Se você já leu o nosso portal, então percebeu que o assunto por aqui é abordado de um modo um pouco diferente do convencional, norteado pela medicina ocidental alopática. Estamos lidando com energia (Qi), relações com a natureza e filosofias orientais. Logo, a nossa abordagem sobre alguns temas obedecerá essas diretrizes, que são as bases da Medicina Tradicional Chinesa (MTC).
Sabendo disso, vamos dissertar um pouco, certo?
Então, por que ficamos doentes? Por que não conseguimos ser 100% saudáveis? O que acontece de errado? São perguntas que sempre vêm à tona quando adoecemos e mesmo até quando procuramos uma vida saudável.
Com nossas mentes enraizadas nos conceitos da medicina ocidental, podemos responder a tais indagações direcionando os pensamentos para influências externas, como vírus, bactérias, intoxicações, ação do meio ambiente e estilo de vida, dentre outros e internas, como por exemplo, alterações hereditárias e genéticas, o que não está errado. Todos sabemos da existência do vírus da gripe, que nos traz aquela coleção de sintomas clássicos. A Medicina tradicional chinesa define esses fatores externos e internos de um modo um pouco diferente, que, nos dias de hoje, graças à complexidade dos instrumentos diagnósticos modernos, podemos compreender o lado já citado, sem deixar de admirar o pensamento do médico chinês antigo, que de uma certa forma ofereceu outra visão sobre a constituição do ser humano.
Sabemos que o corpo é formado pela matéria física e pela energia que permeia a superfície e a parte interna, circulando em canais (ou meridianos). Sabemos também que a perfeita circulação do Qi oferece uma harmonia de todas as estruturas corpóreas, de uma certa forma, evitando a formação de alterações que possam levar a problemas. Logo, pela concepção da medicina chinesa, a circulação adequada do Qi, em harmonia juntamente com o equilíbrio do Yin e do Yang, em sintonia com a natureza, produz uma saúde estável. Pois bem, tudo isso já falamos um pouco nos tópicos dentro do nosso portal, mas qual o pensamento chinês então para essa concepção dos fatores internos e externos?
O Xie Qi
A teoria nos traz para a ideia da "energia perversa" ou Xie Qi, na qual todos nós nos submetemos diariamente. Tal energia corresponde aos fatores externos atuais, isto é, o Xie Qi tenta bloquear a circulação do Qi no corpo e quando é bem sucedido, pode trazer dores locais ou até mesmo sintomas semelhantes aos da gripe. Quando estamos saudáveis e com o Qi circulando de maneira plena, o Xie Qi não provoca efeitos e o corpo sai incólume frente a agressão externa. O melhor exemplo desse conceito é a invasão do frio que ocorre quando ficamos no ar condicionado. Por que alguns indivíduos ficam doentes e outros não em tais ambientes? O Qi nos indivíduos "invulneráveis ao ar condicionado" consegue bloquear a ação do Xie Qi (representado pelo frio) e impede a estagnação da energia no corpo, evitando os agravos.
Por outro lado, aqueles que não têm tal circulação boa, permitem essa invasão externa gerando doenças, que dependendo do meridiano e órgão atingidos, podem levar à inflamações respiratórias e alterações osteomusculares. O papel do acupunturista neste caso atinge a prevenção, melhorando a circulação do Qi das mais diversas maneiras e também no tratamento, eliminando o Xie Qi e restaurando a circulação energética normal.
A agressão externa também pode vir via alimentação, seguindo a mesma idéia do Xie Qi.
O fator interno
Existe a energia externa que desestabiliza a estrutura corpórea, mas também existe o fator interno, e aí o conceito do adoecimento é mais abrangente. Na teoria chinesa existe o conceito do Jing ou a "energia ancestral". Tal energia nasce com a gente e vai sendo consumida com o nosso amadurecimento, como se fosse uma poupança. Alguns indivíduos podem nascer com alterações no Jing gerando as doenças congênitas. É uma explicação, por exemplo, para as malformações congênitas ou doenças genéticas.
Por outro lado, temos os componentes internos associados à circulação do Qi nos órgãos. Devido a hábitos não saudáveis de alimentação ou mesmo de vida (incluindo a nicotina,o álcool, a vida estressante, o sedentarismo, as emoções afloradas), a circulação do Qi nos meridianos internos, correspondentes aos órgãos, fica comprometida e isso com o passar do tempo, ultrapassa o padrão de desarmonia energética e atinge o nível físico, gerando alterações estruturais e até mesmo celulares em órgãos, vísceras e estruturas ósseas. Seria uma teoria para o desenvolvimento do câncer, por exemplo, ou de um infarto ou AVC.
Hábitos errados de vida geram alterações energéticas e a maneira de tratar seria corrigí-los, evitando e mudando-os. Vamos exemplificar: Pegue um indivíduo estressado, de convívio social difícil, tenso, às vezes raivoso. A energia Yang nele é aflorada, e o desequilíbrio em relação ao Yin pode acometer um dos meridianos mais importantes do corpo, segundo a teoria dos cinco movimentos (que é assunto para outro tópico), o meridiano do coração. Tal desarmonia energética pode alterar a circulação do Qi no meridiano em questão, gerando até um infarto, com sua dor característica delimitando exatamente o trajeto do canal energético. É uma emoção, um estilo de vida que interfere no Qi de um órgão específico, levando à uma doença física relacionada.
Um outro fator de adoecimento ainda mais filosófico, atingindo até o campo religioso, mas que permeia em muito a medicina tradicional chinesa, é o componente do karma de cada indivíduo. O que até aqui parecia muito abstrato, a partir de então torna-se completamente esotérico, mas merece menção em um tópico a parte, certo?
O assunto é longo e com certeza vamos abordá-lo novamente em outros momentos por aqui, mas a mensagem que fica é a seguinte: A vida saudável, tanto mental (controle de emoções, ações benéficas, caridades, amor ao próximo e a si mesmo) quanto física (atividade física, boa alimentação, bom sono, controle do estresse), promove a circulação adequada do Qi e é a maneira principal de evitar as doenças. Não somos 100% saudáveis a vida inteira porque sempre estamos propensos a desequilíbrios energéticos. São provações diárias que podem alterar o nosso estado mental e constitucional, mesmo de caráter transitório, mas que podem abrir brechas para a má circulação do Qi. A ideia básica é manter o equilíbrio energético.
É uma tarefa difícil, mas não custa tentar, não é?
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