Sou do tempo que, para ir ao banheiro, as crianças levantavam a mão. E, só quando o xixi estivesse a ponto de escorrer pelas calças, senão não. Era perigoso. A chance de ouvir um “não” era imensa, a professora poderia ficar brava e você acabar na sala da diretora. Por causa da mãe natureza! Exageros à parte, a minha geração ainda pegou muito destas coisas: chamar o pai de senhor e a mãe de senhora, casar virgem, pedir a benção para a avó velhinha, pedir permissão para ir à casa da amiga para estudar. Era diferente, não era só pedir. Existia um medo, um pânico geral: será que a minha mãe vai deixar?
Claro, isso tinha suas vantagens. Crescemos pessoas que respeitam os pais e as autoridades, salvo as exceções que sempre existem. Mas, também crescemos um pouco amedrontados, pedindo permissão para tudo. “Posso me sentar?”, “Será que é feio pedir aumento?”, “Não entra aí, é proibido”. Mesmo em coisas que, sabemos, não tem nada de tão grave. Sou daquelas que tem vergonha de ficar em cima das pessoas nas praças de alimentação esperando uma mesa. Faço um ar blasé, mesmo quando estou com câimbras nos pés esperando há 20 minutos com a bandeja na mão.
Sim, isso são os resquícios dela “A boazinha”. Aquela boa menina que precisa pedir permissão para tudo. Que não faz as coisas por espontaneidade, mas que espera o momento certo, que é geralmente quando alguém já começou. Que acaba passando uma imagem de uma coisa que ela não é.
A nossa espontaneidade de criança é sempre tolhida e a isso chamamos educação. Não, não estou falando para cada um sair fazendo o que quiser ou der na telha. Sim, sabemos que existem momentos e momentos, que existem situações e situações. O problema é quando esse traço fere a nossa personalidade e acaba fazendo com que percamos coisas simples.
Eu mesma me vi às voltas com isso o tempo todo. Pequenas coisas e situações que me deixam paralisada e me fazem desistir. Coisas como precisar de uma resposta urgente, não ter, e não quer insistir porque “é feio”. Ou ficar sem graça de fazer uma reclamação de algo que não veio como você queria ou pediu. Muitas vezes nos vemos desistindo daquilo, só para não encarar.
Vamos parar de pedir tanta permissão! Se for dentro da lei, está sempre valendo. Que tal arriscar-se um pouco? Arriscar receber um “não” ou uma rejeição. Como diz aquele velho ditado: “O não a gente já tem sempre”, então por que não? Por que não sair da zona de conforto?
Sempre achamos que isso vai nos constranger e nos fazer sofrer. Mas, o que faz realmente sofrer é não se arriscar, é não ter e não conseguir o que se quer. Chega, faz, depois pergunta. Não pense tanto em muitas situações que achamos que devemos “fazer o correto”, conversar antes. Sim, em algumas situações isso é imprescindível, mas na maioria das vezes é só o nosso medo e a nossa procrastinação.
Ficar mais solto é ser mais leve. Pense nisso! E aja!
Confira também: