Uma vez atendi uma moça que tinha sérios problemas com compras. Ela estava perigosamente endividada, cheia de cartões estourados, mas não conseguia parar de comprar. Tinha uma ansiedade incrível, maltratada, que repercutia nesse hábito nocivo. No final, conseguimos mudar as coisas com resoluções simples.
O que ela sempre dizia é que tinha bom gosto e, por isso, não conseguia parar de gastar. Quando via uma bolsa ou um sapato bonito, sabia que era a sua cara, e não conseguia deixar na loja mesmo que já tivesse outros pares ou outras bolsas semelhantes. Sim, eu a entendia. Modéstia à parte também tenho um gosto refinado. E fui entender o que diabos era isso.
Bom gosto é um senso. Como o senso de direção, senso de estilo ou de moda. Sensos são coisas, sempre, da alma. O que acontecia é que o senso estético dela era impressionante. A alma dela era sim glamurosa, e isso se refletia no hábito de fazer compras. E agora? Realmente você tem um senso estético incrível, mas não uma conta bancária que banque. O que fazer?
Primeiro, o senso é da alma, é do espírito. Não tem nada a ver com ego. E aí é que estava a confusão. O ego quer! Quer ter no armário, quer que seja meu. Quer que só eu tenha direito àquele glamour. Quer que eu seja vista, olhada, analisada e julgada positivamente pelas pessoas. Isso é um perigo real, porque passa de “pessoa com bom senso” a “pessoa sem noção” em minutos.
É preciso cuidado com isso. Cuidado com o que o espírito, que é riquíssimo em essência, deseja e as desculpas que usamos para isso. Responsabilizar o seu senso estético ou a abundância do Universo para não fazer uma planilha de gastos, por exemplo, não é usar a inteligência aliada ao seu senso, ao seu glamour.
Então, qual é a solução? Continue glamurosa, com inteligência. Analise quais tendências de moda realmente têm a ver com você. Veja e pense no que vale a pena investir e não use as compras como uma maneira de se sentir menos frustrada ou ansiosa. Se você sente isso, precisa trabalhar isso, saber de onde vem. Continue sim, sendo linda. Continue usando maquiagem e arrumando o seu cabelo, mas adeque a sua realidade. Ser loira é caro, por exemplo. Ou você arruma uma maneira de baratear isso ou desista e invista num lindo castanho acobreado, por exemplo.
Também saiba que a beleza do mundo continuará lá. Mesmo que você não tenha aquele sapato no seu armário, mesmo que aquela blusinha (como amamos mais uma blusinha, não?) não seja sua, ainda assim ela é a sua cara. Ainda assim ela estará embelezando o mundo e outras pessoas. Veja na vitrine, ache linda, dê gritinhos de alegria por aquilo existir e vá embora. Entenda que existem outras belas coisas no mundo que também nos fazem felizes, somente por existirem.
E, melhor de tudo, use a inteligência para tudo. Na hora de se vestir, na hora de escolher o “seu” perfume (aquele cheiro só seu). Na hora de usar alguma coisa que é a sua cara, de verdade. Sinta isso na sua alma, o que realmente se parece com você. Não compre porque a amiga tem ou porque saiu na revista. Recorte, das suas revistas favoritas, aquelas imagens que são a sua cara e deleite-se em todas. Assim você vai apurar o seu senso estético ainda mais, e ainda vai poder escolher, de verdade.
Escolha sempre o seu glamour, mas com paz no seu espírito. E nas suas contas, claro. Sempre.
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