Eu tinha um amigo que era um verdadeiro garoto-enxaqueca. Sabe aquelas pessoas que carregam sua própria nuvem negra pairando sobre a cabeça por onde quer que vão? Era ele. E o pior não era isso: era a arrogância (pois é, nossa amizade não durou muito tempo) de achar que sabia de tudo.
Eu sou uma pessoa muito, muito curiosa, que adora aprender. Eu costumava perguntar coisas sobre a religião dele, por curiosidade mesmo, e ele começou a achar que tinha algo que eu não tinha. As respostas, quando eu perguntava, começaram a ficar estranhas. Primeiro ele ria dos meus questionamentos, como se eu tivesse alguma obrigação de saber. Chegou a um ponto de “não vou te responder isso, não tenho mais paciência”. E, claro, eu me afastei completamente.
Não tenho cinco anos, e é claro que eu não o lotava de perguntas nesse sentido. Mas só depois percebi o que aconteceu. Ele me admirava muito, e saber que ele tinha algo que eu não tinha fez com que ele se sentisse “seguro demais” com relação a mim. Era como se ele tivesse um segredo, e, se me passasse, perderíamos a nossa posição de iguais. É óbvio que tudo isso só se passava na cabeça dele, mas a arrogância de “saber tudo” estragou a nossa amizade. E, soube depois, outras amizades também.
Então por que ele foi tão arrogante? Porque se sentia inseguro. Uma pessoa que sabe – e sabe que sabe – não tem o menor problema em guardar todas as informações para si, em nenhuma área. A generosidade é uma coisa de pessoas felizes, bem resolvidas e seguras. Então, por que quem é mais inseguro acaba ficando arrogante?
São mecanismos de defesa do nosso ego. Precisamos mostrar uma coisa que não somos porque não queremos que o outro veja a realidade – a nossa inferioridade imaginada. Quanto mais a pessoa se sente inferior, mais ela precisa disso. Veja bem, não confunda saber as coisas e passar para os outros com arrogância, é bem o contrário.
O arrogante real não passa nada para ninguém, muito menos de graça. Para ele, aquilo o mantém numa posição privilegiada, e ele não quer perder seus privilégios. Pode usar isso como um subterfúgio, como uma maneira de tirar o foco do problema.
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E o que aconteceria se eu passasse por cima disso e, mesmo assim, continuasse a amizade? Possivelmente os níveis de arrogância subiriam cada vez mais quando ele visse que estava “funcionando”. Mais ele seria arrogante, passando para a grosseria e – porque não dizer? – a violência verbal ou até mesmo física. Não saberei nunca aonde isso chegaria, porque não quis pagar para ver. Nem precisamos.
Como lidar com isso? Abandone o arrogante falando sozinho, mesmo que você precise ouvir um discurso porque ele é alguém de autoridade para você. Não permita que as críticas entrem em você e, na medida do possível, vá se afastando. Se a pessoa perceber que esse comportamento só o está deixando mais infeliz, ele tem uma chance de mudança. Mas se alimentarmos isso, por medo ou dependência, criaremos um verdadeiro monstro.
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