A moça estava com um lindo sobretudo laranja, num frio de inverno em São Paulo. Eu, na fila de uma cafeteria, achei o casaco lindo e continuei vivendo a minha vida. Na minha frente, um casal conversava.
Ele falou: “Nossa, olha aquele casaco da mulher. Ela está fluorescente. Está querendo aparecer mesmo” e ela “Para de julgar a mulher, o casaco é bonito”. No que ele responde: “Eu não estou julgando. Estou só comentando”. Ai gente, como é comum a gente se justificar das porcarias que fazemos falando isso, né?
Meu amor, você achou que ela só queria chamar a atenção com o casaco, comentou isso em voz alta e diz que foi só um comentário? Não, foi um julgamento. Completo. Você a acusou, julgou e condenou “mulher que só quer chamar a atenção”.
Fazemos isso o tempo todo, e em muitos casos julgar é útil. Você precisa de elementos para viver. Se contrata um pedreiro para arrumar a sua casa e nunca o viu antes, vai julgá-lo. Vai analisar a maneira que se veste, como ele fala. Vai perceber se ele sabe do que está falando quando diz que vai quebrar o seu banheiro todo por conta de um vazamento.
Não vai querer colocar a sua casa nas mãos de alguém que não saiba o que está fazendo.
Mas o problema é que usamos isso demais, e o tempo todo, e com assuntos que não nos interessam ou mudariam a nossa vida e depois chamamos isso de comentários.
A vida dele não mudou porque a mulher estava usando um casaco laranja, mas ele se melindrou com o fato. Talvez o sonho dele fosse ser alguém que chamasse a atenção, mas não consegue, então, julga quem o faz. Talvez não, deve ser isso mesmo.
Quando se pegar “comentando” algo, se perceba. Veja o que de fato aquilo quer dizer. Freud tem uma frase muito boa e que devemos estar atentos:
“Quando Pedro me fala de Paulo, eu sei mais sobre Pedro do que sobre Paulo”.
Essa frase norteia a minha vida, principalmente quando os tais julgamentos são contra a minha própria pessoa. Aí sim, podemos perceber os nossos próprios julgamentos e corrigir essa rota de colisão com o mundo.
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