Recebo muitas clientes com questões de relacionamentos – e dizem por aí que todo terapeuta tem os clientes que merece; então já viram, né? –, principalmente com tentativas frustradas ou relacionamentos que não dão certo. Comecei a avaliar que, na maioria das vezes, as pessoas lidam mal com o fim, o término ou mesmo o fim de uma daquelas histórias que não começaram direito.
O erro mais comum é emendar relacionamentos. Geralmente, como a dor é lancinante, arrumar outra pessoa rápido parece a melhor solução. Não vou dizer que não existam relacionamentos que funcionem assim, mas é complicado.
Sim, existe um período de luto para o final de cada história, e, se não respeitarmos isso, tenderemos a errar de novo, de novo e de novo. E não, não é frescura ou “mimimi” permitir-se viver uma dor.
Geralmente vemos nos filmes a mocinha que é largada, passa um dia em frente à TV tomando sorvete e depois resolve mudar a vida, emagrecendo e arrumando um gato vinte vezes melhor. Sabemos que é filme, mas nada poderia estar mais longe da realidade. Tudo isso acontece rápido demais, fácil demais, e a vida real não é assim.
Quando nos envolvemos com alguém, mesmo que o outro nunca tenha tido as mesmas intenções, criamos uma vida, uma história e planos. Não estou falando sobre fazer isso num segundo encontro, mas uma história que já durou mais de seis meses já tem elementos suficientes de fantasia e, principalmente, expectativa de algum dos lados, ou mesmo dos dois. Então, como acabar com isso, tomar um sorvete e seguir em frente? Difícil, né?
Precisamos usar o tempo para nos entendermos. Para entender do que gostamos, o que queremos e, principalmente, por que estamos repetindo padrões que não queremos mais. “Por que isso se repete na minha vida?” e “Para quê?” são as perguntas, e não “Será que tem volta?”. Às vezes, mudamos, sim, padrões que fazem até o outro voltar mudado, mas não foi ele/ela que mudou, fomos nós. Se não tivermos o tempo para que isso se assente e mude dentro de nós, será complicado entender a coisa toda.
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Nossa mente também precisa de tempo para aceitar. Aceitar que os castelos de areia eram só isso mesmo, areia movediça. Aceitar que aqueles planos não vão acontecer, pelo menos não com aquela pessoa. Será o tempo de pensarmos no que exatamente queremos, em quem exatamente queremos. Que tipo de seres humanos seriam compatíveis com o tipo de vida que realmente queremos. Nesse sentido, o fim e o luto de um relacionamento podem ser extremamente úteis e absurdamente libertadores.
Ainda pode o sorvete, Andrea? Pode, claro. Mas lembre-se de que você não precisa resolver a sua vida amorosa antes de ele derreter. Dê-se um tempo, cheire umas flores, entre na academia, na aula de piano, faça aulas de surfe e paquere por aí. Reviva-se, apaixone-se por si mesma, encha-se de amor e de flores e mude o padrão de pensamentos de dor e sofrimento.
Fazer isso – dar-se o tempo e o luto – é imprescindível para encontrar a verdadeira felicidade. Com ou sem alguém do seu lado!
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