Quando pensamos na palavra bruxa, é natural que pensemos em criaturas corcundas, feias, com verrugas e fazendo maldade. Além disso, normalmente pensamos em lugares muito distantes, como a Europa Medieval, mas nunca no Brasil, porque a figura da bruxa não é muito tradicional em nosso país.
Mas você sabia que muitas pessoas foram acusadas de bruxaria injustamente ao longo da história do nosso país, muitas delas sendo mortas na fogueira, como na Europa, ou de maneira mais trágica? Segundo constam nossos registros históricos, 29 pessoas foram mortas sob a acusação de bruxaria no decorrer de nossa história.
Como despertar a nossa bruxa interior?
Preparamos um artigo para mostrar como o conceito de bruxaria é deturpado e mal compreendido, e também para mostrar alguns casos célebres de suposta bruxaria que tristemente aconteceram em nosso país.
Mas o que é bruxaria?
Para entender o que é bruxaria, é preciso compreender um pouco o contexto histórico. Entre os séculos XII e XVIII, a Igreja Católica viveu seu ápice no que diz respeito à influência na sociedade. Naquela época, não havia conceitos como estado laico, e praticamente não havia diferença entre a lei e a religião. Portanto, os líderes da igreja podiam acusar e matar quem quisessem.
E para poder afastar da sociedade aqueles que não seguiam os rituais e costumes cristãos, alguns crimes foram sendo criados pela Igreja, como a heresia (deturpar os ensinamentos de Deus), a blasfêmia (difamar o nome de Deus) e a bruxaria (praticar qualquer tipo de magia).
Independentemente de você crer ou não na existência da magia, o fato é que não temos evidência de que ela existe mesmo. Então a verdade é que o crime de bruxaria foi inventado pela Igreja para matar ou prender todos aqueles que se recusavam a fazer parte dela, e inclui-se aí uso de ervas medicinais, crença em outros deuses, uso de amuletos de outras crenças, entre outras práticas.
Havia gente fazendo o que a Igreja chamava de “magia negra”? Muito provavelmente havia, mas em muito menor quantidade do que os inúmeros assassinados pela Igreja sob acusação de bruxaria. Na época, bastavam dois vizinhos acusarem uma mulher de bruxaria e de fazer feitiços para que ela conhecesse um fim trágico. As mulheres, elo mais fraco da sociedade patriarcal cristã da época, obviamente eram aquelas que mais sofriam.
Bruxaria é magia negra?
Não, não é. Por muitos anos, a palavra bruxaria foi associada à magia negra pela Igreja. Numa tentativa de ressignificar essa palavra e ir de encontro ao que prega a Igreja que tanto reprimiu crenças locais, hoje em dia pessoas que seguem religiões neopagãs se chamam de bruxas, bruxos, feiticeiros e feiticeiras.
Confira uma reflexão sobre a bruxa contemporânea
Mas a verdade é que a maioria das tradições consideradas bruxaria, como os rituais celtas, a bruxaria islandesa, o wicca ou a Stegheria, não envolvem magia negra. Assim como há padres, pastores e pais de santo que usam seu trabalho espiritual para o mal, há rituais de bruxaria negativos. Mas a verdade é que, como qualquer outra religião, promover e espalhar o bem é o objetivo das crenças consideradas bruxaria.
As bruxas brasileiras
Agora vamos conhecer algumas mulheres que foram acusadas de bruxaria em nosso país. É importante dizer que nenhuma delas estava envolvida com magia negra ou se autodenominava bruxa. Infelizmente todas foram acusadas injustamente desse crime e tiveram suas vidas ceifadas, quase sempre simplesmente por serem mulheres...
Mima Renard
Em 1692, Mima Renard, uma francesa que imigrou para o Brasil, foi queimada viva numa fogueira em São Paulo, sob acusação de bruxaria. Mas o que levou a esse desfecho trágico é muito mais humano do que espiritual, uma infeliz história.
Alguns anos antes, Mima e seu marido, René, mudaram-se para o Brasil. A beleza de Mima impressionou os homens brasileiros, e, algum tempo depois, seu marido foi misteriosamente assassinado, deixando-a sozinha e sem outra alternativa que não fosse a prostituição.
Os homens que executaram sem marido, é claro, adoraram. E passaram a usufruir seus serviços, para o desagrado das esposas da região. Furiosas, elas se uniram e denunciaram Mima para a Inquisição portuguesa, que, à época, regia o Brasil. Afirmaram que que ela enfeitiçava os homens e que sacrificou o marido para ter esses poderes.
Pouco tempo depois, Mima Renard foi julgada sem poder se defender, então foi condenada e executada diante da população.
Maria da Conceição
Maria da Conceição foi outra mulher assassinada sob a acusação de bruxaria em São Paulo. Seu caso aconteceu em 1798. Maria era conhecida como uma grande conhecedora do uso de ervas medicinais para curar doentes. Isso desagradava a um padre da época, chamado, nos autos do processo, de Luís.
Descontente porque as pessoas procuravam mais Maria da Conceição do que a Igreja em busca de ajuda, padre Luís denunciou a mulher por bruxaria e heresia. Ela foi julgada segundo a lei da época, condenada e queimada viva na fogueira, em praça pública.
Ursulina de Jesus
Em 1754, Ursulina também foi queimada viva em São Paulo, acusada por seu próprio marido de ser bruxa. A triste história aconteceu porque Ursulina e seu marido não conseguiam ter filhos, então ele a acusou perante a Igreja de ter feito um feitiço que roubou sua virilidade.
A acusação foi aceita pela Igreja, e, surpreendentemente, até mesmo uma amante do marido de Ursulina declarou que, com ela, a virilidade dele era plena, mas o mesmo não acontecia com a esposa. Condenada, Ursulina foi queimada em praça pública.
8 curiosidades incríveis sobre o Dia das Bruxas
Essas são apenas algumas das muitas tristes histórias de mulheres que foram injustamente acusadas de bruxaria na história do nosso país. Os tempos mudaram, e vemos progressos contínuos, mas o mundo ainda deve muito às mulheres, que tanto sofreram para que chegássemos até aqui. Que haja respeito às mulheres e a todas as crenças e práticas!
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