Quando eu era adolescente, eu e a minha melhor amiga tínhamos uma brincadeira preferida. Gostávamos de fazer, de pessoas fictícias. Inventávamos um personagem e fingíamos ser elas. Uma destas personagens era a “mulher amarga”. Uma mulher de 40 anos, professora universitária, que fumava muito, tinha a voz grossa por isso e falava mal de todo mundo. Principalmente dos homens. Era engraçado, mas era bem triste também.
O tempo passou. E agora eu quase estou com as mesmas características que ela (a mulher amarga), começo a perceber que talvez nós não tenhamos inventado essa personagem do nada. Talvez, na nossa ignorância adolescente, só tenhamos observado e intuído o que víamos a nossa volta, em mulheres mais velhas, mal resolvidas, e por vezes infelizes com a suas vidas (não que todas sejam assim, claro).
Estes dias postei algo sobre como as mulheres se atacam, e como é legal que a gente consiga mudar isso. E postei isso porque me vi sendo preconceituosa na rua. Saí para um almoço corriqueiro, e vi uma moça de uns 20 e poucos anos, num frio desgraçado, vestindo um micro shorts e uma blusa justa. Comecei me perguntando se ela não estaria com frio e terminei a maionese na minha cabeça, pensando que ela estava recebendo cantadas e buzinadas de propósito, quem manda se vestir daquele jeito. Depois de sentir muita vergonha dos meus pensamentos de mulher amarga, decidi avaliar melhor os termos.
Sim, mulheres são massacradas socialmente até hoje. Até hoje ainda precisamos manter padrões quase irreais de beleza, de status e de prazer. Precisamos ser damas na sociedade e putas na cama. Precisamos ser financeiramente independentes, mas fazer o jantar para os nossos maridos. Precisamos ser compreensivas com as atitudes deles, mas ser firmes e “não dar mole”. De fato, com tantas contradições, é natural que a gente comece a colocar a culpa em alguém, geralmente nos maridos ou companheiros que são, como eu sempre falo, o nosso muro das lamentações.
Sim, existem homens bem mal caráter, que abusam de suas companheiras e tudo mais. Existem e, se você vir um, fuja como o diabo da cruz. Mas não são a maioria. São alguns que são de fato assim, o resto, pasmem, só estão respondendo à sua energia.
Quem estabelece as regras de um relacionamento é o casal. Se a coisa começa com você pensando que precisa, de fato, ser a mulher maravilha ou Shena, a Guerreira, é nisso que vai dar. E, não vou entrar nesse mérito agora, mas no final você paga o pato pelas suas escolhas malfeitas e por suas maioneses na cabeça.
Você estipula a suas regras e os seus limites e não, ninguém é culpado disso. Se existe um preconceito e um misoginia latente, ela não precisa me atingir. Eu posso me defender, caso isso aconteça e é legal que tenhamos isso firme nas nossas cabeças. Na verdade, é o novo feminismo, onde nós defendemos sim, até podemos precisar exagerar as vezes, mas sem entrar na energia.
Se nos colocamos como vítimas de uma sociedade cruel e injusta, isso que vamos ser. Se nos colocamos com o nosso devido valor, é isso que vamos ter. Na verdade, as mulheres também são machistas e nós somos vítimas do nosso próprio machismo, muitas vezes. Mas é legal olhar para isso, saber em que pontos precisamos mudar (para a gente e para as nossas companheiras de encarnação) e não ficar lutando contra o nada.
Sim, ainda precisamos mudar muitas coisas. Mas, como disse Gandi, seja a mudança que você quer no mundo. Às vezes vale mais uma atitude do que uma briga inteira. E solte o seu amargor, essa doença interna, esse fel. Sim, existe muita coisa errada que podemos consertar, mas existe muita coisa certa. E se você está no errado é você que precisa mudar, antes do mundo. E dos homens. Ou de Deus.
Pense nisso!
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