Se você parar para pensar, vai se lembrar de alguma história destas. Uma pessoa morre de repente, e as pessoas da família, ou mesmo os amigos, nunca disseram “Eu te amo” para ela. Quando uma tragédia acontece, pensamos nisso. Poxa, precisamos dizer para a nossa mãe que a amamos. Nosso pai, nossos irmãos e até o cara com quem estamos saindo a meses e que insiste em não nos chamar de namoradas. Amamos, em segredo, parece que é proibido.
Para um mundo que idolatra tanto o amor, isso é bem estranho. Se a Madonna tocasse a campainha aqui de casa, eu diria que a amo antes de convidá-la para entrar. Mas fiquei paralisada quando a minha mãe me falou isso no telefone outro dia, antes de desligar. Não consegui responder. Não sei...não saiu.
E não é que eu não a ame, claro que não é isso. Mas parece que sentimos certa fraqueza quando dizemos isso. Dizer que amamos ainda nos parece como nos colocar à mercê do outro. Isso, claro, por conta do emaranhado de mentiras que nos contaram sobre o amor. Ainda acreditamos que amor rima com dor e não conseguimos lidar bem com isso.
Nos disseram que dizer “Eu te amo” é muito íntimo. É uma coisa muito, muito especial que devemos guardar para “uma pessoa muito, muito especial”, nossa alma gêmea. Como se o que sentíssemos, na maior parte das vezes, por nossos parceiros fosse amor. Existe o amor sim, mas também existe só o sexo ou a paixão, dos quais falarei em outra oportunidade. Amor é diferente.
Amor é construído, contrariando todas as novelas da Globo (menos aquela que a Juliana Paes se apaixonava pelo marido arranjado). Não amamos uma pessoa só de olhar para ela: isso é atração sexual. Só isso mesmo, o que você está sentindo é vontade de transar com aquela pessoa loucamente nos fundos de qualquer lugar. Sim, existem atrações físicas absolutamente avassaladoras, que já tiraram gente do poder, derrubaram reis e tudo mais, mas é só isso mesmo.
Amar é diferente. Uma mãe, por incrível que pareça, aprende a amar o seu bebê. Quando ele ainda está lá, na barriga dela, e ela vai criando uma relação com aquela criança. Ela pensa nela, como ela será. Sente o bebe mexer na barriga. Quando vê aquela carinha fofa, que ela cultivou por meses, é amor. Mas até aí existem exceções. Sim, vemos mães que não conseguiram amar seus bebês de pronto e que causam uma frustração e culpa enormes. Mas, de novo, isso é tema para um próximo artigo.
Então, porque dizer que amamos alguém nos faz parecer fracos? Não, não é porque eu amo que eu concordo com tudo aquilo que a pessoa faz. Eu posso amar um amigo, mas não acompanhá-lo em uma bebedeira. Eu posso amar um homem, mas saber que é impossível manter um relacionamento com ele. Eu posso amar, e só amar, sem esperar nada em troca. Nada mesmo. Nem que ela seja feliz.
Se você espera que alguém seja feliz, já está esperando alguma coisa. E se o que a pessoa precisa é não ser feliz? E se ela precisa mudar algumas coisas e, para isso, o Universo deixá-la triste e doente? Amor não é isso. Amor, de verdade, é não esperar. Não esperar nada dos outros. E aqui, escrevendo esse artigo, eu percebi porquê não consegui dizer que amo a minha mãe: porque no fundo, no fundo, eu ainda espero alguma coisa dela. Aprovação, talvez, não sei. E sei que no momento em que eu largar a minha necessidade (talvez) ainda infantil eu vou conseguir dizer isso. Porque é verdade. Eu amo a minha mãe. E não é por tudo o que ela já fez por mim. É só por ela ser ela. É só por amar mesmo. Assim, de graça (afê, escrever isso dá um alívio).
Pense então, nas pessoas para as quais você não consegue dizer “eu te amo” e no porquê disso. Pare de esperar coisas destas pessoas. Veja-as só como pessoas e não com os papéis que elas representam. São só espíritos, reencarnados, aprendendo alguma coisa. Assim como eu e você. O “eu te amo” vai sair bem mais fácil.
Ah e....eu te amo! E não espero nadinha de você. Nem que goste deste artigo, ok?
Confira também: