação das qualidades que projetávamos no outro.
O arquétipo de Hera é poderosíssimo e extremamente realizador. Entretanto é um dos mais destrutivos em seu aspecto negativo. Por essa razão, Hera era adorada e ao mesmo tempo desprezada.
Hera e Zeus formam um par de opostos em nossa psique, nossas necessidades de união e compromisso e nossas necessidades de transgressão às normas e fecundidade que gera um processo criativo. Ficar preso demais às regras e leis pode ser estagnador e nocivo, e ficar preso à pura sensualidade não traz desenvolvimento psíquico nem amadurecimento. Por isso Hera e Zeus representam duas forças colossais, com as quais a humanidade tenta se entender há séculos. E a busca do equilíbrio entre elas é algo que demanda muita energia e trabalho.
Quando o arquétipo de Hera é constelado, sabe-se que há uma busca de comprometimento da psique, uma união sagrada ocorrerá em breve, mas que trará também o estigma da traição e da transgressão que poderá gerar frutos se ambas forem compreendidas e reverenciadas.
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