Não sei você, mas quando eu era criança e em alguns momentos da minha vida desejei ser invisível, como nos filmes, desenhos, quadrinhos, como na fantasia que há para anestesiar. Queria sumir de uma hora para outra, não ser vista, não ser percebida, não ser ouvida... Até aqueles pesadelos estranhos em que gritamos e ninguém nos ouve, até mesmo o que parece assustador, em vários momentos representou o meu maior desejo.
Mas o que tenho notado de alguns dias para cá é que esse anseio pela invisibilidade tem deixado de ser um desejo, isso porque se realizou. Isso mesmo, me tornei invisível, passei a gritar sem ser ouvida, passei a caminhar entre a multidão sem ser vista, não preciso mais desejar que um buraco se abra para que eu me esconda, porque ganhei o “dom” da invisibilidade.
Como ser encantado por um feitiço sem validade, não sei se posso chamar de positivo ou negativo a arte de não ser visto. Será que é realmente melhor que não me conheçam, que não me vejam e que realmente não desejem conhecer o que não veem?
Experimento todos os dias um longo cálice de invisibilidade, sinto todos os dias o que é não ser enxergado, notado, sentido e pior, a cada dia mais as pessoas estão comprometidas com o que “acham” que enxergam.
Não posso chamar a invisibilidade de maldição, mas também não posso reputá-la como benção. Hoje, diferente de quando era criança ou de momentos de ânsia em não ser vista, preciso ser enxergada, desejo que de fato queiram saber quem eu sou e mais do que isso, que se empenhem em conhecer meu coração que reúne beleza e também terror e que milagrosamente ainda existe após tantas vezes ter sido despedaçado.
Eu quero ser vista, não por vanglória de qualquer tipo, não pelo efêmero reconhecimento nessa vida tão breve, mas porque tenho um coração, porque acredito ter mais dentro de mim do que no reflexo pelo qual me veem.
Confesso que há alguma tristeza e também complexidade no julgamento sobre a mágica de não ser visto.
Quando somos invisíveis as pessoas “supõem” sobre quem somos e de maneira alguma mencionam qualquer item a nosso respeito porque não nos conhecem, não tiveram intenção e nem vontade de nos conhecer melhor.
Então como desejo de uma eterna criança, peço por um momento qualquer ser enxergada como sou, com todas as minhas cores e trevas, com todo o meu amor e fraqueza, com toda a minha passionalidade, humor e, principalmente, com toda a minha sofreguidão em ser alguém melhor.
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