O insípido espiritual, como o chamamos aqui, não conota o não religioso. Sem condimentos o alimento não tem o destaque do sabor. O de interior insípido, que em nada se preocupa com a espiritualidade, a vida se apresenta insonsa.
Necessário se torna para ele temperá-la, visto que, como a vive, chega ao momento do insuportável. Não tendo conhecimento, ou lastro, para entender o porquê da vida, ou porque vive, busca alegrias nos exercícios de prazeres exteriores de si.
Ainda, por não entender as razões da vida, o insípido espiritual busca o alívio de suas aflições e de suas incertezas no alcance de alegrias. A alegria é um estado de euforia temporário oriunda de uma satisfação material externa qualquer, enquanto a felicidade é um estado de euforia permanente oriunda da conquista da paz interior.
Maior a paz, maior a felicidade e quanto menor for a harmonia interior, maior será a insipidez, fazendo crescer o imperativo das satisfações externas.
A repetição das mesmas satisfações tende a torná-las habituais, cessando o efeito da alegria, gerando a necessidade de satisfações mais intensas. O descalabro deste desvio atinge situações com dedicação às fortes emoções decorrentes da violência, do sexo promíscuo, desregrado e animalesco.
Da ingestão de bebidas alcoólicas e do uso de drogas alucinógenas. A dor - ou o sofrer - que chamo de aprendizado, somada à dor do desvio, se torna cada vez mais intensa, insuportável até.
Construímos o nosso mundo exterior à semelhança do nosso mundo interior. Ter na evolução interior o tempero do espírito fará com que tenhamos a satisfação do viver, pois haverá sabor no que fazemos, tocamos ou pensamos.
O ser humano que perdeu, ou não adquiriu, a consciência da espiritualidade não conseguirá evoluir. Poderá crescer materialmente, mas não alcançara a plenitude do sabor da vida, porquanto se ilude na compra de alegrias.
O risco de nos desvirtuar é contínuo, por exemplo, quem não anda na moda é censurado. O insípido espiritual, por querer sempre ser moderno, acompanha a moda por mais corrupta que ela seja. Também, hoje em dia, a consciência própria é quase sempre desvirtuada pelo martelar contínuo das propagandas que criam e descriam necessidades.
Sem dúvidas, somos conduzidos pela mídia a nos comportar desse jeito, a nos vestir como desejam e a nos alimentar do que ofertam. Se nos deixarmos levar por esse vendaval, nos tornaremos em bois-de-carro, insípidos espirituais.
Não é dito aqui que nos tornemos retrógrados, absolutamente. Se a roupa mostrada na televisão nos agrada, por que não vesti-la? O que não podemos é perder a nossa individualidade, não corromper a consciência, e, principalmente, não alimentarmos a paixão aos conteúdos das vitrines e aos modismos.
O comedimento, o equilíbrio, a seleção racional, e, principalmente, saber sobre si como ser universal, parece-me ser um bom contraponto. De forma até grosseira, repito o que já ouvi desde criança: “Se você for mau, a sua alma vai para o inferno, mas se for bom, ela vai para o céu”. Como se fôssemos dois, eu e a alma.
O que perece é o corpo, o eu, o espírito ou alma, não morre, continua e ser o que é sem mudanças mágicas. Portanto, é fácil deduzir que somos consequência de nós mesmos: se insípidos, sofridos. Se com o sabor de uma vida construída, felizes.
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