Deixa ir: quando o desapego se faz necessário

Talvez eu deixe você ir. Assim, no meio da tarde. Simplesmente vire as costas e finja que você não está mais lá. Sei que te amo, que é verdadeiro e profundo. Mas entre te amar e me amar....na boa? Ainda fico comigo.

Estar com alguém que você ama, mas não te serve é um erro. Não te serve, não porque tem diferenças, aliás, essa é a parte boa. E nem porque não é tão inteligente ou sensível como você gostaria. Mas porque existem diferenças que não podem passar despercebidas. Diferenças de caráter. Diferenças do que queremos para as nossas vidas. De como vamos encarar os fatos ou fazer nossas escolhas. Falta de confiança. Traições passadas. Não sei, coisas que até poderiam ser superadas, se não fossem tantas.

Desapegar é difícil. Complicado até não querer mais. Dolorido. Estranho. Desapegar é continuar e deixar o amor lá, sem ele estar. Desapegar é não ter mais a presença, o cheiro, a voz, só uma sensação estranha de que tem algum pedaço seu por aí, perdido. Um punhado de você, de partículas do seu coração batendo em outros corpos. Ardentemente, solenemente. Amando outros corações, quem sabe. Apego não é amor, assim como desapego não é deixar de amar. Desapegar é só se escolher, ao invés de se negar.

Sim, vou deixar você ir. É preciso, é necessário. Algumas coisas simplesmente precisam ser feitas e não pensadas. Cortar o mal pela raiz, deixar o fogo se apagar. Sair no final da festa, depois de tudo terminar. Comer o último pedaço de bolo, aproveitar tudo antes da dieta restritiva. Mas passa. A falta passa. O ego acostumado se esquece. Se tem uma coisa que fazemos bem como ser humano é nos adaptar. É deixar que o bom tome conta dos nossos dias, das nossas vidas. Parar de fazer escolhas erradas.

No final, é só isso. São só, e sempre, escolhas. Algumas o coração faz, outras são a cabeça. Talvez deixar você ir hoje seja isso: uma maneira de me mostrar como eu posso escolher. O poder que me foi dado de escolher as minhas experiências e a minha vida. Escolher que você sempre vai estar no coração. Longe dos olhos e de todo o resto. Mas não sem tristeza. Não sem algumas lágrimas, assim, no meio da tarde. De novo. E de novo. E de novo.

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