Pois é, se você não leu a parte um deste artigo, sugiro que leia. Lá eu contextualizo isso tudo que vou escrever aqui. Isso posto, vamos às minhas fichas.
Gatos são seres independentes. Eles não gostam de coisas que a maioria dos cachorros acharia super legal, tipo brincadeiras com bolinhas ou cócegas na barriga. Cachorros são mais dependentes de seus donos, não costumam comer quando são deixados só e conheço um que só faz xixi se a dona, em pessoa, levá-lo para passear. Eu tive só um animal em casa na vida, a cachorrinha chamada Meg na casa dos meus pais. Eu conhecia isso.
O meu erro com a Lore foi tentar colocar uma personalidade livre dentro de um formato canino. Vejam bem, não tem nada de errado em ser de um jeito ou de outro, o problema é esperar coisas que eles não são capazes de nos dar. Os bichos não se adaptam, mentem ou colocam uma máscara como pessoas. Os bichos têm uma coisa muito forte chamada instinto.
É incrível como não acessamos isso em nós, humanos, bichos que também somos. O fato de usarmos o fogão e não nos darmos banhos em lambidas não quer dizer que não tenhamos isso. Aliás, vemos pessoas mais instintivas sim, que até “chocam” as outras.
Comecei a pensar em como eu esperava dela um comportamento mais canino, mesmo que inconscientemente. Sim, porque eu sou uma pessoa mais canina. Isso tem a ver com a personalidade do dono também, no caso a minha. Quando a coloquei no meu colo e comecei a acariciar a sua cabeça, ela não estava gostando nada. Na natureza, os felinos não recebem cafunés de uma mão forte e gordinha o dia todo. Eles não sentam no colo de ninguém e nem querem saber se você está triste ou feliz.
Mas ela é companheira. Ela gosta de estar onde eu estou, ainda que só ali, do lado. Ela fica feliz quando eu chego e adora me acordar, quando eu durmo até mais tarde, porque quer a primeira parte do seu pacote de sachê diário.
Ela arranha coisas, porque é um gato e sim, ela sente falta de sol e de espaço e isso ainda me faz pensar se ela não estaria melhor em um lar com mais gente, outros animais ou mais espaço. Mas agora, se isso acontecer, não será pelos motivos errados.
Na realidade, projetei minha parte mais carente nela. Eu queria o amor incondicional, mas queria à minha maneira. Queria que o amor dela fosse como costuma ser o meu (será?), cheio de manhas e carinhos. Mas o amor dela, assim como o amor de muitas pessoas com personalidade mais gato, não é assim. E não, isso não quer dizer que não seja amor. Só quer dizer que é uma maneira diferente de amar.
Sim, existem pessoas mais gato (independentes, livres, sem frescuras) e personalidades mais cachorro (mais dependentes, amorosas e até carentes), e eu me vi encaixada na segunda categoria. Mas o legal é possamos ter um equilíbrio entre essas duas forças da natureza em nós, ter um lado mais carinhoso (sem dependência) e um lado mais livre (sem egoísmo).
O que a Lore tem me ensinado, dia a dia, depois do último ataque, é como dar amor a ela e receber esse amor, de acordo com o que ela é e não de acordo com o que eu acho que ela deveria ser. E isso é uma lição extremamente importante para mim, porque eu sou dessa que, até hoje, tentei mudar as personalidades das pessoas que eu amei, chamando isso de “amor” quando na realidade poderia ter sido só carência mesmo.
Estou me sentindo bem melhor depois desse entendimento. E foi ela que me deu isso. O mais importante é sempre entender os eventos da nossa vida, o que eles querem realmente nos passar, principalmente quando eles mexem tanto com a gente como isso mexeu comigo. Equilibrar a nossa vida e as nossas emoções e respeitar, principalmente, o jeito de ser e de amar das outras pessoas.
Não sei ainda se o melhor para ela é ficar comigo. Se chegar nesta conclusão, vou saber que esse é o amor que ela pode me dar e vou aceitá-lo de bom grado. Se perceber que ela tem outras necessidades, vou amá-la mais ainda, para que possa ter um lugar onde a liberdade dela possa ser exercida. Mas tudo, sempre, em nome do amor.
E você, lendo tudo isso, é mais gato ou cachorro?
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