Sonhei que estava subindo uma espiral de pedra, como aquelas coisas que só existem em Machu Picchu (apesar de eu não ter visto nada assim por lá quando tive o privilégio de visitar). Eu subia e, conforme ia subindo,
formigas começavam a cair em cima de mim. Elas estavam por todos os lados, eram grandes. Eu sabia que não eram perigosas, elas só enchiam o saco na minha subida. Como eu não sabia o que uma formiga poderia ser, recorri ao meu sagrado livro de interpretação de sonhos. Não é um livro comum, como aqueles que compramos nas bancas de revistas, é um livro com a interpretação junguiana e metafísica. E lá dizia “(...) dependendo do contexto, pode ser um aborrecimento, tal como deixar que as coisas o incomodem” (SIC).
Pois bem, primeiro uma explicação. Mesmo neste livro, nem tudo vai encaixar com o seu sonho. Mas quando você ler alguma coisa que faça sentido, vai sentir que é aquilo e, no meu caso, a frase acima faz sentido.
Eu estava mesmo deixando as formigas tomarem conta da minha vida. Não estava aproveitando as coisas, o dia, os detalhes. Não estava em mim. O estresse, os problemas e a minha eterna dor no corpo estavam me tirando de mim e aí, meu bem, qualquer coisa entra e faz o maior estrago.
Começam a pipocar problemas que, na verdade, não são problemas reais. Alguém que cisma com você, as fechadas no trânsito. O banco que não para de ligar para te avisar que estão te dando mais crédito. A mulher de um seguro que você cotou um dia e que resolveu que você será a próxima cliente dela (mesmo você já tendo seguro). De repente, é como se uma avalanche de pessoas e situações montassem nas nossas costas, querendo mais e mais da gente.
E aí, hoje, dirigindo e vindo para o consultório, vi um homem de uns 70 anos jogando lixo pela janela do carro. E sabemos o tamanho da falta de senso de uma pessoa que (ainda) faz isso. Mas eu resolvi não me preocupar mais, no sentido de não ficar mais irritada com aquilo. Nem com a dupla de “manos” que furou o farol vermelho na minha frente. Nem com a vizinha de cima fazendo um eterna reforma no apartamento (descobri que se ligar uma boa música não escuto a barulheira). Decidi só me focar nas joaninhas.
Em um dos meus filmes prediletos “Sob o Sol da Toscana”, uma personagem conta sua história para a outra. Ela contou que, quando criança, saia para caçar joaninhas. Mas ela nunca conseguia pegá-las. Então um dia ela se cansou e deitou na grama para descansar. Dormiu, e quando acordou estava cheia delas ao redor e em cima dela.
É isso, mais joaninhas e menos formiguinhas. Vamos parar para observar as coisas boas da vida: um café, um homem batendo o martelo para derrubar um muro (pode existir uma linda imagem nisso), uma música maravilhosa (como existem músicas maravilhosas nesse planeta). Ficarmos mais neutros, menos tensos com tudo o que acontece. Abandonar um pouco o nosso lado “herói” ou a guerreira Shena que quer consertar tudo o que está errado no mundo. Não conseguiremos isso, mas conseguiremos coisas boas que simplesmente descansarmos e fizermos a nossa parte.
A minha é melhorar as coisas, o mundo, com a minha energia. Se a sua for reeducar as pessoas a não jogarem lixo pelo carro, abrace uma campanha. Mas faça uma coisa direito e não passe o tempo todo irritado com isso. Procure a sua pequena missão e esqueça o resto. Não dá para dar conta de tudo, nem se irritar com os mínimos detalhes. Como diz o título deste artigo: mais joaninhas e menos formiguinhas.
*(“A chave dos sonhos” de Betty Bethards) – você encontra em Sebos ou no www.estantevirtual.com.br
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