A palavra moral vai muito mais além do que um sentido ou uma forma. Ela diz respeito a um conjunto de regras, normas, dogmas, cultura, educação, tradição e tem muito a ver com o cotidiano e criação de cada pessoa. Não conseguiremos jamais fugir da moral, pois ela está intrinsecamente ligada à criação de cada um de nós.
A moral, do latim “Morales” (costumes) é, na realidade, a definição de regras que regulam o modo de agir das pessoas, sim, pois é daí que retiramos os “bons costumes”, as “boas pessoas”, a decência, a ordem e até o “progresso”. A moral, enquanto normas, nos representa sem as palavras, ou seja, não precisa de um dizer para que a moral se manifeste, pois através de uma simples ação, seja ela qual for, descrevemos se a pessoa é moral ou imoral. Aqui cabe uma explicação sobre imoral, ou seja, alguém que quebrou ou infringiu a moral.
Somos seres moralistas em nossos pensamentos e ações, pois ao julgarmos as pessoas ou a nós mesmos, fazemos na maioria das vezes através da moral. Pouco ou quase nada se questiona sobre a moral, pois como descrevi acima ela vem do cotidiano e do ensino de nossos pais e mestres e segue um padrão, ou seja; a própria lei. Sim, a lei que rege o ser humano, coisas que são certas e querendo ou não teremos que fazer.
A moral impõe sobre o ser humano uma carga extremamente pesada que são as leis, sejam elas estabelecidas pelo Governo, Igreja, família, grupo social, ou qualquer outro ajuntamento de humanos. É através da moral que as nossas tendências malignas e benéficas se manifestam, ou seja, o “bonzinho” e “malzinho”, que somos nós mesmos, aparecem através da nossa moralidade ou falta dela.
Mas qual o efeito da moral em nossas vidas? O maior efeito é que nos tornamos homens e mulheres de julgamentos e críticas, pois é da moral que surgem os palavrórios sobre o que é certo ou errado, verdade ou mentira, realidade e fantasia. Sim, é a moral que rege muitas ações e reações em nossas vidas, isso acontece porque não nos damos conta da importância da moral e, sendo assim, ela nos domina e, quando menos esperamos, estamos sendo direcionados e regidos por ela.
A moral é boa ou ruim? Não existe uma resposta simples ou pronta para essa pergunta, pois sempre vai depender de como fomos criados e o quanto essa criação introjetou em nós enquanto ser moral. A moralidade é muitas vezes perversa e maléfica, ao mesmo tempo é ela que mantém a ordem e a decência entre os seres humanos.
Essa dualidade da moral nos remete um pensamento mais filosófico do que prático, pois na prática a moral é boa, mas quando levamos para o campo do pensamento e desenvolvimento humano ela é retrógrada e impostora, pois nos bloqueia de pensarmos diferente e até aceitar as diferenças e os diferentes.
A moral tem em si um desejo de nos manter iguais. “Perante a lei somos todos iguais”, com essa frase podemos incluir todos, mas como colocar a igualdade da moral em todas as mentes? Como fazer um perverso, ou um neurótico, ou mesmo um psicótico entender sobre moral?
A moral está sempre associada a valores e convenções que são estabelecidos coletivamente, não existe uma moral pessoal ou individual, toda moral é coletiva e se refere à cultura de uma sociedade. Ao mesmo tempo e de forma muito paranoica, ela é uma consciência individual, sim, pois toda moral “parece” que é de cada pessoa e sem ser imposta, sendo que na realidade é algo coletivo e imposto por uma pseudossociedade que cada indivíduo cria.
Somos mais complicados e complexos do que imaginamos, pois através da moral escondemos nossas indecências, feridas da alma, dores profundas como a mentira, a falsidade, a maledicência e outros males que confrontam e atormentam o ser humano. A moral apazigua esse desejo de não saber quem somos e para onde vamos. A criamos para viver em harmonia e essa mesma moral nos expõe e nos sacrifica.
São os princípios morais que determinam a moral de uma pessoa, ou seja, a honestidade, bondade, respeito, virtude, entre outros são valores universais que regem a conduta humana, porém, como medir de forma real, sensata e clara esses fundamentos? Quem tem o poder de julgar esses princípios? A moral? Criamos então essa falsa sensação de vida saudável e harmoniosa para quem vive debaixo da moral. Mas a moral é real? Somos mesmo o que dizemos que somos? E, no fundo de nós mesmos, quem somos?
O contrário de moral é imoral, porém, temos também os “amorais”, ou seja, o “a” representando ausência de moral. Esses são aqueles e aquelas que não contemplam o conhecimento ou noção do que seja moral. Por exemplo, uma criança recém-nascida é amoral, uma pessoa sem “juízo” ou com algum distúrbio mental é considerado amoral, então, podemos afirmar que a moral é algo que foi feita pela “razão” humana e segue as regras dessa “razão”.
Não é algo instituído por Deus ou qualquer outra entidade, é algo feito por mentes humanas e que tem como objetivo moralizar as mentes humanas. A moral não é, então, uma regra espiritual, mas sim normas humanas com conceitos e preceitos humanos. Então, a moral pode ser questionada? Modificada? Como?
Não podemos fugir das questões que estamos colocando, pois é a moral que tem se apoderado de pessoas e não as pessoas da moral. São os homens que estão regendo as vontades e não a moral. São os seres, e não a moral, que devem ser avaliados, pois a cada passo que damos somos confrontados com o que fazer com o ser ante a moral que ele mesmo criou para si. São os comportamentos, ações e reações que devem ser questionados, e não a moral em si.
Creio que podemos, então, inserir nessa conversa a palavra ética, pois é nela que poderemos colocar, quem sabe, uma nova luz sobre a moral. A ética é aquilo que vem do caráter ou do costume superior “Ethos”. A ética é o exame que fazemos dos hábitos da espécie humana nas áreas de antropologia, psicologia, sociologia, economia, pedagogia, política, fé, educação e dialética. É aí que devemos fincar nossos desejos de mudança da moral que tanto nos impede de ser quem somos.
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É a ética que diz se sou ou não quem eu digo que sou.
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É na ética que espelhamos nós mesmos.
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É na ética que descrevemos e inscrevemos nós em nós mesmos.
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É a ética que não julga a si mesmo, mas esclarece de onde viemos e quem somos.
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É a ética que cria o senso de ser e não de ter.
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É a ética que sensibiliza a forma de agir e pensar sobre si mesmo e o outro.
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É a ética que me leva a um bom caráter, uma boa decência, um bom agir.
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É a ética que me auxilia no aprendizado, entendimento e compreensão da vida, enquanto modelo para a natureza e o bem-estar do planeta.
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É a ética que me tira de refém da moral e suas artimanhas.
Será que a moral e a ética andam juntos? Será que existe um Deus da moral e um Deus da ética? A qual você seguiria? A moral e a ética estão para o ser humano como o céu está para o sol, ou seja, um depende do outro. O primeiro é da ordem da imensidão e do coletivo, e o segundo diz respeito à individualidade e o brilho.
Nessa metáfora podemos entender que a moral é o céu com todas suas complexidades, porém, seguindo um ritual de normalidade dentro de um coletivo. A ética é o sol que brilha e mantém o céu organizado. Sim, a individuação do ser é como o brilho do sol.
Não existe moral sem ética e muito menos ética sem moral, ou isso é na realidade uma linha que estou seguindo para justificar o não desejo de seguir as moralidades existentes no mundo que vivemos?
E você? É moralista (moral) ou ético? Vamos conversar sobre isso?
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