“Ouviram do Ipiranga às margem plácidas / de um povo heróico o brado retumbante...” - Hino Nacional Brasileiro
Hoje é 7 de setembro, dia em que Dom Pedro resolveu acabar com a palhaçada e dar um tchauzinho pro pai dele, lá em Portugal. Cansou da esposa arranjada, cansou de seguir ordens de outro local que não tinha muita noção do que estava acontecendo por aqui e, principalmente, cansou de esconder a Marquesa de Santos de todo mundo. Mandou um “Independência ou morte” e tudo resolvido.
E por menos que os livros de história atuais tirem o glamour da coisa toda (dizendo que ele estava com diarréia e que não vestia traje de gala e nem estava num cavalo, e sim num burrico) ainda assim, foi um ato histórico. E ainda assim foi um marco, ainda maior, na vida dele.
Um dia, todos nós precisamos descer do nosso burro e declarar a independência. E como as metáforas nunca são à toa, possivelmente isso se dará num momento de fundo do poço, de total carência física e emocional e, principalmente, num momento de raiva. Sim, a raiva. Afinal de contas que outra coisa levou Dom Pedro a querer se livrar de Portugal senão a raiva acumulada por anos, por ordens que ele não queria e não achava por bem seguir? Ele não libertou só o Brasil mas, principalmente, libertou a si mesmo, ali, naquele momento fundo do poço, depois de passar 13 dias subindo a serra de Santos para São Paulo no lombo de um burro e de passar mal com os abusos da viagem. Os tempos não eram fáceis e tudo era feito com muito sacrifício físico. Mais ou menos como hoje.
Coincidência ou não, hoje mesmo eu estava assistindo o programa da Kátia Fonseca, que eu nunca vejo por conta do horário. E ela apresentou uma pequena entrevista com presidiárias de uma cadeia no interior de São Paulo. As detentas contaram um pouco de suas vidas e como elas inventaram uma tal de TV Cela, uma iniciativa em que elas filmavam suas vidas e entrevistavam pessoas, como um mini documentário da cadeia. As presas estavam todas muito bem arrumadas e falando na mudança que queriam para si mesmas. Apesar de encarceradas, pagando pelos crimes pelos quais os homens as consideram culpadas, ainda tinham sonhos, muitos sonhos e estavam, com isso, declarando sua independência e sua liberdade.
Osho diz que a verdadeira liberdade é a liberdade da alma. E que não é possível ser uma pessoa realmente livre se vivermos presos à nossas ilusões. E por ilusões considere tudo aquilo que todo mundo chama de vida real. Os “tem que”, os “deveria”, aquilo que foi respondido pelos seus pais, quando perguntado, com um simples “porque é assim” ou “porque sim” ou “porque não”. Por incrível que pareça, isso guia as nossas mentes e nos aprisiona a realidades que nós criamos e que chamamos de verdade. Consideramos coisas bem absurdas como verdade. Nos enchemos de metas e objetivos que nem sabíamos que queríamos. Nos casamos, porque é assim que tem que ser. Temos filhos porque é o sonho de toda mulher mesmo sem ter a menor ideia se é mesmo o nosso sonho. Sonhamos com uma vida de glamour, de grandes espetáculos e, quando conseguimos, estamos presos a uma rotina massante, que odiamos, mas que precisamos manter para pagar o apartamento que financiamos em 20 longos anos.
Não existe prisão maior do que aquela que construímos pra nós mesmos. Não existe fundo de poço maior do que perceber que tudo o que fizemos de certo, não tem nada a ver com o que somos de verdade, lá no fundo da nossa alma. Precisamos pensar e sentir muito bem o que é nosso, o que é do nosso espírito. Precisamos conversar com essa pessoa que mora lá dentro, que tem um monte de coisas que ama fazer, mas não faz porque talvez pega mal. Dar um grande “independência ou morte” pra esse monte de porcaria que ouvimos na TV sobre a nossa aparência, nosso peso, nosso status social, nossa maneira de viver. Parar de comprar coisas, objetos que não nos dizem nada só porque o cunhado tem um também. Precisamos de independência de padrões que nós não criamos e de regras que não inventamos pra poder viver. É isso ou a morte, como disse brado retumbante de D. Pedro. Se ele começou essa história, bem fazemos nós de terminá-la e colocá-la a termo.
Se o que te faz feliz é um novo trabalho, vá atrás disso. Pegue seu burro e suba a sua serra em direção a sua felicidade. Se o que te faz feliz é uma Marquesa de Santos, então assuma seu romance. Não existe nada pior do que não sonhar, do que perder essa capacidade. As presas da cadeia feminina me ensinaram isso hoje e só hoje, depois de 34 anos de existência, é que entendo o que a história sempre quis me mostrar “Independência ou morte”?
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