Aproveitando o clima das Olimpíadas, decidi escrever sobre competição, o que implica analisar o uso da força, já que ninguém compete sem aplicar certa força e agressividade. O leitor deve se questionar: mas por que razão uma astróloga escreveria sobre competição, pensei que fosse ler aqui algo sobre Astrologia. E você lerá, caro leitor, nas linhas que seguem.
A Astrologia trabalha com uma linguagem simbólica, de modo que o estudo sobre o Zodíaco, seus signos, casas e planetas regentes, antes de dizer algo sobre cada um de nós individualmente considerado, nos brinda com incontáveis lições de vida, que falam de todos nós enquanto humanos.
O primeiro signo do Zodíaco é Áries, regido pelo planeta Marte. Na mitologia romana, Marte era o Deus da guerra (na mitologia grega, seu nome era Ares).
Áries, o primeiro signo, desponta na primavera do hemisfério norte, necessitando de muita coragem, assertividade e firmeza para romper a terra e nascer.
Vocês já tiveram a oportunidade de observar a força que um bebê faz para nascer; que uma borboleta faz para sair do casulo; o quão forte a pequena plantinha precisa ser para romper o asfalto ou a terra e nascer? Pois bem, para nascer para a vida e sobreviver nela é preciso força, coragem, firmeza e certa agressividade.
Portanto, essa é uma característica inerente à nossa condição humana, a questão é: como utilizá-la.
De início, vale destacar que força, agressividade e necessidade de competição não significam, necessariamente, violência, nem destruição.
Ao contrário, a simbologia de Áries vem ensinar que é possível o uso da força, da agressividade, da competitividade de maneira positiva.
Mas como isso seria possível, na prática?
A resposta é simples: através do equilíbrio das forças de Áries e de seu signo oposto/complementar, Libra.
Com efeito, os signos opostos operam entre si por meio de um sistema de freios e contrapesos, nos mostrando a necessidade de equilíbrio entre dois lados, muitas vezes aparentemente extremos e incompatíveis em relação um ao outro.
Libra, o sétimo signo, inicia o ciclo de signos do Zodíaco onde o “eu” passa a se relacionar com o outro, a fim de que possa surgir um “nós”. E, como vimos, o primeiro nível da nossa manifestação como humanos, simbolizado por Áries, é o uso da força para nos impormos enquanto indivíduos neste mundo.
Ocorre que, sem o equilíbrio dessa força com a energia de Libra, a competição vira predação; a agressividade se torna violência e a coragem se expressa como abuso de poder.
Dito de outra forma, sim, em oposição ao signo da competição, da força e da guerra está o signo da justiça e do equilíbrio, regido pela doce Vênus, a Deusa do amor e da beleza.
Aliás, na mitologia, do casamento de Marte e Vênus nasceu a Harmonia. Essa simbologia ensina que do equilíbrio entre a batalha e o amor; a força e a diplomacia; a espada e a balança; o “eu” e o “nós”, é que nasce a harmonia.
Dessa forma, para que seja possível conviver com os outros, nosso lado Áries precisa da simbologia de Libra, que nos ensina que, antes de usarmos toda a agressividade e força devemos nos colocar no lugar do outro e ponderar acerca dos efeitos que o uso dessa força terá. A partir daí, devemos nos fazer as seguintes perguntas:
O uso dessa força é necessário?
Os meios que pretendo utilizar para manifestação de minha força e agressividade são adequados?
Em relação àquilo que entendo que me levou a considerar agir dessa forma, o uso da força pretendida é proporcional?
Veja que essas perguntas nada mais são do que as três facetas do princípio jurídico da proporcionalidade, tão aclamado no Direito Administrativo e Penal. A ideia de ponderação para a convivência é milenar e vem representada de diversas formas e por meio de diferentes linguagens em muitas civilizações. A diferença é que, no momento em que esse princípio torna-se jurídico, passa a ser mandatório e pode dar a equivocada ideia de ser algo a ser aplicado apenas por autoridades, e não por cada um de nós rotineiramente.
No entanto, muito antes de ser jurídica, a ideia de colocar-se no lugar do outro e ponderar nossas ações é condição à nossa própria existência. Afinal, sem essa ponderação, corremos o risco de nos destruirmos. Lembre-se que a força que o bebê ou a planta fazem para nascer não destrói a mãe nem a terra, muito pelo contrário.
Nesse sentido, por meio da simbologia do signo de Libra, representado por uma balança de dois pratos equilibrada, a Astrologia nos ensina que essa ponderação entre o “eu” e o “nós” é diária, uma busca constante que depende da auto-observação cotidiana em relação a cada gesto nosso. É por meio dessa ponderação, guiada pela razão (o fiel da balança), que a justiça que buscamos para nós e para a sociedade em que vivemos pode ser efetivamente alcançada.
Ora, o espírito olímpico nada mais é do que o uso da força e da garra em uma competição (Áries) com espírito de união, de justiça e de convivência harmônica (Libra). Tanto é assim que qualquer forma de trapaça ou de competição predatória é repudiada pelo Comitê Olímpico Internacional (recentemente, nos jogos olímpicos, foi desclassificada uma nadadora que colocou seu braço sobre a nuca da concorrente para evitar que essa última batesse a mão na linha de chegada antes dela).
Diante do quanto exposto acima, temos que, independente de qual linguagem simbólica se pretenda utilizar (aqui utilizo a Astrologia), entender que o importante é que todos nós tenhamos a disciplina diária de aplicar a ponderação entre o “eu” e o “nós” em cada gesto, a fim de que possamos, pela somatória do esforço pessoal de cada um nesse sentido, dar à luz a harmonia social que tanto buscamos. Tal harmonia não virá de fora, não virá de cima, depende da ação individual (Áries) em busca da convivência social (Libra).
Em suma, o eixo do Zodíaco representado por Áries e Libra (ou, utilizando outras linguagens: o casamento mitológico de Marte e Vênus e o princípio jurídico da proporcionalidade) é um chamado para repensarmos nossas atitudes no trabalho, com os amigos, na rua, enfim, na vida. Afinal, como tenho exercido meu espírito competitivo/agressivo? A pergunta e a resposta são diárias e eternas enquanto estivermos na condição humana.
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