O arcano III do Tarot, conhecido como A Imperatriz, fala da feminilidade e sabedoria terrena. É a mulher no comando, a Rainha, a Madona, a Grande Mãe Terra. Ela une em si todas as Rainhas do Tarot: a de Paus, Copas, Ouro e Espada. Ela une Mago e Papisa em si, pois é a soma do I e do II. Então, vemos nela a astúcia e ação do Mago, com a intuição e conhecimento da Papisa.
“Podemos dizer que a varinha mágica do Mago tocou as profundezas da Papisa e, dessa união, através da mediação da Imperatriz, algo novo passou a existir.” (NICHOLS, 2007).
Ela coloca intuição na prática. É amorosa, fecunda, terna, compassiva, nutridora, mas enérgica, ágil e dominadora.
“O cetro de ouro da Imperatriz no tarô de Marselha, ostenta o orbe da realidade terrena encimado pela cruz do espírito. Essa capacidade de ligar o céu à Terra, o espírito à carne é, com efeito, um dos principais atributos da Imperatriz, ainda mais evidenciado pelo modo com que o seu trono lembra um par de asas de ouro.” (NICHOLS, 2007).
Ela é a fertilidade, a sabedoria da natureza, da alegria dos prazeres do corpo. E com o escudo protege com amor maternal.
Enquanto a Papisa mantém os braços em posição fechada, protegendo os segredos do corpo, a Imperatriz mantém os braços abertos, indicando uma natureza mais sociável e generosa. Ela não esconde os cabelos, ela os deixa cair livremente.
Ela dispensa alimentos tanto material, quanto espiritual aos súditos. Ela sai do ambiente confinado entre duas pilastras da Papisa e se embrenha em espaço aberto próximo da natureza. Enquanto a Papisa segura o livro da profecia e a Imperatriz representa e realiza a profecia. O livro já não é necessário.
No Tarot Mitológico está associada à Demeter, a grande deusa da vegetação e dos mistérios Elêusis. E o contato com a natureza fica mais evidente nesse Tarot, uma vez que ela é representada grávida, em meio a natureza, mostrando assim seu caráter de fertilidade, realização e prosperidade.
Na Mitologia Grega, Demeter é a deusa que representa os processos de maternidade e geração de vida e de alimento. Senhora da agricultura, do trigo, da terra cultivada, das colheitas e das estações do ano.
O caminho da Imperatriz nos auxilia no contato com o corpo, como símbolo do receptáculo de algo sagrado: a alma. É a conscientização de sermos parte da natureza e de estarmos ligados à vida natural. E a apreciação em todos os sentidos dos prazeres simples da vida cotidiana.
A Imperatriz é o arquétipo da mãe boa interna. Aquele aspecto interno que permite que sejamos a nossa própria mãe. Ela permite também que acessemos a nossa criatividade interna, ou seja, o nosso lado artístico.
Do lado negativo desse trunfo, temos a privação, a falta de calor e contato humano. A impossibilidade de gerar qualquer coisa na vida e de dar frutos, A impaciência e o não saber esperar com tranquilidade até o momento em que as coisas estejam maduras, para então ter condições de agir.
Nos contos de fadas encontramos essa Grande Mãe natureza, destituída do caráter de deusa, mas não menos poderosa e generosa.
Em “Cinderela”, temos um exemplar de Imperatriz na figura da Fada Madrinha. Neste conto a mocinha não tem um pai presente, ele se ausenta e é fraco. Mas é essa ausência paterna que inicia a ação, que culmina em abuso e vitimização, até o encontro com o príncipe (o masculino que retorna transformado). Mas para ela se encontrar com essa energia masculina dentro dela, ela precisa agir e confiar.
Enquanto fica na espera, ela age como a Papisa, intuindo o que pode fazer. Até que aparece essa mãe boa, a Fada Madrinha, com sua mágica e força feminina, e coloca a vida de Cinderela em movimento.
A evolução da consciência feminina se espelha neste conto, que sai de um estado de Papisa para Imperatriz, quando ela se casa e assume seu reino, sua função e passa a se movimentar com o auxílio desse masculino interior. Cinderela aguarda com paciência, e assim consegue ser agraciada com a prosperidade e abundância advindas da sabedoria feminina.
À espera de uma gravidez e à espera da colheita é a sabedoria da Imperatriz para que criemos nova vida.
A fada permite que Cinderela se torne bela e atraente, e esses são atributos da Imperatriz. A beleza, a atração, a autoestima. Quando esse arquétipo constela em nós, queremos nos arrumar, enfeitar, começamos a ver beleza em nós, nas coisas e nas pessoas.
A Fada Madrinha como representante da Imperatriz, Madona, Grande Mãe terra, é o espírito da boa mãe que existe em cada um de nós, que leva a ação. Não à ação masculina, mas para a ação combinada com intuição, com espera paciente e perspicácia de saber agir no momento certo. Ela é a energia de criação, que sabe a hora de trazer renovação em nossas vidas.
Nos filmes, ela apresenta a varinha mágica que encontramos no Mago, unindo como a Imperatriz as duas energias: intuição feminina e magia masculina. Por isso a fada é capaz de movimentar a vida de Cinderela e levá-la ao conhecimento prático da vida e não apenas teórico.
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