Uma das coisas que eu mais escuto de homens e mulheres em relacionamento ruins, abusivos ou não, é o medo de ficarem sozinhos. Incrível como o ser humano se apavora diante dessa possibilidade, como se o único ser humano capaz de te amar fosse essa ou esse abençoado com quem você se meteu. Não é bem assim. Não é mesmo!
Sim, somos seres sociais. E temos uma programação mental bem específica que prioriza duas coisas: a sobrevivência de si mesmo e a sobrevivência da espécie.
Todo mundo já viu aquele olhar doce e meigo que todas as mães que acabaram de dar à luz dão para o seu bebê. Isso faz parte do combo, do pacote que o Universo, muito inteligentemente, programou em nós.
Uma mulher em gestação avançada começa a produzir um hormônio chamado ocitocina, responsável pelo nosso lado materno. Aquele lado que nos faz querer ajudar, acalmar, alimentar e fazer a cria feliz. É o nosso lado animalesco falando.
Por isso a vida amorosa é tão importante. Nos sentirmos sós afeta toda a nossa programação mental. Mesmo que a pessoa já tenha filhos, ou tenha optado por não os ter (ou não possa mesmo), ainda assim carregamos conosco um medo do desalento.
Um medo de não cumprimos a nossa meta de vida, aquilo que fomos programados para fazer. Aí entra também o desespero do relógio biológico na mulher, coisa que é mais fácil para o homem, que pode procriar até uma idade mais avançada.
Fora isso, existe um desalento da nossa própria condição. Quando bebês, estávamos confortavelmente instalados num local com temperatura, comida, água e conforto ideais. A partir do momento em que saímos dali, é como se passássemos a vida toda procurando sentir aquilo de novo (deve ser muito bom mesmo).
Como a nossa ideia de amor vem muito dos pais, principalmente da mãe, repetimos os padrões de relacionamento achando que, um dia, magicamente, uma nova “mãe” vai aparecer para gente. E sim, depois de alguns percalços, sabemos que não é isso que acontece.
Pelo menos não é isso que deveria acontecer. Mas nos frigir dos ovos, todos nascemos e permaneceremos sós. Aceitar essa condição é o primeiro passo para diminuirmos esse pavor que temos de ficarmos sós. E não, aquela não é a única pessoa do mundo e nem a única que poderia ser feliz com a gente. Na verdade, a verdadeira solidão se dá na falta de si mesmo.
Não ser quem você queria ser, não fazer, aqui, o que você veio fazer. Seus dons naturais, seu jeito de ser. Sacrificamos muito disso em nome dos outros. Não só em relacionamentos amorosos, mas em todo tipo de relacionamento.
Aí a coisa fica complicada, porque realmente passamos a achar que ficaremos sós e desamparados, assim como ficamos quando saímos da barriga quentinha da nossa mamãe.
Entender o mecanismo por trás disso também é importante. Se quer perder o medo de estar só, pare de se deixar de lado. Pare de se deixar só para atender expectativas que não são suas, viver sonhos que não sejam realmente seus. O medo diminui à medida que entendemos que podemos ser amados simplesmente porque nós somos nós mesmos.
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