Fugimos do sofrimento e almejamos a felicidade. Por mais que essa afirmação represente algo positivo, ela em si é uma armadilha, se nos comportarmos apenas dessa forma. Confuso? Calma, eu explico.
A felicidade não está apenas nos momentos agradáveis e de grande prazer. Ela também habita os momentos difíceis e de grande obstáculo. Neste texto, quero falar sobre como podemos ter acesso ao sentimento de bem-estar, mesmo em momentos de grandes dificuldades, sejam eles quais forem.
Para além do “gosto ou não gosto”
Precisamos ter em mente uma grande verdade universal: as coisas são impermanentes. Nada dura para sempre. Todas as coisas têm um início, meio e um fim. Então, todas as coisas – sejam boas ou ruins – não duram para sempre. Situações favoráveis e desfavoráveis acontecem o tempo todo em nossa vida. Por mais sólidas que as coisas pareçam, basta que um tempo se passe para que a mudança ocorra.
O problema acontece quando pensamos que as coisas não mudam e achamos que tudo é fixo. Acreditamos que, se todas as coisas forem de determinada maneira, seremos felizes. Essa expectativa nos gera sofrimento, pois basta que a mudança ocorra para que nos cause sofrimento.
Dificilmente todas as circunstâncias estarão favoráveis o tempo todo para que sejamos felizes. Isso é uma expectativa que é impossível de ser suprida. Mesmo assim, achamos que, se o trabalho melhorar, que se tivermos a casa ideal, o relacionamento ideal, tudo estará resolvido.
A forma como nos movimentamos no meio disso é que faz a diferença entre a felicidade e o sofrimento. Se andamos como uma criança, sendo atraídos por aquilo de que gostamos e tendo repulsa por aquilo de que não gostamos, criamos o sofrimento sem nem percebermos.
Agimos como crianças que querem afastar situações desconfortáveis, sem nos darmos conta de que elas servem para nos amadurecer. Sempre fugindo do que é desfavorável. Mas, na verdade, as dificuldades não servem para nos atrapalhar, e sim para que cresçamos mental e emocionalmente. Esse amadurecimento psicológico só é possível quando encaramos nossas perturbações.
Veja três coisas que deixam cada signo feliz!
Criamos, dessa forma, um outro olhar sobre nossos problemas. Por exemplo, se uma pessoa se irrita quando alguém vai contra suas ideias, pode muito bem fugir de qualquer situação igual a essa. Mas se ela começa a praticar para lidar com sua emoção e entender melhor de onde vem essa raiva, verá esse momento em que a raiva surge como uma oportunidade de praticar.
Mudamos e saímos do aspecto do “gosto ou não gosto”. A pessoa continua achando ruim ser contrariada, mas agora vê como uma oportunidade de entender por que isso a irrita tanto. Ocorre um amadurecimento e uma percepção de que há algo para além do “gosto ou não gosto”.
Ao sairmos do aspecto de “gosto ou não gosto”, podemos cair em outra armadilha: a do “primeiro eu”. Essa armadilha nos cega tanto que não conseguimos ver o quanto isso nos coloca em problemas. A depressão, por exemplo, para a Psicanálise, é o excesso de eu. A pessoa fica tão centrada em sua dor que não consegue enxergar os outros, nem uma saída para sua dor.
Em uma visão da Psicologia oriental, a pessoa não percebe que os outros sofrem e que possui dentro de si a capacidade de ofertar auxílio e uma riqueza de sabedorias, que podem ajudar os outros.
A saída para essa armadilha é considerar que a felicidade não é construída de maneira isolada, mas no contato com as pessoas. Martin Seligman, psicólogo que escreveu o livro “Florescer”, relata que um dos 5 grandes fatores para o bem-estar é construir boas relações. São essas relações que irão nos fazer sair de nosso autocentramento e entendermos que somente no contato com o outro é que a felicidade aparecerá.
“Gosto ou não gosto”: saindo da fixação
O sofrimento é uma forma de olhar para a situação. Se olhamos com o olho de “gosto ou não gosto”, criamos uma limitação de ação perante a situação. Agimos sempre da mesma forma, sem liberdade de escolha, presos sempre na repetição de ações e respostas.
Se ficamos tristes com determinada situação e não mudamos nosso olhar para ela, perderemos a oportunidade de amadurecer e aprender com ela. Precisamos desenvolver um novo olhar. Um olhar que não seja o do gostar e não gostar. Mas sim um olhar de ver as situações como fonte de amadurecimento, de nosso crescimento pessoal.
Aprender com cada situação e olhar como um aprendiz, que vê nos problemas a oportunidade de desenvolver-se. Isso é amadurecer.
Em momentos difíceis que o mundo vive, precisamos de pessoas adultas, que não temam o momento desfavorável e que vejam nisso uma grande oportunidade de crescer e se desenvolver no auxílio ao outro.
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