Em workshops e palestras que ministro há quatro anos, sempre abordo o assunto sobre a influência que sofremos, na primeira fase da infância, de socialização da criança.
E começo falando de Wilhelm Reich e seu estudo sobre as massas, em que ele questiona o porquê aceitamos a presença da dominação e reproduzimos também isso. E nas discussões entramos em um consenso em perceber que desde nossas relações primárias no ambiente familiar, aos poucos somos formatados a um padrão aceito socialmente referente à época em que vivemos.
Nossos pais assumem a representação do Estado e determinam o certo e errado, o pode e não pode, o sim e não, os horários pré-estabelecidos para a realização de cada obrigação e afazeres. E utilizando do amor incondicional do filho, vai moldando a criança para ser inserida a sociedade vigente.
Este padrão hierárquico vai sendo alimentado e estendido para nossa relação acadêmica, profissional, amorosa, religiosa, espiritual. E criando uma espécie de inconsciente coletivo ao qual esta reprodução perde sua compreensão de fato.
Na escola a criança, pela primeira vez, entra em contato com a sociedade fora do ambiente familiar. Porém nele está inserido o agente limitador, sendo representado pelo professor, que assume o papel do Estado.
É neste ambiente onde as obrigações sociais, culturais e éticas vão sendo solidificadas. A disciplina é cobrada ao mapear o horário das obrigações e tempo livre. Você é colocado para estudar DISCIPLINAS durante toda a manhã e são disponibilizados 15 ou 20 minutos de intervalo para fazer o que quiser, além, de ir ao banheiro, se alimentar, conversar, brincar e paquerar. Após é retomada a ordem, e todos voltam para seus postos.
Este padrão de divisão de tempo, obrigatório e livre, vai se estendendo e chega até o campo profissional, ao qual se trabalha oito horas para uma hora de almoço. Ou trabalha um ano para 15 dias de férias. E além de ter uma maior carga horária, sua importância é primordial, a ponto de outras necessidades como consultas médicas, exames, compras, visitas a parentes, vão sendo colocadas dentro do seu tempo livre, que a cada dia se torna menor. E que se colocadas no seu tempo de trabalho, será cobrado uma justificativa plausível e documentada para o abono desta falta, e se tornar recorrente acaba sendo punido administrativamente.
Com este movimento que vamos sendo embotados, nossas vidas se tornam crônicas e nosso corpo não encontra tempo para retomar seu equilíbrio natural. Começa a ser corpodificado esta neurose social, doenças começam a ser somatizadas e não compreendemos o que está acontecendo. Questionando: “Por que eu? Sendo que faço tudo do jeito que tem que ser”.
A questão é, será que tudo que eu faço tem um sentido ou simplesmente repito o que foi me passado? Será que eu vivo uma vida autêntica ou vivo da forma que dizem que DEVE ser? Quantas vezes você já se perguntou o PARA QUÊ de realizar algumas atividades? Será que perdemos a gestão de nossas vidas?
Em algum momento seu corpo te dará pistas do que está realmente acontecendo com você.
“Se uma pessoa está vivendo a sua vida, respeitando sua natureza, respeitando seus impulsos naturais, respeitando sua singularidade, sua originalidade única, e fazendo com que os indivíduos que vivem ao seu redor, também, consiga respeitá-lo da mesma forma. Esta pessoa não pode se dizer uma anarquista, mas ela está vivendo de uma forma libertária”. (João da Mata)
Observe um pouco se sua vida tem sentido e reflita sobre isso. Sinta o que é ideal para você e tente pensar no que te impede de colocar este ideal em prática. Retome o controle de sua vida e faça valer a pena. Pense nisso!
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