Quando falamos em comemorar o Natal, a primeira imagem que vem a nossa mente é a ocidental, com a figura do Papai Noel, e a celebração do dia 24 para o dia 25 de dezembro, com direito a uma ceia cujo prato principal é o peru ou outra ave, sem falar na troca de presentes. Mas você já parou para pensar em outras tradições natalinas, em países de culturas completamente diferentes das nossas?
No Oriente, por exemplo, há uma série de tradições bastante diversas das nossas, inclusive em relação a datas e rituais. Neste artigo, vamos falar especialmente das tradições natalinas no Japão, um país que tem como principais religiões o xintoísmo e o budismo, que não têm influência cristã, então não estão relacionadas ao Natal da mesma forma como a gente aqui no Brasil.
O que você encontrará nesse artigo
Apesar disso, mesmo o Japão não sendo um país católico, há uma minoria que segue o cristianismo e comemora o Natal sob essa tradição. No entanto, a maioria das pessoas vê a data como uma oportunidade de reunir os familiares ou celebrar de outras formas que não estejam associadas ao nascimento de Jesus Cristo. Acompanhe o artigo para conhecer melhor sobre os rituais de Natal no Japão.
O Japão e a religião
Como já mencionamos, as religiões predominantes no Japão são o xintoísmo e o budismo. Dados publicados em 2022 pelo especialista em pesquisas e dados históricos Aaron O’Neill, da empresa alemã Statista, mostram que, até 2018, cerca de 69% da população do Japão se declarou praticante do xintoísmo. Em segundo lugar, aparece o budismo, com 66% das pessoas aderindo a essas práticas. No entanto, a maioria dos japoneses costuma adotar as duas crenças sincretizadas, de forma que uma complementa a outra.
O xintoísmo é uma religião que se fundamenta no culto e respeito à natureza, sendo a relação homem-natureza o seu cerne. Ao contrário de outros lugares, como a Europa, onde o cristianismo sobrepujou as doutrinas pagãs existentes, o Japão cultivou suas raízes religiosas até os dias atuais, e o xintoísmo se manteve parte da vida de todos desde os tempos mais remotos.
O budismo foi introduzido por volta do século 6, e então as duas crenças passaram a “conversar” entre si — é propriamente uma característica do xintoísmo ser receptivo a novas culturas, filosofias e religiões, não se impondo como uma crença exclusivista.
Podemos encontrar ainda o taoísmo e o confucionismo na história religiosa do país. O cristianismo foi introduzido por lá, com um histórico que tem início no século 16, posterior isolamento no século seguinte e uma nova introdução em meados do século 19. É sobre isso que falaremos a seguir.
Nagasaki Católica
Não podemos traçar uma relação entre a história cristã no Japão sem falar de Nagasaki, importante cidade portuária do Japão. Apesar de os missionários jesuítas terem desembarcado em Kagoshima em 1549, foi em Nagasaki que a religião se consolidou.
Os jesuítas espalharam o cristianismo e tiveram grande receptividade por parte de alguns senhores feudais (daimyos), que acabaram se convertendo, não apenas por questões religiosas, mas por interesses comerciais, já que, naquela época, o império português era um dos mais influentes do mundo.
Um deles foi Omura Sumitada, primeiro daimyo a se converter ao cristianismo.
Descubra o seu signo no horóscopo japonês
Ele foi o responsável por abrir o porto de Nagasaki para os jesuítas, além de lhes conceder territórios — entre eles, Nagasaki.
Conhecida como a “pequena Roma japonesa”, ou “Roma do Japão”, Nagasaki se estabeleceu como uma cidade cristã com paróquias, tendo abrigado a sede dos jesuítas, além de hospitais e colégios católicos. Assim, tornou-se a cidade mais cristã do Japão.
Altos e baixos do cristianismo no Japão
Entretanto, todo esse sucesso do cristianismo teve prazo de validade. Como a religião passou a ser vista como uma ameaça à soberania japonesa, os missionários e cristãos passaram a ser perseguidos, sendo até mesmo torturados e mortos.
O Japão baniu a religião, porém algumas pessoas continuaram a praticar a fé em segredo – os famosos Kakure Kirishitan (cristãos escondidos). Para manterem sua fé, mas sem correrem o risco de serem identificados como cristãos, eles acabaram incorporando elementos japoneses aos ritos cristãos, trazendo contornos peculiares à religião.
Após mais de dois séculos de isolamento japonês, finalmente o cristianismo não estava mais banido, e milhares de cristãos saíram das sombras. Segundo a mesma pesquisa realizada pela Statista mencionada mais acima; até 2018, cerca de 1,5% da população japonesa se declarava cristã, sendo Nagasaki uma das maiores comunidades cristãs do país.
As tradições natalinas no Japão
Mesmo com um percentual pequeno de cristãos, comparado a outras localidades, em especial aqui no Ocidente, você deve estar se perguntando se existe a celebração de Natal nos moldes do cristianismo, certo?
Bem, apesar da influência dos missionários jesuítas cinco séculos atrás, o Natal, como uma celebração do nascimento de Jesus, não emplacou no Japão. Até podemos ter comemorações isoladas por parte de alguns imigrantes católicos, mas, no geral, essa data é celebrada de forma bem diferente em terras nipônicas.
Para começar, o Natal não tem um vínculo religioso, tendo mais um valor comercial. Mesmo assim, a data não deixa de ser celebrada lindamente. Em novembro, as decorações tomam as ruas, que ficam completamente iluminadas. Até dá para ver as tradicionais árvores de Natal, porém ela são mais comuns em shoppings ou em centros comerciais.
Para a ceia, nada de peru, chester ou panetone. O cardápio típico é frango frito – tradicionalmente da rede de fast food KFC. Para a sobremesa, não pode faltar o típico bolo de creme com morango.
Celebrações e presentes exclusivamente a dois
O dia 24 de dezembro, véspera do Natal, no Japão, é como um Dia dos Namorados fora de época. Esse costume foi herdado da década de 1980, quando uma campanha de marketing voltada para clientes jovens passou a associar a data ao amor.
Aprenda Feng Shui para decoração natalina
Com isso, a celebração é geralmente feita a dois. Assim como a troca de presentes, que costuma acontecer entre casais, e não entre todos os familiares. A noite costuma terminar em um “hotel do amor” (rabuho), e a procura por esse locais, nessa data, é bem grande.
Outro aniversariante
Como já sabemos, no Japão, predominam o budismo e o xintoísmo, então não faria sentido comemorar o nascimento de Jesus com a mesma ênfase que damos aqui no Ocidente, mesmo que alguns de nós não sejam cristãos.
Sendo assim, dia 25 não é feriado por lá. Uma data que tem a mesma importância para os japoneses é o nascimento de Sidarta Gautama (Buda), celebrado em 8 de abril. A data é chamada de Oshakasama no Tanjobi. Nesse dia, há um evento dedicado ao nascimento do Buda Shakyamuni, chamado Hanamatsuri, o Festival das Flores.
Essa festividade, que também celebra a chegada da primavera, ocorre numa época do ano em que acontece a floração das cerejeiras (sakura) em todo o Japão. Comumente, acontecem alguns rituais, como um altar decorado com flores, no qual a imagem do pequeno Buda é exposta. Também podem ocorrer cortejos e celebrações voltadas para as crianças, que se vestem com trajes históricos e tradicionais do Japão.
Saiba como é cada signo na ceia de Natal
Vimos que, no Japão, faz sentido não ter Cristo como figura central em alguma celebração, pois trata-se de outra religião, outra cultura e crenças distintas das nossas. Isso é interessante, porque o Natal budista, e mesmo a versão japonesa dos dias 24 e 25, abre nossa mente para as diferentes tradições ao redor do mundo, ensinando-nos a respeitar a diversidade cultural.
Seja como for, independentemente de religião, Natal é época de confraternizar ao lado de quem amamos, seja em família, seja com os amigos ou a dois. É tempo de transmitir as melhores energias, refletir sobre o ano que está chegando ao fim e procurar ser a sua melhor versão possível. Celebre sempre a vida!
Confira também: