A professora da minha terceira série era uma mulher séria. Não lembro o nome dela, aliás, não me lembro do nome de nenhum professor, a não ser aqueles que realmente se destacaram de verdade na minha vida. Mas lembro das expressões dela.
Ela passou um trabalho para o dia da Árvore. Cada aluno deveria fazer um cartaz sobre o dia e levar na próxima aula. Como a sala era cheia de crianças e o espaço era pouco, ela selecionou as crianças que deveriam levar o trabalho. Eu estava doida, doidinha para fazer o cartaz. Levantei a mão repetidamente, mas ela não me olhou, aliás, problema que eu mantive por toda a infância e adolescência. E não me escolheu.
Mesmo assim eu não desisti. Ignorei o fato dela não ter me escolhido e, no dia marcado, levei o cartaz. Fiz porque há muito tempo eu tinha uma idéia na minha cabeça, de fazer uma árvore com forminhas brilhantes de brigadeiro. Fui sozinha à loja, comprei as forminhas com o dinheiro do lanche, e fiz o cartaz. Chegando à escola no dia estipulado, ouvi uma salva de vaias de meus coleguinhas e algumas risadinhas. Você é tonta, você fez o trabalho e nem precisava fazer. Continuei firme ignorando as risadinhas sarcásticas e a falta de personalidade de meus amiguinhos. Quando a professora entrou na sala, a primeira coisa que ela fez foi perguntar às crianças escolhidas quem levou o trabalho. E por incrível que pareça, nenhuma delas levou nada!
Se não fosse a minha pequena árvore de forminhas de brigadeiro, o Dia da Árvore teria passado em brancas nuvens. Claro a professora me elogiou na frente da sala toda, exaltando minhas qualidades e colocando as outras crianças abaixo de cachorro (naquele tempo ainda existiam professoras assim). E eu saí feliz da minha vida!
Esta história me ensinou tanto, mas tanto. E aposto que ensinou aos meus coleguinhas de terceira série também. Isso porque, como toda boa ariana, eu não obedeci simplesmente às ordens e crenças e parti para aquilo que eu queria fazer. Eu tinha uma certeza tão grande de que quando a professora visse, ela não ia reclamar que nada poderia me impedir de entregar a minha árvore, que ficou exposta na sala de aula até o final do ano.
Quando queremos alguma coisa na nossa vida, nossa primeira reação é reclamar. Que droga, nada dá certo, as coisas não são como eu quero. As pessoas não agem como eu quero o governo não facilita, a crise mundial, a violência, as chacinas e aí entra os seus pais e a educação que recebemos e mais qualquer coisa que justifique o nosso fracasso. De fato, problemas não faltam na vida de ninguém, nem impedimentos. Mas graças a Deus temos dois braços, duas pernas, dois olhos e inteligência para fazer alguma coisa.
Mesmo pessoas com menos do que isso fazem! Pessoas cegas, pessoas que não andam, que não tem os braços ou tem problemas de qualquer ordem. E parece que tem ainda mais energia do que as pessoas ditas perfeitas.
O fato é que todos nós somos perfeitos. Sim, temos coisas que queremos mudar e coisa que nos incomodam e que nos fazem sofrer, mas podemos mudá-las. E não interessa se a professora pediu ou não a lição: faça! Faça aquele trabalho a mais que a destacará na empresa. Fique a frente de um grupo de estudos. Assuma a comissão de formatura da sua turma, não sei, qualquer coisa. Não viemos para o mundo para cumprir obrigações e sim fazer o que nossa alma pede. Não deixe para depois o que você pode fazer hoje que, apesar do lugar comum, é a mais pura verdade.
Os fracassados de alma são as pessoas acomodadas. Quem espera por ordens e situações adequadas pra fazer as coisas, e isso não existe. Não existirá o dia perfeito, não existirá a tal da hora certa. É você com você para sempre. Não adie a felicidade que pode ter hoje, nas pequenas coisas que existem no mundo, que nos fazem urrar de tesão! Não deixe de se apaixonar pelas coisas boas da vida, não pelos seus dramas, contando pela quadragésima vez a mesma ladainha de que não tem dinheiro para nada. Chega. Para com isso!
Vamos nos libertar do sedentarismo da alma. Deixá-la funcionar a plenos pulmões, de verdade. Fazer a diferença no mundo sem se importar com o que os outros falam. Isso é uma dádiva, um presente que podemos dar a nos mesmo hoje, agora. Neste exato segundo.
Faça deste minuto a hora da sua virada.
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