Em meu último texto escrevi sobre a simbologia de Áries, em seu aspecto de competição, força e luta. Hoje passarei ao segundo dos três signos de fogo do Zodíaco: Leão.
Tratarei neste texto não das características dos nascidos sob o signo de Leão, mas, antes, da simbologia de tal signo, isto é, dos ensinamentos de vida representados pelos atributos que a Astrologia associa ao citado signo zodiacal.
Leão é o quinto signo do Zodíaco e o segundo da tríade dos signos de Fogo. Nas palavras da grande astróloga Liz Greene, “no nível psicológico, o elemento Fogo simboliza o poder da imaginação – caótico, sem forma, mas detentor de uma potência inigualável -, que oferece àqueles preparados para trabalhar com ele o poder de gerar a realidade a partir do eu interior” .
Portanto, tal como Áries e Sagitário (os outros 2 signos de fogo), Leão simboliza a necessidade de autoexpressão e poder sobre si mesmo inerentes ao elemento Fogo. Contudo, diferentemente do primeiro estágio do Fogo, representado pela simbologia de Áries, Leão indica que não basta marcarmos nossa presença no mundo e lutarmos com firmeza para nos impormos, é preciso que encontremos dentro de nós nossas verdadeiras vocações e anseios e consigamos expressá-las no mundo. É preciso “poder gerar a realidade a partir do eu interior”, deixando uma marca no mundo. E, para tanto, precisamos aprender o que o grande felino tem a nos ensinar: amor-próprio e autoestima.
Nota-se que, enquanto Áries é regido pelo Deus Marte (senhor da guerra), Leão é um filho do Sol. O arquétipo do Sol está presente desde as civilizações antigas e pode ser explicado da seguinte forma:
“O impiedoso intelecto solar expõe de um modo invulgar a ideia ou intuição criativa que germina a partir de raízes na escuridão; ou que, ardendo em amor-próprio, vorazmente demanda a sua ânsia ilimitada por conhecimento. (...) O Sol alquímico transportava, como contraparte física, uma amálgama de energias. Por um lado, Sol é a brilhante vida num dia da psique bem como a substância activa sulfúrica que a compele para objetivos específicos. Enquanto o Rei Sol representa a autoridade de princípios específicos que coroam a consciência; enquanto rei doente, o declínio e a desintegração desses princípios.”
Assim, mais do que firmar sua presença no mundo (atributo da simbologia de Áries), Leão simboliza a nossa necessidade de nos expressarmos como alguém único nesse universo. Está bastante ligado ao ego e à nossa necessidade de autoridade, respeito, aceitação e amor.
Aprofundando a questão, a simbologia do Sol e Leão significa que devemos encontrar a autoridade dentro de nós mesmos, a partir do desenvolvimento do amor-próprio e de princípios de honra, brio, dignidade e generosidade (lembre-se que o Sol derrama sua luz a todos, indistintamente).
Enquanto não desenvolvemos essas capacidades internas, acabamos por buscar aplauso externo e respeito como um fim em si mesmos, de modo que trilhamos nossa vida de acordo com o que acreditamos que os outros (incluindo a sociedade) esperam de nós, ao invés de encontrarmos meios criativos de buscar nossa própria realização interior.
Essa busca incansável tem enriquecido bastante a indústria de antidepressivos. É preciso que todos tenham um pai interno capaz de dar autoconfiança, força e autoridade para que tomemos nossas próprias decisões e sejamos, de fato, quem nascemos para ser. A única aprovação verdadeiramente satisfatória é a desse pai/rei/Sol interno; o aplauso externo é a consequência de uma ação genuína no mundo a partir dessa dignidade que vem de dentro.
O grande alerta que essa simbologia do Leão, do Sol e do Fogo nos traz é que, se não pautados pelos princípios de honra, brio, dignidade e generosidade, essa força ígnea interior queima e se torna o “rei doente”.
Esclareço. Como estamos aqui no domínio do ego, do amor-próprio e do exercício de autoridade, todos corremos sério risco de nos tornarmos arrogantes ou pretensiosos, subestimando os outros e nos superestimando (a área da vida em que isso tende a se manifestar vai depender da casa do mapa natal ocupada pelo signo de Leão). O “rei doente” se traduz no parceiro muito ciumento, no chefe autoritário, na pessoa insegura e que se protege diminuindo os outros, no egoísta/individualista, no ditador, na celebridade sem conteúdo.
Essa lição não vem apenas da Astrologia, podendo ser encontrada no mito de Apolo, na Grécia Antiga, ao qual o signo de Leão é associado.
Segundo tal mito, existia uma enorme serpente que assombrava os povos, cujo nome era Píton. Tal serpente se escondeu nas cavernas do Monte Parnaso, e Apolo, com sua coragem, foi até lá e a matou com uma de suas flechas, libertando toda a gente daquele monstro. Pouco depois, Apolo percebeu que um menino brincava com o arco e flecha utilizados recentemente para matar Píton.
Indignado, Apolo ralhou com o garoto, dizendo que aquela era uma arma de heróis e que o pequeno deveria se limitar a brincar com as suas próprias flechas de criança. Acontece que o referido garoto era Cupido. Não satisfeito com a arrogância de Apolo, Cupido, que possuía dois tipos de flecha, uma que enche o coração de amor e a outra que enche o coração de repúdio ao amor, acertou Apolo com a primeira flecha e a ninfa Dafne com a segunda.
Apolo então se apaixonou perdidamente por Dafne, mas ela repudiava seu amor, desejando ser solteira para sempre. E, quando Apolo conseguiu pegá-la em seus braços, Dafne clamou a seu pai, que a transformou em uma árvore de louro. A partir daí, as folhas do louro passaram a ser usadas por Apolo em sua coroa.
Vejam que Apolo ia muito bem ao usar sua coragem em favor dos povos e matar a Píton, tal qual a generosidade revestida de sentimento protecionista de Leão são capazes de fazer (psicologicamente, a morte da Píton também significa a capacidade de se desvencilhar de medos e bloqueios do passado). No entanto, Apolo cava a sua própria cova quando se deixa dominar pelo excesso de autoconfiança e passa a agir com arrogância em relação ao Cupido, superestimando seu arco e flecha utilizados para realizar o feito heroico e subestimando as capacidades do Cupido.
Como consequência, Apolo ficou preso à busca de um amor inalcançável; encerrado tal qual Narciso em seu amor, que impediu a entrada do tão almejado amor dos outros.
Essa história ensina que o orgulho e a arrogância são a nossa ruína e impedem que recebamos o amor e reconhecimento genuínos que tanto buscamos. Tais recompensas devem ser merecidas. Não basta agir heroicamente, é preciso ser humilde, no sentido de não subjugar ninguém.
Sob o ponto de vista da Astrologia, a grande saída desse dilema está no signo oposto e complementar a Leão: Aquário. Mais uma vez, oposto a um signo de fogo (portanto, ligado aos impulsos, à força criativa e da geração) está um signo de ar, associado ao uso da razão.
Aquário ensina que toda autoridade que pretendamos exercer deve ser feita com a observância das necessidades coletivas, que toda criação e autoafirmação representadas por Leão devem ser precedidas de um olhar consciente e impessoal de si mesmo e do ambiente ao redor, de modo que a necessidade dos outros também seja ouvida. Em suma, Aquário ensina que aqueles que pretendem reinar e serem heróis devem, antes, fazer uma autoanálise impessoal e contrapor seus anseios às necessidades coletivas. Curiosamente, a Astrologia pretende revelar que para que o “eu” possa se expressar positivamente no mundo como um sujeito único, digno de respeito, reconhecimento e amor, é necessário que a coletividade seja observada, pois ninguém reina só.
No eixo Áries-Libra o dilema estava entre o “eu” e o “nós”, em uma representação de relações mais pessoais. Já o eixo Leão-Aquário contempla um estágio mais avançado na simbologia do desenvolvimento humano, no qual o “eu” é contraposto à toda a coletividade, à sociedade. Aqui esse “eu” não deseja apenas existir e se proteger, ele deseja “ser alguém único” e influenciar uma grande gama de pessoas, deseja transformar o mundo por meio da manifestação de sua personalidade, aqui o “eu” anseia por se expressar, mas, para tanto, precisa ouvir a plateia.
Se, de um lado, esse “eu” não pode sucumbir aos anseios de terceiros, nem se deixar manipular, isto é, precisa matar a Píton símbolo dos medos e bloqueios do passado, por outro lado, precisa encontrar uma forma inteligente de desenvolver a sua individualidade, autoexpressão e autoridade, de modo a atender às necessidades (não caprichos) da coletividade. Somente com o uso da razão e conhecimento técnico/cultural aquariano é possível ao nosso lado leonino se expressar com sucesso. É com a combinação da lógica impessoal aquariana com o amor-próprio e coragem leoninos que o indivíduo consegue desenvolver uma individualidade em sua expressão, sem, contudo, ser individualista.
Essa necessidade de assumir o comando sobre nós mesmos e caminhar para o nosso destino também é representada no mito de Apolo.
Sabe-se que Apolo também simbolizava o dom humano da previsão do futuro. A grande chave dessa previsão, contudo, não está em desvendar fatalismos, ao contrário, em seu templo de Delfos, havia uma inscrição na porta que dizia: “conhece-te a ti mesmo”. Assim, Leão vem nos ensinar que a nossa personalidade é o nosso destino. E, sem a impessoalidade de Aquário, não é possível nos conhecer de fato nem caminhar para um futuro mais próspero. Um olhar narcisista de si mesmo nos leva ao destino da flecha do Cupido que nos impede de receber o amor que buscamos.
É por meio desse sistema interno de freios e contrapesos simbolizado por esses dois signos que os pilares do que hoje é chamado liderança são construídos. A diferença do chefe autoritário ou de um ditador para um líder a quem as pessoas devotam respeito e reconhecimento espontaneamente está justamente no uso de uma lógica impessoal, capaz de adotar os princípios de fraternidade, igualdade e liberdade simbolizadas por Aquário, associadas com a autoconfiança, amor-próprio, disciplina e espírito digno, criativo e generoso de Leão.
No fim, um líder é alguém que fez um sério trabalho interno de desenvolvimento de amor-próprio, autoconfiança e criatividade, a partir de um olhar impessoal e racional de si mesmo e conseguiu externar isso se atentando às necessidades daqueles ao seu redor.
Liderança não é meramente um conjunto de posturas escrito em uma cartilha. É resultado de um trabalho de autoconhecimento muito sério, que demanda coragem e um olhar impessoal sobre si mesmo, a fim de que essas posturas deixem de ser marketing empresarial e passem a ser uma realidade genuína. Afinal, nenhum personagem dura muito.
Em suma, àqueles que desejam tomar as rédeas de seus destinos ou mesmo exercer posição de liderança ou, ainda, buscam por mecanismos internos em suas empresas para cultivar uma cultura de liderança, vale refletir sobre esse eixo zodiacal Leão – Aquário, pois é na análise arquétipa desse eixo que a Astrologia ensina que do equilíbrio entre o amor-próprio e a impessoalidade, a liberdade e a autoridade, a igualdade e a distinção, a fraternidade e a firmeza, a lógica e a paixão, nasce a liderança e as grandes realizações daí oriundas.
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