Acabo de acordar com mais um refluxo. Assim, no meio da noite. Convivo com eles há alguns anos e, sinceramente, estou começando a pensar seriamente na cirurgia que talvez conserte isso. Mas o problema é que tudo tem um lado emocional e, pensando deitada com a cabeça alta demais no travesseiro, pela enésima vez, eu comecei a pensar nos meus motivos.
Sinto uma solidão incrível nesses momentos. Dá medo. Medo de morrer, medo de ninguém saber que estou morta, até que a fome do meu cachorro seja tão grande que coma meu corpo morto. Dá medo de não ter ninguém para segurar a minha mão e dizer que está tudo bem ou de simplesmente estar ali, do meu lado, se a minha hora realmente chegar. Dramático, eu sei. Mas real.
Deixei que a minha mente trouxesse os últimos acontecimentos da minha vida. O medo da solidão, da loucura. O medo de ser uma pessoa quase insuportável para as outras pessoas. O medo dessa solidão ser o sintoma de uma causa.
Pensei na amiga que não quis conversar sobre um assunto sério. Achou melhor simplesmente jogar uma bomba e sair correndo, em detrimento de anos de amizade. Pensei em outras amizades que já se foram, mas que de alguma forma eu insisti. Pensei no ex namorado, que eu ainda amo, e que por isso mesmo nunca fui sincera o suficiente, tentando fazer jogos para que não me deixasse mais sozinha. Pensei na irmã, recém separada pela segunda vez, que não “precisa” da minha ajuda. Pensei em quem quer ficar do meu lado, mas a história de vida torna isso impossível. Pensei nos encontros e desencontros, às 3 horas da manhã.
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Sentei e escrevi uma carta para cada pessoa que passou pela minha vida. Carta para a pessoa que eu prefiro me afastar. Carta para a pessoa que eu quero que volte. Fiz escolhas, mesmo que essas cartas nunca cheguem aos destinatários ou, o mais provável, nunca sejam realmente entendidas por eles. Escrevi tudo. Escrevi o que doeu, o que dói. Escrevi o que eu penso, o que eu sinto. E não sei se as pessoas realmente entendem o que é ser eu. Mas eu sei que, olhando de fora, parece mais divertido do que realmente é.
Convivo com a solidão e gosto dela. Mas ninguém é uma ilha e, por mais que eu tenha sido isolada na escola ou na minha casa, não posso mais lidar com isso. A maneira mais fácil de nos conhecermos é ter relacionamentos e eu sei que neguei isso. Eu sei que nego.
Eu sei que tenho dificuldades em falar o que sinto e que tenho medo de que, se as pessoas souberem, eu acabe sofrendo. Tenho medo, o tempo todo, de ser meio general como foi a minha mãe comigo ou até ausente demais, como foi o meu pai na infância. Tenho medo de ser omissa e de só pensar em mim mesma. Tenho medo de dar chances às pessoas erradas, mesmo que meu coração clame por aquilo. Tenho medo das pessoas usarem de maneira errada o que eu falo ou o que eu escrevo. Tenho medo de ter medo dessas coisas todas.
Então, vou optar pela sinceridade. Mesmo que ela pareça um pouco “sinceridade” em alguns momentos. Na realidade, existe um ponto de equilíbrio. Existe um ponto em saber o que é necessário e o que não é, e eu ainda não sei direito. Já perdi pessoas por ser sincera. Já ganhei pessoas por ser assim. Não existe certo ou errado e só vamos mesmo saber depois de fazer. Mas a verdade é que para jogar o jogo da vida, infelizmente, só se aprende fazendo.
Mas, pelo menos, isso vai evitar os refluxos às 3 horas da manhã. Os ataques à geladeira antes de dormir ou a sensação de que eu precisaria estar fazendo mais. Posso mostrar que reconheço meus erros, mas que entendo os erros dos outros também. Não tenho obrigação de acertar sempre, mas preciso que as pessoas tenham a coragem de apontar os meus erros também. Ninguém é uma ilha e eu, sinceramente, estou bem cansada de viver isolada na minha.
Torçam por mim. Espero mesmo que dê certo.
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