Costuma-se dizer que a Páscoa é tempo de perdão, porque, sem ele, não seria possível nem para os judeus se libertarem da escravidão no Egito e nem para os cristãos se surpreenderem com a ressurreição de Cristo após a crucificação. Afinal, como obter uma graça divina, sem antes ter se desprendido de todo ressentimento e amargor? Muitos de nós acredita que basta dizer: eu te perdoo ou já esqueci para que as coisas fiquem bem. Porém, doenças, acidentes e uma vida cheia de infortúnios revelam que este perdão não aconteceu, posto que tudo o que jogamos na vida, seja na forma de pensamentos ou emoções, retorna para nós no mesmo grau. Ou seja, se ainda existe rancor dentro de nós, ele não irá desaparecer no ar só porque não estamos prestando atenção.
O que nos faz ter dificuldade em realmente perdoar é o nosso ego, também conhecido como amor-próprio. Quando nos sentimos feridos, lesados ou ofendidos, nosso coração de enche de mágoa e ficamos revivendo aquele momento negativo, várias e várias vezes. Se é muito dolorido, procuramos esquecer. Porém, basta que algo semelhante nos aconteça para que todas aquelas emoções negativas retornem com força total. É nessa hora que percebemos que as coisas não estão tão bem quanto imaginávamos.
O problema disso tudo é que guardar um ressentimento apenas envenena nosso corpo e nos mantém prisioneiros de uma ilusão, na qual nós somos vítimas de um terrível algoz. Isso acontece porque não compreendemos que ninguém é vítima de ninguém e que, no fundo, não há como alguém nos ferir ou atingir, ao menos quando o permitimos por causa de nossa insegurança. Portanto, querer se vingar ou ainda ficar mantendo um acontecimento na memória apenas para usá-lo contra outra pessoa, nunca irá de fato resolver o problema.
A justiça divina é perfeita e, do mesmo modo que nos mantermos com raiva irá se voltar contra nós, o que a pessoa fez de mal também retornará para ela. Desse modo, mesmo que não percebamos este retorno, já que nem sempre ele vem pelas mesmas vias, podemos pelo menos nos manter em paz simplesmente nos desapegando do que nos aconteceu e perdoando com autenticidade.
Uma história que ilustra bem este acontecimento conta sobre dois monges que andavam num rio e eram proibidos de tocar em mulheres. Porém, uma estava presa numa margem e precisava chegar a outra e pediu ajuda. Um dos monges se recusou, mas o outro teve compaixão e levou a moça nas costas até a outra margem. Quando os dois chegaram ao seu destino, muitas horas depois, o monge que não tinha concordado com o auxilo falou: eu não acredito que você tocou naquela mulher. Ao que o outro respondeu: eu deixei aquela mulher na margem há tanto tempo, mas é você que ainda a carrega até agora. Pergunte-se então o que você ganha em não perdoar.
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