Uma das heranças mais ricas da cultura africana em nosso país é a religião. Conhecimentos, ritos e práticas valiosas, trazidas pelos africanos escravizados, influenciaram muito a constituição de nossa cultura brasileira.
Assim, surgiram religiões de matriz africana como a Umbanda e o Candomblé, que foram ganhando terreno e adeptos ao longo dos séculos. Tais religiões nos apresentaram a mitologia africana, que confere grande destaque aos Orixás.
É sobre essas importantes entidades que falaremos neste artigo, apresentando suas origens, suas histórias e seus aspectos mais importantes. Está pronto para essa jornada de sabedoria? Então, vamos lá!
Saiba mais sobre Orixás:
O que são Orixás?
É comum que os Orixás sejam confundidos com deuses, mas essa definição não é a mais adequada. Eles são entidades sobrenaturais poderosas e — por que não? — divinas que fazem a intermediação entre o ser humano e Olorum (ou Olodumare, no Candomblé), o deus soberano e senhor de tudo.
Orixás podem ser considerados energias criadas por Olorum ou ancestrais que foram divinizados. No segundo caso, encontramos Orixás que foram figuras importantes na Terra e, após sua morte, passaram a ser cultuados na mitologia africana.
Desvende qual Orixá se conecta a cada planeta
Seja qual for o caso, os Orixás apresentam personalidades muito aproximadas às dos seres humanos: sentem paixão, raiva, ciúmes, alegria etc. Também representam forças da natureza, possuem histórias únicas e têm oferendas, cores, símbolos e cantigas específicas relacionados a si, como veremos mais adiante.
Mitologia dos Orixás
A mitologia Iorubá é rica em narrativas que contam a história dos Orixás, suas origens, características e vivências. Muitas dessas narrativas foram transpassadas para as religiões afro-brasileiras, mantendo o vínculo com sua origem.
No entanto, cabe ressaltar que a mitologia dos Orixás sofreu grande variação nas religiões afro-brasileiras. Existem Orixás com variadas versões de seus mitos. Sem contar a concatenação de vários Orixás em apenas um — algo que ocorreu, por exemplo, com Oxalá. Possivelmente, condições sócio-históricas interferiram nessa questão.
O sincretismo entre Orixás e santos católicos é outra variante: na tentativa de camuflar seus cultos para não serem reprimidos, os africanos aqui escravizados associaram seus Orixás aos santos. Isso gerou uma mescla das características dos Orixás africanos com as dos santos católicos, modificando alguns mitos.
Assim, é comum e perfeitamente normal que os mitos apresentem diferenças de uma narrativa para a outra. Cada grupo religioso adere à versão que mais faz sentido para si.
Outro aspecto importante na mitologia dos Orixás é a existência de um deus soberano. Chamado de Olorum ou Olodumare, teria sido ele o criador dos Orixás. Olorum não interfere na vivência dos humanos e entrega as tarefas aos Orixás. Por exemplo, foi Olorum quem ordenou a Oxalá que criasse a humanidade.
Além da regência desse deus soberano, outro detalhe importante na mitologia Iorubá é a ligação que os Orixás possuem entre si. Por isso, você verá muitas narrativas apontando um Orixá como filho de outro, por exemplo.
Com todas essas nuances, a mitologia dos Orixás se mostra um campo muito rico dentro das religiões afro-brasileiras e, também, a título de estudo sobre as influências africanas na constituição de nosso país. Saber quem são os Orixás, então, pode ser o primeiro passo de uma bela jornada rumo a esse conhecimento.
Conheça todos os Orixás da Umbanda
Quantos Orixás você conhece? Na religião Iorubá, são mais de 400, mas muitos nem chegaram a ser cultuados nas religiões afro-brasileiras. Atualmente, poucos são conhecidos no Brasil.
Nos próximos tópicos, falaremos sobre os Orixás mais populares, sobre os quais foram repassados (ou reconstruídos) os mitos em terras brasileiras, principalmente cultuados na Umbanda.
Exu: Orixá guardião das encruzilhadas, dos templos, das passagens, das casas, das cidades e, também, das pessoas. É considerado o mensageiro divino dos oráculos, pois intermedia a comunicação entre humanos e Orixás. Exu é responsável pela abertura de caminhos e costuma ser cultuado no início dos trabalhos. Sua saudação é “Laroyê Exu!”. Sua cor é vermelha e preta. Suas oferendas incluem dendê, farofa, velas e galinhas.
Ogum: Orixá do ferro, da guerra, do fogo e da tecnologia, simboliza a coragem e a proteção tanto nas guerras terrenas quanto nas espirituais. Esse Orixá guerreiro também atua na lei e na ordem, sendo o responsável por executá-las com uma personalidade justiceira. Sua saudação é “Ogunhê!”. Ele é representado pelas cores vermelha e branca. Suas oferendas incluem feijão preto, inhame, cerveja branca, charutos e frutas.
Aprenda um pouco mais sobre as cores dos Orixás
Oxóssi: Também conhecido como Odé, é o dono das matas e Orixá da caça e da fartura, é associado à natureza, às florestas, à provisão e à sabedoria. Estrategista nato, não só caça os animais como também os protege. Sua saudação é “Okê Arô!”. Verde é a sua cor. Suas oferendas incluem frutas, mandioca, inhame, vegetais e caças simbólicas como peixes.
Logunedé: Orixá jovem da caça e da pesca, também chamado de “príncipe das matas”. Filho de Oxum e Oxóssi, possui características de ambos. De Oxóssi, herdou a arte da caça; de Ogum, herdou beleza e poder mágico. Sua saudação é “Logun ô akofá!”. As cores amarelo-ouro e azul-turquesa o representam. Suas oferendas incluem frutas, peixes, milho e grãos.
Xangô: Considerado o protetor da justiça, também é conhecido como Orixá do fogo e do trovão. Representa a autoridade e o equilíbrio. Ele intercede nos impasses de seu povo com seu conhecimento sobre o bem e o mal. Sua saudação é “Kaô Kabecilê!”. Sua cor é a marrom. Suas oferendas mais tradicionais são as flores marrons, a cerveja preta e o fumo.
Airá: Orixá das conquistas materiais e espirituais. Tem profundas ligações com Oxalá e com Xangô, sendo considerado parte do fundamento e servo de confiança deste último. Costuma ser confundido com o próprio Xangô. Sua saudação é “Airá mederiê!”. Ele usa branco, cor que o representa. Suas oferendas incluem velas brancas, pipocas e alimentos leves.
Obaluaiê: Considerado como o Orixá das doenças epidérmicas e pragas e, também, como o Orixá da cura. Ele é representado por um ancião curvado e doente, sendo responsável tanto pela cura física quanto espiritual. Sua saudação é "Atotô! Atotô, Babá!". Suas cores são preto, branco e vermelho. Suas oferendas incluem pipoca, milho e cuscuz.
Oxumarê: Orixá da chuva e do arco-íris, é capaz de controlá-los e trazer transformação e renovação à vida das pessoas. Também é conhecido como dono das cobras. Ele representa a dualidade e representa a dualidade da vida. Sua saudação é "Arroboboi Oxumarê!". As cores que o representam são todas as do arco-íris. Suas oferendas incluem flores de variadas cores.
Ossain: Chamado de Orixá das folhas, conhece o segredo de todas elas, incluindo as propriedades medicinais das plantas. Assim, possui grande sabedoria sobre os poderes curativos da natureza. Sua saudação é "Ewê ô, Oçânhim!". Suas cores são verde claro e branco. Suas oferendas comuns são cachaça, mel, folhas de boldo e arruda.
Oiá ou Iansã: Orixá feminino dos ventos, dos relâmpagos, das tempestades e especificamente do Rio Níger. Guerreira poderosa e abdicada de vaidade, também foi esposa de Ogum e, depois, de Xangô. Sua saudação é “Eparrei Oiá!”. Sua cor é o amarelo ouro. Suas oferendas incluem crisântemos e rosas amarelas.
Oxum: Poderosa Orixá feminina dos rios e das cachoeiras, do amor e da beleza, do jogo de búzios e do ouro. Possui uma personalidade protetora e amorosa, além de ser responsável pela fertilidade das mulheres. Sua saudação é "Ora iê iê ô, Oxum!". Ela é representada pelo azul. Suas oferendas incluem pêssego, banana-ouro e melão.
Iemanjá: Orixá feminino dos lagos, rainha dos mares e mãe de todos os Orixás. Representa a fertilidade e o amor maternal. Ela é a Orixá protetora daqueles que vivem no ou para o mar. Sua saudação é “Odoyá!”. Sua cor representativa é a azul. Suas oferendas mais comuns são rosas azuis e brancas, champanhe branca e perfume de alfazema.
Nanã: Orixá feminino dos pântanos, senhora da vida e da morte. É a mais velha entre as Orixás, possuindo a sabedoria anciã e matriarca. Também é mãe de Obaluaiê. Sua saudação é “Salubá Nanã!”. Suas cores são roxo, branco e lilás. Suas oferendas incluem ameixa, vinho rosé, jabuticaba e batata doce.
Ieuá: Conhecida como Orixá feminino do Rio Yewa, é dotada de grande sabedoria, além de ser símbolo de beleza e possuir o dom da vidência. Também rege neblinas e nevoeiros. Sua saudação é “Ri Ro Ewá!”, suas cores são o rosa, o coral e o vermelho. Suas oferendas mais comuns são flores vermelhas e cor-de-rosa.
Obá: Orixá feminino do Rio Oba, foi uma das esposas de Xangô, mas dispensa a devoção de homens. Guerreira e bastante respeitada entre as mulheres, possui filhas raras. Sua saudação é “Obá xirê!”. As cores que a representam são amarelo e vermelho. Suas oferendas costumam incluir coquém, amalá e acarajé.
Axabó: Orixá feminino pertencente à família de Xangô. Apesar de pouco cultuada no Brasil, está ligada à justiça, à sabedoria e ao equilíbrio. Sua saudação é “Kawó Kabiesilê!”, sua cor é o marrom e suas oferendas mais comuns incluem velas e alimentos como inhame e feijão fradinho.
Ibeji: São os Orixás gêmeos que representam a infância, a alegria e a fertilidade. Além de serem protetores das crianças, também se associam à ideia de dualidade. Sua saudação é “Oni Beijada!”. Suas cores representativas são o rosa, azul e verde claros. As oferendas mais comuns incluem doces e brinquedos.
Iroko: Orixá da árvore sagrada, chamada de gameleira branca no Brasil. Ele foi a primeira árvore plantada na terra, rege a ancestralidade e o tempo. Sua saudação é “Irôko Issó! Eró! Irôko Kissilé”. As cores são cinza, branco e verde. Suas oferendas incluem farofa de dendê, milho branco, ajabó e carneiro.
Egungum: É um ancestral cultuado após a sua morte. Seu culto costuma ser realizado em casas separadas dos outros Orixás e de forma mais secreta. No Brasil, ele não é tão difundido. Sua saudação varia conforme a tradição. Sua cor é o preto. Suas oferendas incluem velas e bebidas alcoólicas.
Iyami-Ajé: A grande mãe feiticeira, considerada como a sacralização da figura materna. Sua invocação é uma das primeiras a ser feita, assim como ocorre com Exu, e seu culto é um tanto secreto, acessado apenas pelos iniciados. Possui diversos nomes, fazendo parte de uma coletividade. Por isso, para saudar uma Iyami, basta pronunciar o nome de uma delas. Suas oferendas incluem obi, orobô e água.
Onilé: Orixá feminina que representa a Mãe Terra e está relacionada ao culto aos Egunguns, por ser a representação coletiva deles e dos Elegun. É cultuada discretamente em alguns terreiros. Sua saudação é “Onilé, Mojubá!”. Sua cor é o marrom. Suas oferendas incluem alguns animais, como aves fêmeas, além de bebidas alcoólicas e velas.
Oxalá: Também chamado de Obatalá ou Orixanlá. Na Umbanda, é o maior de todos os Orixás e o mais respeitado. Conhecido como o Orixá do branco, da paz e da fé, foi o responsável pela criação dos seres humanos, segundo a ordem de Olorum. Sua saudação é “Êpa Babá!”. Ele é representado pela cor branca. Suas oferendas principais são rosas brancas, milho branco e cozido sem sal, vinho branco doce e velas brancas.
Orunmila-Ifa: Reverenciado como o Orixá da adivinhação e do destino, é considerado o porta-voz de Orunmila e guardião da sabedoria contida no Ifá. Leva sabedoria e orientações a todos os seres humanos da Terra através do Jogo de Búzios. Sua saudação é "Epá Ojú Olorún, Ifá Ò!". Suas cores são amarelo e verde. Suas oferendas mais comuns são mel, milho, inhame e lagosta.
Odudua: É conhecido como o criador do mundo e do Universo. É considerado como um dos primeiros Orixás, sendo até mesmo anterior ao próprio Oxalá. Também é tido como pai do povo iorubá e, por alguns, como pai de Oranian e Ogum. Sua saudação é "Odudua Ibaô!". Suas cores representativas são o branco e o marfim. Entre suas oferendas, está uma canjica com pombo branco regado ao mel.
Descubra a oferenda que mais agrada a cada Orixá
Oranian: Filho mais novo de Odudua e pai de Xangô, fundou o Reino de Oyó e nele reinou. Com uma aparência singular, nasceu com o corpo dividido, verticalmente, em duas cores, uma clara e outra escura. Está associado à realeza, à liderança e ao equilíbrio. Sua saudação é "Oraniã!", sua cor é o azul e suas oferendas incluem flores, velas e frutas.
Baiâni ou Dadá Ajacá: Orixá associado à beleza, à alegria e à festividade, é irmão mais velho de Xangô e filho de Oranian. Sua saudação é "Odociaba, Baiâni!". As cores associadas a ele são o dourado e o amarelo. Suas oferendas incluem champanhe, frutas tropicais, doces e velas.
Olokun: É conhecido como o senhor dos mares, onde faz morada. É um dos Orixás mais poderosos e, também, o mais temido entre eles. Além disso, possui uma energia misteriosa e tem sua ira representada pelo dilúvio. Sua saudação é “Maferefun Olokun!”. Suas cores são branco, azul e verde claro. Suas oferendas incluem porco e banana verde fritos e akará.
Olossá: Orixá dos lagos e das lagoas, é filha de Iemanjá e Orungan. Com uma personalidade zelosa e sensível, tem os crocodilos como seus mensageiros. Sua saudação é "Saluba Olossá!". Sua cor é o verde claro. Entre suas oferendas comuns, estão folhas, frutas e peixes de água doce.
Oxalufã: Orixá da paz, da paciência e da tranquilidade, representa a qualidade de um Oxalá velho e sábio. É representado pela imagem de um velho curvado e apoiado sobre um opaxorô. Sua saudação é "Êpa Babá Oxalufã!". Sua cor é o branco. Suas oferendas incluem alimentos brancos, como arroz e leite de coco.
Oxaguian: Representa a qualidade de um Oxalá jovem e guerreiro. Está relacionado com o sustento, com a terra e a floresta. Possui uma personalidade astuta e conquistadora. Sua saudação é “Epá bàbá!”. Sua cor é a branca. Suas oferendas incluem pipoca, velas brancas e milho.
Ocô: Considerado o Orixá da agricultura, é pouco conhecido no Brasil. Representa o trabalho e a fertilidade da terra, as colheitas e sua prosperidade. É o protetor de todos os preparos da terra para o plantio. Sua saudação é "Ocô Olerê!. Sua cor é o verde. Suas oferendas incluem milho, frutas, feijão e velas verdes.
Dia da semana de cada Orixá
Na Umbanda, cada Orixá está associado a um dia da semana, no qual costuma ser cultuado. A seguir, listamos os dias de cada Orixá apresentado neste artigo, mas ressaltamos que pode haver variações de acordo com a tradição de cada casa de Umbanda.
Exu: segunda-feira e sexta-feira.
Ogum: terça-feira.
Oxóssi: quinta-feira.
logunedé: quinta-feira e sábado.
Xangô: quarta-feira.
Airá: sábado.
Obaluaiê: segunda-feira.
Oxumarê: quinta-feira.
Ossain: quinta-feira.
Iansã: quarta-feira.
Oxum: sábado.
Iemanjá: sábado.
Nanã: sábado ou segunda-feira.
Ieuá: terça-feira.
Obá: segunda-feira ou quarta-feira.
Axabó: segunda-feira.
Ibeji: domingo.
Iroko: quinta-feira.
Egungum: segunda-feira.
Iyami-ajé: terça-feira.
Onilê: quarta-feira.
Oxalá: sexta-feira.
Orunmila-ifa: quarta-feira.
Odudua: quarta-feira.
Oranian: terça-feira.
Dadá ajacá: quinta-feira.
Olokun: segunda-feira.
Olossá: segunda-feira.
Oxalufã: sexta-feira.
Oxaguian: sexta-feira.
Ocô: quinta-feira.
Filme sobre Orixás na Netflix
Que tal um drama nigeriano para conhecer um pouquinho da cultura Iorubá? Lançado em 2022, o filme “Aníkúlapó” já chegou na Netflix e conquistou o público brasileiro.
O longa conta a história de Saro, assassinado, a mando do rei, após se envolver com a rainha. Já no plano espiritual, Saro encontra um pássaro místico chamado Akala, que lhe concede uma segunda chance.
Mas Saro não apenas volta à vida: agora ele também possui o poder de ressuscitar os mortos, fato que lhe atrai fama para além das fronteiras de sua vila Oyo.
O filme retrata bem uma parte da cultura Iorubá. Nele, é possível conhecer um pouco da mitologia dos iorubás, incluindo referências às histórias dos Orixás que apresentamos neste artigo. Vale a pena assistir tanto pela qualidade da obra quanto pela fidedignidade com a cultura africana.
Neste artigo, tentamos trazer um panorama geral sobre os Orixás, a mitologia Iorubá e as entidades mais conhecidas no Brasil, com ênfase na religião afro-brasileira da Umbanda.
É claro que podemos explorar mais o assunto e, por isso, convidamos você a ler mais sobre os principais Orixás em nosso site, conferindo suas histórias e características com maior profundidade. Axé!
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