Quando nascemos somos considerados pelos estudiosos como um ser natural, ou seja, um ser sem humanização, pois nascemos como qualquer outro animal do Reino Animal. Nascemos Amoral, sem saber quem somos, que espécie fazemos parte, enfim somos um ser natural.
A humanização desse ser começa quando do parto, pois até então somos apenas um monte de carne com alguns furos, mais para frente daremos nome para esse monte de carne e os furos, o ser passa a ser humanizado então quando a mãe ou os cuidadores colocam um nome nesse ser e, inicia-se o processo. A humanização então é feita através do olho do outro, logo, tudo que esse ser vai aprender e entender será disponibilizado através do olhar de seus cuidadores, seu nome, o que certo ou errado, as certezas, as verdades, as percepções e todas as outras formas de aprendizado passarão pelo olho do outro.
O ser natural e Amoral (entendo que Amoral é um ser isento de moral, ou seja, não é imoral, pois somente somos imorais se temos moral e o, ser natural é isento de moral), não tem nenhuma expectativa de vida e continuidade, pois na realidade no momento do parto ele entra no verdadeiro caos, pois é retirado de dentro de um lugar seguro e onde se alimentava regularmente e na hora exta para satisfação de suas necessidades para o desenvolvimento. Quando menos se espera acontece a entrada em um novo mundo, onde seus pulmões até então fechados, abrem-se para respirar novos ares, os olhos que até então estavam fechados para o mundo exterior, abrem-se para visualizar o que o externo lhe oferece, a boca até então entupido pelos dedos, eclode em uma abertura e o som que jamais tinha feito acontece exatamente no momento que a vida se apresenta para o mundo. Os membros antes alojados perfeitamente no campo uterino expande-se em um mundo infinitamente maior, e por alguns segundos fica no próprio ar livre e, nas mãos de pessoas que nunca foi visto por esse ser, os ouvidos que nunca ouviram outras coisas a não ser os barulhos das bolhas feitas pelo líquido mnêmico, agora passa a ouvir sons jamais ouvidos. A pele até então totalmente protegida pelo saco uterino agora está exposto ao tempo, ar, e a toda a sorte de infiltrações por microrganismos bons e ruins que enfestaram essa pele nova e sem nenhuma experiência da vida externa. Esse primeiro processo de humanização acontece imediatamente ao parto/caos, que chamamos nascimento.
O ser humanizado então, começa seu processo aprendendo a ver e observar a vida através dos olhares, palavras e toques de outros seres que estão ao seu redor. Esses outros seres serão os maiores exemplos para esse novo ser, no processo de humanização. Esse ser em processo de humanização passará a entender sobre moral, ou seja, aprendera o que é certo e errado, sobre as verdades e mentiras, sobre decência, honestidade, amor, ódio, paz, guerra, carinho, desprezo, dores, curas, enfim, todo tipo de aprendizado que formará um ser totalmente humanizado.
Esse processo de humanização é fundamental para que possamos entender um pouco sobre eu e você. Pois muitas vezes, não nos atentamos que tudo que somos hoje (ser humanizado) passou pelos olhos dos outros que nos rodeavam e, ignorar isso é o primeiro passo para sofrimentos na vida adulta, pois sem esse entendimento não saberemos de verdade quem somos. Depois do nascimento (parto) e, através do processo de humanização nos tornaremos reflexo do que aprendemos e, somente teremos a chance de modificar algo se aprendermos os “porquês” nos ensinaram o que ensinaram e, os “porquês” dos que nos fizeram.
Na humanização o ser que nasceu não tem escolha, pois estará sempre a mercê dos que os rodeia. Se o ser for rodeado de amor terá amor para oferecer, se for rodeado de ódio terá ódio para oferecer. Na maioria das vezes, esse ser em processo de humanização tem toda essa fase completada, ou seja, todos os aprendizados e traumas guardados até a idade de 6 a 8 anos, pois a partir dessa idade iniciamos o processo de repetição de tudo o que aprendemos nesse processo de humanização feita pelas pessoas que nos rodeiam. É aí que gostaria de me deter por um tempo para conversarmos sobre autoentendimento e autoconhecimento.
Quando falo em autoentendimento e autoconhecimento quero me referir ao ser humanizado, ou seja, o ser que passou por tudo que foi descrito acima (de forma simples) e, a importância de saber sobre isso, pois não entender que fomos humanizados por outras pessoas pode gerar em nossas uma busca errônea sobre quem somos de verdade. Ouço muitas vezes pessoas dizendo: “Vamos daqui para frente”, “ O que vale é o futuro”, “Esqueça seu passado”, “ o passado já passou, vamos para frente...” e, por aí vai, veja, não quero dizer que devemos ficar parados no passado, mas que devemos entender o passado, pois quando entendo o passado, fico mais tranquilo no presente e posso traçar um futuro com mais tranquilidade.
Nossa humanização foi interiorizada por outras pessoas e, o fato de entender isso, pode abrir possibilidades para modificar algumas “formas” de como e porque faço o que faço. Nossa humanização pode ser melhorada ou lapidada se aceitarmos que nem tudo que fazemos é do nosso gosto, ou da forma que queríamos, por isso, ao entender como tudo aconteceu poderemos modificar e melhorar os processos internalizados em nós. Claro, que muitas coisas não poderão ser modificas, pois estão tão enraizadas que seria muito difícil o processo de mudança, porém, se pelo menos modificarmos algumas situações, poderemos diminuir e muito as dores traumáticas do passado e, conseguir ensinar para as outras gerações processos mais valiosos e menos traumáticos.
O autoconhecimento e autoentendimento são processos fundamentais para entendermos sobre a humanização que nos foi imposta pelos outros seres que nos ensinaram tudo. Não existe nada certo ou errado no processo de autoconhecimento e autoentendimento, pois não é uma busca pela verdade, mas sim pelo entendimento e pacificação de algumas situações.
Busque sempre o autoconhecimento e autoentendimento e, com isso, entenderemos mais sobre humanização do ser.
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