Há alguns anos eu fazia um curso com o Luis Gasparetto. Era um encontro semanal, na verdade, para aprendermos sobre autoconhecimento e espiritualidade. Toda semana tinha um tema diferente.
Não lembro qual era o tema naquele dia, mas a parte mais divertida era esperar ele passar por você (ele andava pela sala, enquanto permanecíamos sentados) e dizer algo, qualquer coisa, um spoiler da sua vida ou uma dica da espiritualidade sobre como conduzir as coisas. Como ele é um médium famoso e reconhecido, geralmente o que ele falava era bem certeiro.
Eu achava que estava feliz na época. Tinha feito uma dieta e perdido 14 quilos. Não comia carboidratos de jeito nenhum e me matava na academia diariamente. Foi quando ele passou na minha frente e parou entre as minhas pernas.
Ele estava falando sobre desistir de algumas coisas. Dizendo que às vezes forçamos ser algo que nem temos preparo para ser ou queremos coisas que não temos preparo para ter. Ele me olhou no fundo dos olhos e falou: "Desiste de emagrecer. Você não está vendo que não está funcionando? Não é isso que a sua alma quer".
Imagina a minha cara e como eu fiquei. Já tinha eliminado 14 quilos, como assim desiste? Eu estava determinada. Era determinada. Eu sempre fui determinada. Eu podia fazer aquilo, quem era ele para duvidar?
O choque foi tão grande que desisti do curso algumas semanas depois. Chorei demais quando cheguei em casa e até meus pais, que na época também faziam o curso comigo, ficaram indignados com a grosseria. Fui em mais algumas aulas, mas depois a motivação foi minando, minando até eu abandonar de vez. Hoje, depois de alguns anos, finalmente entendi o que ele quis dizer e qual foi o verdadeiro toque que a espiritualidade me deu naquele dia.
Passaram-se muitos anos, até que me peguei numa sala de um curso para blogueiras plus size. O curso também era de modelo, coisa que eu jamais achei que poderia fazer. Quando saí do curso, lotado de mulheres gordas e empoderadas, percebi que o que me faltava era autoestima, empoderamento e não mais uma dieta da moda. Virei modelo e blogueira plus size. E estou absolutamente feliz com isso.
O que eu sinto agora é que não, eu não preciso emagrecer. Eu poderia, posso se quiser, mas eu não preciso. Eu não estou e nem sou errada por ser uma mulher gorda. Está tudo bem comigo. Eu pago o preço pelo peso extra, que é um preço só meu – não se iluda, magros também pagam – e tudo bem. É tudo uma questão do preço que se quer pagar.
Obviamente essa conclusão não foi óbvia. Eu ralei demais. Briguei demais comigo mesma em frente ao espelho. Passei dias trancada em casa porque tinha comido demais e engordado um quilo. No final, comia mais para superar a frustração e jamais saia desse ciclo vicioso. Algo que não poderia me ajudar jamais.
Na realidade, o que aquilo me mostrou foi que sim, de algumas coisas precisamos desistir. De algumas ideias pré-concebidas do que deveríamos ou não ser na realidade. Somos o que somos. Gordos, magros, ricos ou pobres. Pretos, brancos, mulatos, de cabelo afro ou loiro escuro, como o meu. Somos o que somos, com todo o bem e todo o mal que isso acarreta, e não, não precisamos e nem devemos nada.
Do que você precisa desistir? De ser rico? Bem-sucedido? Talvez precise rever o conceito do que acredita ser a sua verdade. Talvez seu eu interior coincida com o vigente. Talvez não. Mas se você já tentou demais, apenas desista. Entregue nas mãos de Deus (seja lá como for que o conceda). Não é para desistir para sempre, talvez só por um tempo, longo ou curto. Talvez você precise mudar algumas coisas dentro de você. Talvez não. Mas se dê a chance de entender o porquê desse processo. Isso é muito profundo e libertador.
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