Rancor, mágoa e ressentimento são emoções que não são bem-vistas em nossa sociedade. Elas podem parecer nocivas e problemáticas, não sendo sentimentos que “pessoas boas” produzem. Assim, o perdão é o caminho mais “correto” para quem deseja se livrar dessas emoções, como uma forma de se livrar de sentimentos que causam um certo desconforto.
Contudo há um problema muito grande nisso tudo, que quero abordar neste texto.
Ao haver uma espécie de negação dos sentimentos de raiva e ressentimento, acabamos criando um perdão que pode ser algo fabricado. Isso faz com que coloquemos essas emoções embaixo do tapete. Não olhamos para essas emoções com profundidade nem entendemos que elas podem ter sua validade.
O perdão é uma emoção que brota do entendimento de que aquilo que aconteceu é a realidade, e que não há nada que possamos fazer. Porém perdoar não é aceitar os atos das pessoas como se nada tivesse ocorrido. Não é negar que temos raiva ou rancor daquilo que aconteceu. Precisamos aceitar que essas emoções estão ali e que elas têm uma função protetiva.
Se alguém agredia, maltratava ou abusava de você, sentir raiva ou indignação são emoções que te protegem, para que você se retire dessa situação. Do contrário, se sentisse apenas compaixão e perdão, você não sairia dessa situação e continuaria vítima desses problemas.
A raiva e a indignação são ferramentas que usamos para nos proteger de circunstâncias que são abusivas. Sentimos raiva toda vez que o cenário não é razoável. Se o que a pessoa faz não se justifica. Por exemplo, se alguém pisa em seu pé no metrô, mas logo em seguida pede desculpas e refere que não viu, a ação dela se torna razoável. Mas se ela ignora e ainda te ofende, a ação dela não se justifica, e assim nos acomete a raiva, por uma indignação e revolta sobre tal situação.
Se escondemos esses sentimentos, eles ficam latentes em nosso ser, prontos para serem ativados quando uma situação similar ocorrer. Essas emoções ganham força e geram desarmonias em nossa mente. Isso porque, ao negarmos as emoções, fazemos uma força contrária para que elas não apareçam. Paradoxalmente, ao fazermos essa força, geramos mais energia para essas emoções, e isso gera em nós desgaste e ampliação da raiva, ansiedade, tristeza e confusão.
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Dessa forma, achamos que temos que perdoar tudo e todos, e essa até é uma ideia boa. Porém não devemos forçar esse perdão, negando totalmente as emoções que habitam em nós, simplesmente por considerarmos que elas são erradas. Todas as emoções em nossa vida têm uma função, e, ao negá-las, geramos desarmonia. Esse desequilíbrio ocorre porque essas emoções precisam operar. Elas precisam ser satisfeitas.
Se você tem raiva, precisa entender o porquê de estar irritada e de onde vem essa frustração. Assim não irá transferir essa emoção para outra pessoa, pois entende que essa raiva está ali por um motivo. Assim você pode cuidar de sua raiva e entender por que a sente. O perdão é o próximo passo, mas deve ser dado no seu tempo. Se você não conseguir perdoar a pessoa naquele momento, está tudo bem. Não há vergonha nisso.
Ser sincero consigo mesmo é mais importante que perdoar o outro. Assim você terá o tempo certo para perdoá-lo.
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