Era uma vez um amor pequenininho. Chegava tão de repente, que era até fácil perder.
Amor miúdo assim, espalhado em pequenas coisas. Algumas palavras, um gesto inesperado. Sem arroubos, sem paixões inflamadas, sem declarações escancaradas, sem grandes promessas. Um amor quietinho, todo cheio de silêncios (silêncio que faz falta, às vezes, nesses tempos de barulhos sem fim).
Amor tão pequeno, que tinha até quem dissesse que – ele, mesmo - não era amor. Amor é coisa grande, muito complicada, precisa ser dita, repetida, reforçada, demonstrada. De um tamanho tão extenso que até assustava o amor pequenino. De um senso de importância tão vasto que até esquecia, às vezes, que o mais importante do amor é amar.
“Pra que sussurrar aquele sussurro de amor?” diziam“Se uma pessoa só vai ouvir?” Nesses tempos em que felicidade boa é felicidade postada, curtida e compartilhada, de que vale um amor que só uma pessoa vai ver? E o amor ouvia isso. E quietinho (como sempre era), no seu canto, refletia.
Podia ter acreditado, podia ter dado as costas para o mundo e ir sozinho, morrer, de amor. Mas ele era mais sábio que isso. Como muitas vezes são as coisas pequenas, infinitas em sua miudeza. E era nas suas contemplações, que ele se encontrava. Maior e mais forte, como só um amor de verdade poderia ser.
Namorados entrelaçando as mãos, sem nem perceber, quando andavam lado a lado. Senhores que ainda, depois de décadas de casamento, colhiam uma flor baldia para as esposas. Na rotina de dois corpos que nem precisam pensar para deixar vago o lado certo da cama. No encontro inesperado para o almoço, bem no meio da semana.
Em detalhes, doçuras, cada canto de carinho. Ali estava ele, um pequeno, simples, apaixonado amor. Em fotos mesmo, postadas, curtidas e compartilhadas, bem naquele encontro de sorrisos no qual só os dois sorridentes prestaram atenção.
Era uma vez um amor pequenininho.
Se alguém perguntasse, ele não negava que o mundo precisa, sim, de grandes amores e de paixões sem fim. Mas ele diria, também, que (podem até não acreditar)naquelas quintas-feiras de inverno, quando o mundo inteiro está proclamando o amor, lá vai ele, no abraço daquele casal, naquele cantinho, que ninguém nem reparou. E que está cheio, repleto, transbordando de um pequeno amor.
“Se tu me amas, ama-me baixinho. Não o grites de cima dos telhados. Deixa em paz os passarinhos”. Mário Quintana
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