Em novembro de 2016, o meu então “namorado” me mandou uma foto com uma ninhada de gatinhos. Eu já tinha falado para ele do meu desejo de ter um bichinho, não necessariamente um gato. Na verdade, não tinha boas referências sobre eles. Minha mãe os odiava e minha avó tinha tido uma veia da perna dilacerada numa brincadeira de um.
Junto com a foto veio a frase: “Você quer um? Acho que tem uma fêmea”. A única coisa que eu sabia é que queria fêmea. Aceitei, não de pronto, mas aceitando um grande desafio. Eu estava adotando uma gatinha! Um mês depois ela foi desmamada e fui buscá-la numa casa grande e cheia de bichanos em Moema. Levei uma caixa de transporte rosa e um monte de medo. Será que vou dar conta? Será que vou me adaptar? Dizem que os gatos são traiçoeiros e egoístas, será que é mesmo verdade?
Cuidei dela desde o primeiro dia. Demos o nome de Lorelai Gilmore, já que sou apaixonada pelo seriado e me identifico pacas. Ela chorou no primeiro dia, depois não mais. Fez xixi na minha cama uma vez porque se assustou quando eu entrei em casa e peguei ela dormindo lá. Levei ao veterinário, dei as vacinas, e aos seis para sete meses ela fez a castração. Tudo bonitinho.
Mas quando a deixei no veterinário, marido de uma amiga, ela me mandou uma mensagem: “a Lore é brava”. Achei que era exagero. Ela não tinha muito contato humano, talvez fosse isso. Sim, ela era arteira e me arranhava muito, mas isso não é era normal? Também me mordia com certa frequência. Achei que a castração iria resolver isso, deixá-la mais calma.
Sábado passado, quatro meses depois da castração, ela estava deitada no meu colo. Eu já estava bem chateada da sequência de mordidas e arranhões que ela andou me desferindo, mas foi ela quem deitou no meu colo e estava até ronronando quando, do nada, pulou no meu braço e o agarrou com a boca, com força. Sentia os dentes dela atravessarem a carne e chegarem até o osso. Tentei manter a calma e, aos poucos, ir soltando-a.
Fiquei muito, muito nervosa. Tinha acabado de lavar o banheiro que destinei a ela. Comprei todos os brinquedos e usava parte do meu dia para brincar com ela. Ela me mordeu do nada. Eu chorei muito, de raiva. Sai de casa em seguida decidida: vou doar essa gata.
Pensei que o problema fosse o lugar. Moro sozinha, em um apartamento pequeno e onde, infelizmente, não bate nenhum sol. Ela passa parte do dia sozinha porque preciso trabalhar e tem muita energia que sei que não consegue soltar por não ter mais gente ou mais gatinhos para brincar.
Já tentei colocá-la em uma coleira para passear no prédio, mas ela não deixa (chegou a tirar a dentadas a roupa cirúrgica que ela trouxe do veterinário e destruí-la). Pedi instruções para veterinários, amigos, pessoas que cuidam de gatos. Assisti dúzias de vídeos na internet e nada parecia resolver. Até que me caiu uma ficha enorme.
Uma ficha que tem a ver com a personalidade das pessoas, com as personalidades dos animais e, principalmente, com as minhas carências e expectativas. Em como a educação é apenas uma pequena parte do que faz um ser humano ou um animal de estimação. Do poder do sangue, da natureza e do instinto em cada um de nós. Mas vou escrever isso no próximo artigo.
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