Acompanhei, na última semana, a história de Valente. Valente foi um cãozinho que sofreu muitos maus-tratos. A desconfiança da veterinária é que ele fora vítima de óleo quente e pancadas. Paula Bastos, blogueira cheia de seguidores, junto com uma amiga, decidiram resgatá-lo. Levaram ao veterinário, angariaram fundos para cobrir as despesas e o encheram de carinho. Ele lutou. Foram tiradas larvas de seus ouvidos e nada parava em seu estômago. Piorou na última noite e faleceu pela manhã.
Paula contava tudo em seus Stories no Instagram. Todos apreensivos, esperando Valente reagir e lutar. Todos esperando que a história tivesse um final feliz. Valente foi o nome dado a ele pelas meninas. Um nome muito sugestivo.
Ainda por esses dias, li um texto, que está rolando na internet, sobre a recém falecida atriz Márcia Cabrita. Ela lutou com um câncer durante sete longos anos. Faleceu no final do ano de 2017 e havia publicado um relato em que achava injusto precisar lutar com o câncer e ser considerada uma heroína.
Heróis. Sempre precisamos deles. Mas o quanto exigimos, no final das contas, das pessoas? Se elas têm uma doença, precisam lutar por ela. Se elas têm um problema com álcool ou drogas, precisam lutar e superar. A televisão está cheia de exemplos, bons exemplos. Pessoas que superaram terremotos, maremotos, enchentes, doenças terminais e vícios. Que emagreceram 40 quilos sem cirurgia e que atravessaram desertos sem um copo de água. Heróis modernos.
Sim, precisamos de heróis. Mas como disse Márcia Cabrita, o quanto é justo transformarmos alguém em um só porque precisamos deles? Quando vi um dos últimos Stories do cãozinho Valente, lágrimas me vieram aos olhos. Eu amo cachorros e vê-lo naquele sofrimento, muito magro e machucado, é de cortar o coração. Mas em determinado momento eu olhei nos seus olhos e o que eu vi foi um bichinho que desistiu. Que estava pedindo, encarecidamente, que eliminassem o sofrimento dele.
No filme “Como Eu Era Antes de Você”, acontece a mesma coisa. O moço, que ficou tetraplégico depois de um acidente, quer desistir da vida. O filme todo é em torno de tentá-lo fazer desistir dessa ideia. Mas e se for, mesmo, o melhor para ele?
Nossas jornadas são sempre nossas e nosso livre arbítrio também. Não é desmerecedor se alguém desiste, se alguém simplesmente percebe que não pode. Não faz de ninguém “menos” desistir de fazer dietas ou de querer se curar do que quer que seja. Não está no julgamento de ninguém isso e não, não é feio. Sair com dignidade da vida é melhor do que vivê-la muitas vezes? Como saber se não passamos por isso? Não estou dizendo que precisamos desistir, mas não podemos julgar quem desiste sem antes tentar entender o sofrimento da pessoa. Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é. De verdade.
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