Ganhei um livrinho de uma amiga. É uma espécie de diário. Lá, você responde, todos os dias, a uma pergunta, assim no final de alguns anos, você conseguirá ver como evoluiu – ou não – em seus pensamentos.
A pergunta de hoje é: “o que você gostaria de esquecer?”. Imediatamente, me vieram imagens do meu último relacionamento fracassado. Gostaria de esquecer as coisas pelas quais tive que passar e o medo e trauma que aquilo gerou.
Em seguida, percebi que não sentia mais nada. Não sentia mais raiva, nem medo, nem nada de negativo. Havia entrado em um estado de neutralidade com relação àquela pessoa e as coisas que aconteceram. Eu superei!
Mas meu consultório está cheio de gente, gente cheia de passado. Chegam aqui com uma carga tão grande que mal consigo descobrir quem são. Falam, inúmeras vezes, sobre coisas que lhes aconteceram, como se fosse hoje e, como eu já li em alguma frase de Facebook: “a depressão é o excesso de passado”.
Eu já estive lá. No excesso de passado e na depressão, consequentemente. Já repeti milhões de vezes a mesma história para as amigas. Já falei de pessoas que não via há 15 anos, como se as tivesse conhecido há duas semanas. Já fiquei presa por anos também em histórias das quais eu não queria sair.
Não é não conseguir. É não querer. Só mantemos na memória e na mente aquilo que não queremos que saia. Geralmente, o passado é parte integrante da nossa zona de conforto. É uma zona ruim, na realidade, bem desconfortável, mas que nos mantêm em uma falsa segurança. Ali, nada acontece, nada cresce, eu repito as coisas de novo e de novo e, assim, já sei como lidar. E romper com isso é romper com o passado.
Se você quer conseguir esquecer algo, simplesmente aceite e deixe ir. Pare de se apegar, pare de não querer esquecer. O medo nos prende. Ele nos diz que, se esquecermos, cometeremos os mesmos erros quando, na verdade, só vamos cometer os erros de novo justamente por ainda estarmos conectados ao passado. Não adianta, precisamos querer esse rompimento.
Sim, vai doer. Vai gerar um período de luto. Vai fazer com que as pessoas ao nosso redor nos chamem de esquisitas, para dizer o mínimo, mas vai nos levar para o que queremos de verdade: uma vida digna e plena, sem estar presa ao passado.
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