Iemanjá

Venerada e adorada por milhares de fiéis brasileiros, Iemanjá é considerada a rainha dos mares e a divindade do amor, da maternidade, da família e da fertilidade.

Sua adoração foi passada de geração em geração, muito antes de o Brasil ser colonizado, e, hoje, esse orixá é um símbolo importante para a cultura brasileira e para muitas comunidades do país.

O que você encontrará nesse artigo:

Por isso, vamos explorar, neste artigo, a história, a origem e o impacto cultural de Iemanjá, bem como as maneiras de cultuá-la.

Quem é Iemanjá, a rainha do mar?

Iemanjá é conhecida como a grande mãe da religião iorubá. Em sua língua original, seu nome é Yemoja, e ela é a entidade que fertiliza, inspira a maternidade, proporciona acolhimento, cuidado e proteção para aqueles que a procuram, principalmente quando viajam pelo mar.

Atualmente, Iemanjá é representada como uma mulher branca, com um vestido branco-azulado, que está em pé sobre as águas, com seu cabelo preto e comprido. No entanto, a rainha dos mares é originalmente representada como uma mulher negra, forte, com quadril largo e cabelos cacheados ou crespos. Contudo, a primeira figura foi a que ficou mais forte no imaginário brasileiro, devido à aceitação de Iemanjá pela comunidade branca.

Essa mãe poderosa e amorosa reside nos mares, por isso, seu ponto de poder é nas praias e nos oceanos. Por ser ligada tão fortemente ao elemento água, Iemanjá trata das nossas emoções, tanto as superficiais (como as ondas na beira da praia) quanto as mais profundas (que escondemos nos fundos dos oceanos).

História de Iemanjá: explorando os mitos e lendas sobre a deusa

O que hoje conhecemos como Umbanda é, na verdade, uma religião que se originou de outra fé, trazida pelas pessoas escravizadas do continente africano. As tradições, origens e histórias foram passadas oralmente, não tendo um livro-base, por isso, não podemos afirmar qual é a real origem de Iemanjá. No entanto, há alguns mitos conhecidos sobre a rainha dos mares que podemos explorar hoje.

Iemanjá e a criação do mundo

Desenho de Iemanjá no fundo do mar

Algumas lendas mais antigas descrevem o surgimento de Iemanjá na época em que o mundo estava sendo criado, logo, ela seria uma das primeiras entidades a ganhar vida, juntamente a outros orixás.

A lenda de Iemanjá

Conta a lenda que Iemanjá se casou com Olofin-Oduduá, com quem teve 10 filhos. Por amamentar as 10 crianças, ela ficou com seios muito grandes e constantemente recebia insultos de seu marido. Cansada da situação, Iemanjá deixou o marido e foi procurar pela felicidade.

No caminho, ela conheceu o rei Okerê e se apaixonou por ele, mas se casou com ele apenas quando ele aceitou a condição de não caçoar do tamanho de seus seios. Porém, um dia, bêbado, o rei começou a zombar dos seios de Iemanjá, o que a fez fugir novamente.

Aprenda a fazer uma guia de Iemanjá

Okerê tentou persegui-la para tentar reconquistá-la, mas a rainha do mar usou uma poção, que ganhou do pai, para escapar do marido. A poção a transformou em um rio que desaguava no mar.

Com medo de perdê-la, Okerê se transformou em uma montanha, para impedir que ela chegasse ao mar, mas Iemanjá pediu ao seu filho Xangô que partisse a montanha ao meio com um raio, e ele assim fez, permitindo que o rio seguisse o seu caminho. Foi dessa forma que Iemanjá encontrou-se com o oceano e se tornou, enfim, rainha dos mares.

Livros sobre Iemanjá

Para quem deseja realmente se aprofundar nos detalhes sobre Iemanjá, existem livros que ajudam a compreender melhor essa divindade tão importante na cultura brasileira:

– “Uma rede para Iemanjá”, de Antônio Calado
– “Iemanjá e suas lendas”, de Zora Seljan
– “Iemanjá: lendas, arquétipo e teologia”, de Claudia Souto e Paulo Augusto

O impacto da cultura brasileira na adoração de Iemanjá

Foto de um atabaque e, no fundo, há membros de uma comunidade umbandista dançando

Você já deve ter percebido como Iemanjá é popular no Brasil. Aliás, os rituais mais comuns da virada do ano — como pular sete ondas, levar rosas brancas para o mar, entre outros — são dedicados à rainha dos mares. Mas, afinal, por que, de todos os orixás, ela se tornou tão conhecida?

Tudo começa no período da escravidão, quando os africanos traficados para o Brasil trouxeram consigo suas tradições. Segundo o sociólogo, antropólogo e babalorixá Rodney William Eugênio, em um artigo para a BBC, "Iemanjá é representação da grande mãe da tradição iorubá", e seria ela o grande elo entre os continentes africanos e sul-americanos, uma vez que a conexão entre eles é o mar, morada da rainha.

Os estudiosos acreditam que Iemanjá se popularizou exatamente por conta do processo de escravização. Por ela ter essa energia materna e acolhedora, a divindade seria o símbolo da união entre os escravos e suas famílias, das quais foram separados, no duro processo de migração.

Eugênio diz à BBC que "para as religiões de matriz africana, ela foi a possibilidade de refazer, reinventar a família, que no processo de escravização havia sido esfacelada. Em termos simbólicos, Iemanjá representou o compromisso de recriar a família, promover a união na diáspora".

Entendemos, assim, que, em um país cuja população tem cerca 54,2% de pessoas negras, muitas descendentes diretas de escravos, cultuar Iemanjá é uma forma de se conectar com a ancestralidade e com a cultura roubada de seus antepassados.

Iemanjá branca e sincretismo religioso

De maneira sutil, no inconsciente coletivo brasileiro, Iemanjá é uma figura aceita e adorada até mesmo por pessoas de outras religiões, e isso vem da época da escravidão, como falamos anteriormente.

Porém, quando falamos de colonizadores que não aceitavam a cor da pele, tampouco a fé, de outros povos, algumas coisas precisaram ser alteradas para que Iemanjá fosse aceita pela população branca, ocorrendo assim o sincretismo religioso. Esse sincretismo foi aceito pelos escravos e incorporado com o tempo, mas só o fizeram porque foi imposto, caso contrário, sofreriam consequências.

Estudiosos atuais, segundo a BBC, dizem que o embranquecimento da divindade foi resultado de uma construção racista que buscou deixá-la com traços mais europeus. Para Rodney William Eugênio "a figura de Iemanjá que está no imaginário coletivo é aquela imagem da mulher branca de cabelos longos com sua túnica azul, se confundindo um pouco com as águas do mar".

Enfim, há muito material rico para estudar o papel de Iemanjá na cultura brasileira. O mais importante de tudo é a fé, pois, independentemente de como seja a sua representação, a divindade ainda é a nossa grande mãe, que está de braços abertos para acolher todos os filhos que a procuram com o coração sincero. Por isso, a seguir falaremos sobre conexão com Iemanjá e sobre o culto a ela.

Os filhos de Iemanjá

As filhas mulheres de Iemanjá costumam emanar uma energia de sedução muito grande, mas também são mulheres difíceis de se conquistar. De personalidade forte, amorosa e criativa, suas filhas se tornam apaixonadas e amantes de tudo de que gostam, sejam pessoas, sejam trabalhos ou compromissos.

Já os filhos homens da divindade são misteriosos. Embora sejam viris por fora, costumam ser dóceis e serenos por dentro. São inteligentes e autoritários, mas isso não tira o encanto que eles emanam.

Descubra as características dos filhos de Iemanjá

Para ambos os gêneros, os filhos de Iemanjá costumam gostar de conforto, são persuasivos, gostam de estar conectados à família e às tradições e também são muito sociáveis e amorosos.

Contudo, para saber se você é realmente um filho de Iemanjá, o ideal é procurar por um pai ou uma mãe de santo, que lhe orientará na jornada de descoberta e de desenvolvimento espiritual na umbanda.

O dia de Iemanjá

Foto de um calendário

No dia 2 de fevereiro é celebrado, anualmente, o Dia de Iemanjá, uma data em que os fiéis podem celebrar fazendo rituais, oferendas e rezas para a rainha dos mares. Mas, por que essa data foi escolhida?

Nessa data, teria acontecido a primeira aparição e evidência de Iemanjá, e é também a data de comemoração de Nossa Senhora dos Navegantes pelos católicos. Logo, nesse dia, ambas são homenageadas: enquanto Iemanjá é padroeira dos pescadores, Virgem Maria é a padroeira dos navegantes.

O motivo que leva as duas a serem homenageadas no mesmo dia parte do sincretismo, que já citamos anteriormente, porque, para poder exercer sua fé, os escravos associaram orixás aos santos católicos.

Contudo, há também outra data conhecida para homenagear o orixá, que é em 8 de dezembro, um momento reservado para as comemorações umbandistas.

Como celebrar o Dia de Iemanjá?

Há muitas maneiras de homenagear a padroeira dos pescadores, mesmo que você esteja longe do mar. Para isso, você pode fazer uma oração, tomar um banho de ervas, fazer simpatias, entre outros ritos.

Você também pode procurar por centros de umbanda que façam celebrações nessa data, assim, você conhecerá e aprenderá mais sobre Iemanjá com as pessoas que mais entendem do assunto.

Em lugares como Salvador, festas encantadoras acontecem para celebrar Iemanjá.

Separamos algumas formas de cultuar a divindade, tanto no dia 2 de fevereiro quanto em outros momentos do ano. Confira!

Rituais e oferendas a Iemanjá

Os ritos e oferendas são a maneira mais comum de os fiéis se conectarem à divindade, mas algo que precisamos saber é que o respeito vem em primeiro lugar, quando falamos sobre tradições de qualquer religião. Se você é uma pessoa iniciante ou curiosa ou apenas simpatiza com a umbanda, é importante também procurar por um pai ou uma mãe de santo que oriente sobre a maneira correta como cada orixá deve ser cultuado.

Além disso, lembre-se de que cada simples oração, vela acesa ou banho de ervas tem uma significância espiritual, então, busque sempre ter suas intenções puras e faça o que fizer sempre visando ao bem. Entendido isso, você já pode conhecer os ritos para Iemanjá!

Oferendas para Iemanjá

Oferendas na areia, como barquinhos de madeira e rosas

É possível agradar Iemanjá com flores brancas, velas, champanhe, melão, mel, calda de ameixa ou pêssego, além de outros presentes como joias e espelhos. Mas a melhor forma de fazer uma boa oferenda para agradá-la e pedir suas bênçãos é procurar pela orientação de um Pai ou Mãe de Santo.

As oferendas para Iemanjá são geralmente feitas no mar ou no Santuário Nacional da Umbanda, na Praça de Iemanjá. Em ambos, a rainha receberá seus agrados. No entanto, vale lembrar que ela é a rainha e protetora dos mares, e quanto mais evitarmos poluir a sua casa, mais contente ela ficará. Sendo assim, se você conseguir deixar a oferenda somente na praia, procure levar alimentos, flores, coisas naturais e perecíveis que irão se decompor e virar alimento para a Terra.

Conheça mais uma das histórias de Iemanjá

Se utilizar barquinhos para entregar a oferenda, opte pelos de madeira, de preferência sem nenhum acabamento com produtos químicos, porque eles serão menos prejudiciais ao meio ambiente e ao ecossistema marinho. Nossa grande mãe com certeza se contentará ao ver seus filhos cuidando e zelando pelo seu lar.

Oração de Iemanjá

Outra forma simples, mas eficaz, de cultuar a divindade e pedir sua ajuda é por meio das orações. Confira as seguintes preces para fazer no dia a dia.

Prece a Iemanjá para proteção (autor desconhecido)

Divina mãe, protetora dos pescadores, que governa a humanidade, dai-nos proteção. Ó doce Iemanjá, limpai as nossas auras, livrai-nos de todas as tentações. És a força da natureza, linda deusa do amor e da bondade (fazer o pedido). Ajudai-nos, descarregando as nossas matérias de todas as impurezas, e que a vossa falange nos proteja, dando-nos saúde e paz. Que assim seja feita a vossa vontade. Odoyá!

Prece a Iemanjá para abertura de caminhos (autor desconhecido)

Ó soberana mãe das águas, venha a mim neste momento de aflição. Com minha fé e devoção acendo esta vela (acenda uma vela azul) para iluminar meus pedidos e caminhos. Ó mãe Iemanjá, assim como controla a força das águas, venha e ajude-me no que eu necessito (fazer o pedido). Com seu manto azul perolado, cubra a minha vida de alegrias e a de todos aqueles que me estão ao redor. E aos que pensam ser meus inimigos, esses, mãe soberana, mude-lhes os pensamentos, para que se tornem dignos, e lhes tire o ódio do coração. Ajude a resolver o que me aflige e me acompanhe nesta jornada, para que males não me alcancem. Ó soberana mãe Iemanjá, desde já lhe agradeço, pois tenho fé que estará comigo. Omio omiodo ya!

Oração a Iemanjá para o amor (autor desconhecido)

“Odoyá Rainha das águas, mãe amorosa, que a todos ampara,
Protetora das famílias, senhora de luz e que zela pelos seus,
Adoça o coração dos que sofrem por não verem a luz em seu caminho,
Lava a dor que fecha o coração e afasta o que tenta destruir o amor.

Que a força de suas ondas se una às águas calmas e doces,
E que, no encontro de rio e mar, possa florescer o amor,
Cheirando a rosa amarela, bordado em ouro e pérola,
Nos braços de mamãe Iemanjá e no colo de mamãe Oxum.

Odoyá mamãe Iemanjá! Ora iê iê mamãe Oxum!”

Ore para Iemanjá à sua maneira

Apesar de existirem orações prontas, você também pode pedir para a grande mãe da maneira que se sentir confortável. Conecte-se com a energia das águas, firme sua intenção, acenda uma vela branca e ore, afinal, a fé é mais poderosa do qualquer palavra que dizemos.

Pontos e músicas de Iemanjá

As músicas e os cantos são maneiras mágicas de se conectar com a divindade e atrair energias positivas para a sua vida. Conheça as principais que homenageiam Iemanjá.

Brilhou, brilhou, brilhou no mar
O manto de nossa Mãe Iemanjá
Brilhou, brilhou no mar
E agora vai brilhar neste congá

Mãe d'água, rainha das ondas, sereia do mar
Mãe d'água, seu canto é bonito quando vem do mar
Mãe d'água, rainha das ondas, sereia do mar
Mãe d'água, seu canto é bonito quando vem do mar

Como é lindo o canto de Iemanjá
Faz até o pescador chorar
Quem escuta a mãe d'água cantar
Vai com ela pro fundo do mar

Ê, Iemanjá!
Rainha das ondas, sereia do mar

Tem areia
Tem areia
No fundo do mar
Tem areia

Tem areia, tem areia
Tem areia
No fundo do mar
Tem areia

No fundo do mar tem pedra
Debaixo da pedra tem areia
Onde mora minha mãe
Minha mãe linda sereia

Ouça esses e outros pontos no YouTube:

Pontos de Umbada

Os ensinamentos espirituais de Iemanjá e a importância da maternidade para ela

Orixá da maternidade, da fertilidade, da criação e da proteção, Iemanjá é uma grande mãe que abraça seus filhos de todas as cores e de todos os lugares. Com ela, aprendemos que esse amor incondicional que parte de uma mãe consegue fortalecer e curar qualquer ser vivo.

Iemanjá nos ensina que a essência feminina da criação é a força vital para toda a humanidade, porque sem o feminino, sem nossas mães geradoras, nenhum de nós estaria aqui, evoluindo e usufruindo deste mundo.

Por fim, a rainha dos mares nos lembra de que todos nós somos filhos da natureza, mesmo que tenhamos nos esquecido disso, e que buscar pela reconexão com a nossa mãe terra e com a nossa espiritualidade é o caminho para alcançar cura e equilíbrio.

Iemanjá, a rainha dos mares, consegue surpreender-nos a cada coisa nova que aprendemos sobre ela! Então, se você gostou do que viu aqui, não deixe de se aprofundar nas leituras que indicamos e nas práticas espirituais que lhe conectam à Iemanjá.

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