Sabemos que na comemoração da Páscoa há o renascimento de Jesus e que se trocam ovos de chocolate, e que, principalmente, esses ovos são trazidos pelo coelho da Páscoa. Contudo essa tradição não é cristã. A igreja incorporou os símbolos de uma antiga tradição pagã à ressureição de Cristo. Na verdade, a Páscoa era um rito de fertilidade oferecido à deusa Ostara. Eostre, ou Ostara, deusa nórdica da fertilidade e da aurora, era chamada de “Madrugada radiante”.
Os festivais da deusa comemoravam o fim do inverno e o início da primavera, com a volta da fertilidade, vitalidade e alegria. A Ostara era a quem se ofertava, no equinócio da primavera, flores e ovos coloridos para propiciar a fertilidade humana e animal, bem como a renovação. Os ovos pintados eram símbolos da fertilidade e da prosperidade. Às vezes, eram tingidos de vermelho e eram usados como amuletos da sorte. Era tradicional a troca de ovos pintados, que serviam de presentes para parentes e amigos. Outro ritual era o de enterrar os ovos na terra, como símbolo de fertilidade. As mulheres assavam pães e roscas doces em forma de lebres, pois esse era o animal associado à deusa. A lebre é um animal fértil, prolifero e associado à Lua. Ou seja, um animal associado ao feminino, à Grande Mãe e aos instintos de procriação. As procissões eram feitas por pessoas enfeitadas com guirlandas de flores e que tocavam sinos.
O nome Ostara, ou Eostre, significa em alemão: “Ostern”, e em inglês: “Easter”, e está associado ao hormônio feminino (estrogênio) e ao cio (estrum). Esse nome, os atributos simbólicos e os objetos festivos, foram incorporados à Páscoa cristã. Contudo a igreja não explica a ligação estranha entre os ovos, o coelho e Jesus. Eostre, ou Ostara, está associada etimologicamente à direção Leste e ao termo “glorioso” e “brilhante”. Como imagem arquetípica, Ostara é muito forte ainda no imaginário coletivo. O ovo e o coelho continuam intensos, como símbolos dessa renovação tão necessária para a psique humana.
Ostara era um dos aspectos da Deusa Frigga, a grande Rainha e Mãe dos deuses nórdicos. Frigga, como Grande Mãe, continha os três estágios da trajetória da mulher e também do ciclo de criação, destruição e renascimento da vida humana e também dos processos psíquicos. Esses estágios são: o juvenil, o maternal e como a anciã ou padroeira do tempo. Ostara é o lado juvenil da Grande Mãe, o estágio virginal que renasce pronta para ser fertilizada. Ela é o aspecto da matéria e da alma humana que está pronta para a fertilização. Ela é o desejo em si. O estágio onde a libido está pronta para criar nova vida.
O símbolo da lebre, ou coelho, representa a proliferação instintiva presente na Grande Mãe e no matriarcado. Do ponto de vista negativo, é o instinto pelo instinto, sem consciência. É o cio, o desejo pelo desejo, é indiscriminado e sem propósito. No positivo, é a força que leva para a criação de algo novo na realidade. É a renovação e a pureza. O ovo é símbolo de fertilidade, da união do feminino e masculino, ou seja, um símbolo da totalidade. Na alquimia, corresponde à fase albedo, que ocorre após encararmos os infernos da nossa alma na nigredo (a noite escura da alma, o inverno e a sombra). É o renascimento e a purificação.
A Deusa Ostara representa o renascimento no ciclo da vida. O feminino é cíclico e ligado aos processos do corpo e do destino humano, que é passar pelos três estágios: vida, crescimento e morte. Passamos por diversos ciclos como esse durante a vida. Sempre que algo morre em nós, existe a possibilidade de uma renovação e Ostara estará presente. Após a morte, existe a ressureição! E é isso que Ostara e a ressureição de Cristo nos ensinam na Páscoa.
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