Josefa tinha 42 anos quando nos conhecemos. Meu trabalho como Taróloga fora indicado por uma amiga em comum.
Casada há 22 anos, mãe de dois filhos adolescentes (Joana e Joel) que estavam brigados, sua única preocupação era saber se continuaria a se relacionar com o amante.De quebra quis saber sobre o marido e os filhos e também se reencontraria outro amante que tinha numa cidade do Interior Paulista.
Habituada a tratar todo caso sem preconceito, brinquei com ela dizendo que eu estava só e ela tinha três homens... Com voz marota disse que não era a Dona Flor mas tinha os seus maridos.
Quando o Tarô revelou-lhe cada caso, acrescentando ainda sua situação espiritual (não questionada) e recomendações para assepsia de aura, realinhamento de chacras e tratamento de obsessão, o que parecia impossível começou a acontecer.
Dada à franqueza sobre seus casos extraconjugais, Josefa não tinha pudor algum em contar que, depois que seu marido perdeu tudo o que tinham, gastando com outra mulher, deixando-os na miséria, com fome e com dívidas e tendo colocado o filho contra a mãe, acreditava que só usando a Lei de Talião é que podia sentir-se vingada e verdadeiramente mulher. Passou a manter relações sexuais com qualquer um que estivesse disponível, sem muito gosto pela coisa, apenas com muita vontade de fazer o marido João sentir a dor da traição.
Foi assim que começou a colecionar amantes, como costumava dizer. Tocada pela franqueza do oráculo, a mesma que lhe garantia falar a verdade a qualquer um, Josefa interessou-se em saber mais sobre obsessão. Foi quando a encaminhei para um centro espírita filiado à Aliança Espírita Evangélica.
Josefa estava tão grata pela atenção que de mim recebia (a mesma que dispenso a qualquer outro consulente, mas que para ela era especial), que não lhe foi difícil fazer a maior propaganda de meu trabalho dentro do Centro R., um local aconchegante, próximo de sua casa e que fora por mim indicado. Ingênua, Josefa pensava que lá também eles lessem o Tarô e vissem a vida da pessoa - como eu faço trabalhando com o Tarô -, para melhor atender quem os procurasse. Acabou despertando a curiosidade da dirigente da instituição, que à época não podia entender como uma Oraculista havia recomendado o centro espírita como local seguro para a obsessão (os Tarólogos ainda são confundidos com charlatões e estelionatários que se aproveitam da fraqueza humana para ganhar algo em troca).
Começava aí a sua transformação por amor.
No Centro R. ela foi tratada com amor pelas pessoas e pelos espíritos que lá trabalhavam. Conheceu Jesus e seus ensinamentos. Passou a sentir no próprio corpo físico a atuação dos eflúvios benéficos que lhe eram transmitidos durante o tratamento espiritual, através dos passes magnéticos. Aprendeu a rezar, a fazer vibrações de amor por si mesma, pela família, pelo mundo inteiro. Lá foi convidada a cursar a Escola de Aprendizes do Evangelho. Telefonou-me rapidamente para perguntar como fazer para se desvencilhar do convite, já que havia fugido da escola no antigo terceiro ano primário e se julgava incapaz de ler e escrever e mais ainda de compreender. Respondi que não deveria recusar o convite por este motivo, que deveria ouvir seu coração. Josefa me disse que nem sabia que coração tinha voz, que o dela não falava, mas que - se eu estava orientando - certamente ela conseguiria esse milagre.
O Natal de 2000 estava chegando quando tocou o telefone de minha consultoria. Josefa, toda contente, falava com a mesma rapidez de seus pensamentos, o que nos proporcionou gostosas risadas. Havia ligado para contar que na noite anterior, deitou-se para dormir, respirou profundamente por umas cinco vezes e falou:
“Jesus, você sabe quem eu sou e o que eu faço. Conhece todos os motivos que me levaram a errar e a acertar, a estar feliz e a estar triste. Sabe que por muitas vezes fui injusta comigo mesma e com as outras pessoas. Agora que eu sei que tenho intimidade contigo, eu estou querendo ouvir a voz de meu coração. A Merit disse que meu coração falaria. Olha, Jesus, se coração não fala, não tem importância, não vou ficar com raiva dela. Estou aprendendo a confiar e confio que você me ama do mesmo jeito que ama as mulheres direitas”.
Ela reproduziu ao telefone a sua oração, com a voz embargada de emoção. Enquanto eu a ouvia, podia ver no espaço, que ela estava sendo auxiliada por amigos espirituais, sempre prontos a agir em nome de Deus e do Mestre Jesus. Contou que depois da oração continuou em silêncio, sentindo os batimentos cardíacos e pensou: sou tão ignorante, tão imunda, não valho muita coisa, mas finalmente consegui sentir que há pessoas que gostam de mim. Como vou estudar se mal sei escrever? Ao cabo de alguns instantes ouviu seu coração dizer que sua vontade era o bastante para mudar as coisas.
No ano seguinte inscreveu-se no curso de Aprendizes do Evangelho do Centro R. e foi passando por todas as experiências, como a criança que entra na pré-escola e é alfabetizada. Alegrou-se por conhecer o velho e o novo testamentos, o Espiritismo, os grandes personagens da história espírita e mais ainda por conhecer novas pessoas. Entusiasmou-se com sua capacidade de aprender, de ler, de escrever, de compreender e não se envergonhava em perguntar quando tinha dúvidas. Fez o curso de Médiuns, trabalhou como passista da casa espírita, galgou os graus de aprendiz, servidor e discípulo de Jesus. Passou por provas de reforma íntima, de assiduidade, por exames espirituais e surpreendeu-se quando participou como palestrante de um seminário espírita.
Paralelamente ao aprendizado e às conquistas intelectuais, durante os três anos de referido curso, Josefa foi operando em si a reforma íntima que todos pretendemos, sem medo de estar perdendo alguma coisa, sem ansiedade por poder ganhar qualquer outra coisa, de forma gradativa, positiva e natural.
Josefa hoje tem 45 anos e é outra mulher. Com a mesma franqueza de outrora, reconstruiu sua relação afetiva com João, criando um novo casamento; também exemplificou o amor aos filhos, de maneira que ambos são hoje amigos. Joana, que se drogava, hoje trabalha. Joel que era retraído e maltratava a mãe, também trabalha e adora presentear Josefa com mimos diversos.
Josefa descobriu que sua mudança íntima havia criado mudanças no comportamento da família inteira: sua casa foi reformada, seu marido criou jardins belíssimos para embelezá-la, novas mobílias trouxeram um ar diferente à residência. E o melhor de tudo: a família estava refeita e as relações em franco progresso. Até hoje os vizinhos não entendem a mudança de Josefa, mas uma boa parte deles aderiu voluntariamente aos projetos sociais que ela desenvolve.
Mesmo considerando-se Espírita kardecista, Josefa é devota de Nossa Senhora Aparecida. Toda semana me telefona para contar as boas novas. Invariavelmente me diz: Pois é Merit. Quem me viu e quem me vê. Deus te abençoe. Deus te abençoe Josefa por mostrar ao mundo a capacidade que temos para mudar.
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