Ele estava distante. Mas estava tudo bem. Ele fazia falta naquela hora do filme romântico, que teria segurado a mão dela. Para não falar do abraço nos filmes de terror. Os domingos eram longas e intermináveis horas de tédio, sem ele para sugerir um programa pra passar o tempo. O resultado era que ela largou os filmes de romance. E logo, os de terror também. Ela queria ter inventado uma forma de largar o domingo, e fazer fortuna, já que “domingos” estavam longe de ser um problema só dela.
Ele ainda mandava mensagens. Uma ou outra. De vez em quando. “Como ela ta?”, perguntava. Tudo bem, ela respondia. Ótima. Ela nem lembrava como era estar ótima, isso é mesmo uma emoção? Mas tudo bem. Ele não precisava saber a verdade.
Ela chorou quando ele foi embora. Não muito. Tudo foi tão de repente naqueles dias confusos. Ela achava uma besteira chorar por causa disso. Relacionamentos terminam o tempo todo, e não foi toda revista feminina que disse que ela deveria se por em primeiro lugar? Ela fingia que se colocava. Vai que um dia, fingindo bastante, ela mesma não acabava acreditando.
“Você tá bem?” mais uma vez, num dia qualquer, que ela cismou que queria andar de bicicleta no parque. Ela cismava com cada vez mais coisas. Pintar a parede de amarelo, aprender a desenhar, dirigir até Alfenas pra encontrar a tia que sempre pediu uma visita. No dia qualquer da bicicleta, ela lembrou que não tinha fôlego pra andar de bicicleta. Estava sentada num banco, com uma latinha de refrigerante, a bike esquecida, as rodas girando tristes, lamentando o sedentarismo de sua pilota. E ela respondeu: "Não".
Percebeu que mentir cansava mais do que pedalar. “Não, não estou bem.Mas vou ficar. Não precisa se preocupar”. Ele respondeu que tudo bem. Ele tinha uma calma que ela admirava. Ela chorou a falta dele, de verdade aquela noite.
Ela lembrou que adorava filme romântico. E mais ainda filme de terror. Comprou um ursinho pra poder abraçar. Começou a sair com as amigas de domingo, elas sempre tinham ótimas ideias do que fazer para passar o tempo. Ela cismou que queria cortar o cabelo, não por nada, só porque ficava melhor assim. Ele disse que ela estava linda, ela agradeceu. E só.
Lembrou que achava besteira chorar. Que besteira. Parou de se esconder atrás da máscara de “tudo bem”. E aconteceu assim. Ela ficou calma também. De repente, num dia claro, ela esqueceu. Não ele, nem o amor. Mas a falta.
Sem nem perceber, ou precisar fingir, ela enfim se pôs em primeiro lugar.
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